Aos olhos do adulto, as birras infantis têm cara de tempestade em copo d’água. Afinal, alguém grita porque não apertou o botão do elevador, se joga no chão porque não quer calçar o sapato ou se recusa a comer porque não gostou do prato que foi colocado à mesa. Parece muito barulho por pouco. Contudo, para as crianças, este “pouco” pode significar muito.
Por volta dos dois anos, período em que as birras são mais intensas e frequentes, a criança apresenta habilidades que lhe permitem ser mais autônoma e independente – não apenas em suas ações, mas também em seus desejos, vontades e expectativas. No entanto, a maturidade necessária para ela expor o que sente e, em contrapartida, compreender o que é permitido e possível, ainda não foi alcançada.
Sem conseguir verbalizar (ou se fazer entender) o que vivencia, deseja e espera, a criança encontra nos comportamentos birrentos uma maneira de expressar o que ainda não consegue fazer por meio da palavra.
Se os pais ou cuidadores embarcam na birra infantil, dificilmente a situação terá um final bem-sucedido. Nestes momentos, a criança precisa de alguém que reconheça e nomeie o que ela está tentando comunicar. Dizer coisas como “não faça isto”, “que comportamento mais feio”, “menina bonita não se comporta assim”, não minimiza a situação; ao contrário, deixa a criança mais irritada, já que ela ainda não é compreendida.
Para que a criança possa se expressar com mais clareza, é fundamental que ela se sinta acolhida. Sair do ambiente onde a birra acontece ou pegá-la no colo são estratégias de contenção que, normalmente, acalmam-na, permitindo, com isto, o diálogo.
Em algumas situações, há quem recomende desviar a atenção da criança birrenta ou ignorar a birra. Embora estas intervenções por vezes funcionem, a palavra não circula para ajudar a criança na compreensão do que ela sente, quer e é permitido ou possível. Ao invés destas ações, pode-se dizer: “entendi que você quer que eu vá brincar com você, mas agora estou almoçando” ou “tudo bem você ficar brava porque quer comer chocolate antes de almoçar, mas se comer o chocolate, não terá fome para comer sua comida”.
A criança precisa de alguém que fale com ela para que, desde pequenininha, aprenda a se expressar por meio das palavras e não apenas pelo corpo.
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Por Patrícia Leekninh Paione Grinfeld, psicóloga, autora no site Ninguém Cresce Sozinho
Atualizado em 14 de maio de 2024