Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Ser amiga de Melani…

Ser amiga de Melani…

Ser amiga de Melani…

Tenho uma nova amiga. Ela mora em um hospital, nunca saiu de seu quarto, não fala, nem anda e vive com tubos que a ajudam a viver. Não sei o nome da sua doença, nem as probabilidades que ela tem para sobreviver, não sei termos técnicos que definem sua patologia e tampouco os remédios que toma.

Para a nossa amizade o que interessa é do tamanho de uma semente: tem o tempo de um suspiro profundo e a profundidade de um poço que faz eco quando falamos com ele. Meus olhos olham para seu ser com uma existência com vida, personalidade e humanidade.

Minha amiga não é uma doença ou um diagnóstico.

Ela é uma moça delicada que gosta de conversas e músicas alegres, que fica irritada e sente dor e por isso fica “fula” da vida muitas vezes e com razão, não é fácil sentir dor!

Sua presença é forte, sua energia também, seus olhos grandes são o canal entre o dentro e o fora, é por eles que podemos “mergulhar” na Mel…

Sempre me perguntam: Como é ter uma amiga assim? Como você faz? O que você fala? Como você entende o que ela sente? Você não chora, ou sente dó?

Gente, tem tanta gente no mundo, tanta gente diferente de mim ou de você e isso é tão maravilhoso. Ter amigos é ter a oportunidade de conhecer novos universos, pois somos universos. Explorar novos lugares é encantador, instigante e maravilhoso. Cada mundo com sua beleza, seus problemas, sua geografia, sua natureza, seus costumes etc.

Ter amigos é maravilhoso, quem tem amigo tem tudo!

Me relaciono com ela e isso significa que olho para seu ser, sua poesia de existir, sem expectativas pessoais, pois isso seria injusto com qualquer um. A expectativa tem a ver com os meus desejos, com as minhas vontades e quereres, a outra pessoa não tem nada a ver com isso.

Por isso, olho para a Mel sem expectativas, olho para o que ela é e não para o que eu quero que ela seja. E com esse olhar sincero, não sobra espaço para sentir dó ou vontade de chorar por tristeza. Esse olhar dá a oportunidade para que o outro seja ele mesmo e nos surpreenda com suas potências, que existem e que podemos enxergar.

Mas não confunda “não ter expectativas” com subestimar o outro. Não!

Dar espaço e tempo para que um amigo possa ser ele mesmo é fundamental.

Muitas vezes queremos fazer muitas coisas, falar muito, entreter muito, ensinar muito e pouco sabemos do outro. Como trocar algo com alguém (troca em todos os sentidos), se não damos espaço e oportunidade para ele se expressar, ser, estar?

Ser amiga da Melani faz com que meus óculos para as sutilezas sejam usados com mais frequência e isso é tão poético, de uma riqueza que não cabe nessas palavras.

Tornar visível o invisível, acreditando.

É acreditando nela que nossa amizade se fortalece a cada dia.

Acredito que ela saiba quem eu sou, acredito que me escute, acredito que ela sinta minha energia, acredito que ela responda minhas perguntas, acredito em suas expressões faciais, acredito em seu olhar, acredito em sua condição de viver.

Acredito que ela acredita em mim e em nossa amizade. Acredito nela.

Nunca tive dúvida em relação a ela. E quando me perguntam como é uma amizade dessas, fico até com dificuldade de responder, pois nunca tive essa dúvida.

Apenas somos e estamos naquele momento sendo nós mesmas, verdadeiramente. Cada uma sendo o que pode, o que é, o que tem e o que consegue dar.

É muito legal ter uma amiga com o mesmo nome. E é engraçado termos isso em comum, pois acho que estreita ainda mais nossa amizade. Compartilhar esse nome com ela é bem especial, não sei dizer o porquê. Só sei que algo acontece.

Ser amiga da Melani é uma coisa doce.

Ass.: Melany Kern (Chapeuzinho Vermelho)

Leia também: Um diário para Mélanie

Atualizado em 11 de setembro de 2024

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