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Um diário para Mélanie
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Um diário para Mélanie

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15/01/2016
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Mélanie foi uma menina que morou no Hospital Infantil Sabará por quase 16 anos e faleceu no início de janeiro. “Crianças moradoras “ em hospitais são um fato recorrente e triste. Todos têm pelo menos uma história comovente para contar. Infelizmente, no Sabará, por se tratar de um hospital de referência em pediatria, temos muitas destas histórias.

Mélanie era uma menina que possuía uma encefalopatia crônica devido às sequelas de uma prematuridade e problemas no nascimento. Quando internou no Hospital tinha poucos meses e a família nos procurou por causa de uma hemorragia gástrica.

Nestes 16 anos precisou continuar internada pelos cuidados que recebia para manutenção de sua vida, o que a impedia de ir para casa. Quando cheguei no Sabará, em 2005, haviam cerca de seis pacientes com estas características, mas com esforço das famílias, das operadoras de saúde e dos médicos, conseguimos enviar para tratamento em casa alguns deles, outros faleceram no decorrer destes 10 anos. Agora, com a ida da Mélanie, não resta nenhum “morador “ com tanto tempo de internação.

No dia seguinte à sua morte, fiquei sabendo que o grupo de humanização do Hospital Infantil Sabará havia resolvido fazer um diário para a Mélanie. A história havia iniciado há alguns anos, quando mudamos para o prédio da Av. Angélica e o novo quarto no qual a Mélanie foi internada tinha uma TV. As enfermeiras notaram que, aparentemente, ela gostava de ouvir alguns programas ou músicas, para surpresa de muitos. Assim, a equipe da humanização passou a colocar a Mélanie entre as crianças que deveriam receber visitas dos contadores de história, dos músicos etc.

O passo seguinte foi a idealização de um diário que ficava ao lado do leito. Todos que passavam por ela e faziam alguma atividade, relatavam o que fizeram e sua percepção das reações da Mélanie.

Este diário foi entregue para sua mãe (uma pessoa muito humilde e simples que raramente podia visitá-la) no dia em que veio buscá-la para a cerimônia funerária. Parece que ficou muito emocionada e agradecida por todo o carinho e compaixão que aquelas pessoas desconhecidas tiveram pela sua filha.

Conto esta história pois, como líder da Instituição, busco mostrar a importância da humanização no tratamento das crianças no Hospital Infantil Sabará. Para mim, quando vejo atitudes como esta, que surgem espontaneamente, fico ao mesmo tempo orgulhoso e feliz, pois a humanização, para nós, deixou de ser uma palavra sem significado, um modismo, para se tornar um valor institucional. Parabéns para todo o grupo de humanização.

Para a Mélanie, meu desejo que ela finalmente descanse em paz, e gostaria de agradecê-la por pelo menos esta lição que nos deu e que pode dar um significado a uma vida tão sofrida.

Leia também: O que é humanização?

Atualizado em 29 de agosto de 2024

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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