Nos últimos dias tem saído muitas matérias nos jornais sobre o aumento de parto em casa, adotado por celebridades como Gisele Bündchen e defendido por alguns médicos, mas não recomendado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Para se ter uma ideia, o jornal britânico Daily Mail informou recentemente sobre a morte da australiana Caroline Lovell (36 anos), grande defensora dos partos domiciliares, que morreu em casa, após dar à luz a sua segunda filha, Zahra. Ela teve uma parada cardíaca no último dia 23 de janeiro, em Melbourne. Levada ao hospital, a mulher não resistiu. O bebê sobreviveu, e as parteiras, amigas de Caroline, alegam que a situação é muito rara.
Os grandes defensores do parto domiciliar nos dias de hoje alegam que seria um parto mais natural e com menor chance de uma infecção hospitalar. Isso pode até ser verdade, mas é discutível, e para mim o pior é que nestas situações existem os riscos de complicações tanto obstétricas, como pediátricas.
No século XIX, os riscos de uma infecção puerperal (relativa ao parto) era fato nos hospitais da Europa, até que Semmelweis, um médico da época, passou a recomendar que os profissionais de saúde lavassem as mãos com substâncias antissépticas, o que acabou com a moléstia.
Hoje em dia, um indicador de saúde é morte materna em trabalhos de parto, portanto a assistência ao parto deve ser feita cuidadosamente e o local onde ocorre deve estar preparado para emergências, pois elas, mesmo que raramente, ocorrem e, muitas vezes, podem ser fatais.
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Como pediatra, meu olhar é para o bebê. Existem muitas situações nas quais o recém-nascido pode precisar de um atendimento de emergência e, muitas vezes, ir para uma UTI.
Hospitais com boas práticas quase não têm infecção hospitalar em partos, portanto este medo deveria ser descartado, pois provavelmente deve ser muito menor a chance de uma infecção do que uma emergência perinatal.
Além disso, o Ministério da Saúde, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e a Sociedade Brasileira de Pediatria estabelecem normas para a adequação e segurança do local de dar à luz, já que um parto de baixo risco pode se transformar em alto risco, ameaçando a vida da mulher que está prestes a parir e do bebê. Entre estas recomendações, destaca-se a orientação para a realização do parto em instituição hospitalar com infraestrutura adequada, com a presença de obstetra e pediatra/neonatologista na assistência à mãe e ao recém-nascido.
Como pediatra, sigo a orientação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), e não recomendo parto em casa, a não ser em emergências.
Fontes: Parto domiciliar ganha adeptos, mas ainda enfrenta resistência de médicos e Australiana defensora dos partos domiciliares morre após dar à luz em casa – ESTADÃO.COM.BR
Atualizado em 23 de fevereiro de 2024