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Dia 2 de abril é o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo. Cada vez mais ouvimos falar de pessoas com essa condição. Gente anônima e famosa. Será então que a incidência está aumentando? Apesar de muita controvérsia sobre as estatísticas, alguns trabalhos científicos apontam que uma a cada 30 ou 40 crianças pode nascer com o transtorno do espectro autista (TEA). Já a OMS estima algo menos recorrente: um a cada cem nascimentos. O número que ninguém nega é o dos diagnósticos de autismo crescendo exponencialmente nas últimas décadas.
A explicação para isso ocorre basicamente devido a mudança ocorrida no manual de classificação de desordens mentais, o DSM. O DSM-5 é a última versão, lançada em 2013. Na versão anterior, o autismo era subdividido em cinco categorias clínicas, o que dificultava e atrasava o fechamento de um diagnóstico preciso. A diretriz atual normatizou as características globais do transtorno, deixando os critérios mais homogêneos, facilitando a identificação.
Outra novidade foi a inclusão de síndromes, como a de asperger, no rol do autismo. E os sintomas, que antes eram diagnosticados separadamente, agora formam um contínuo único de déficits – de leve a severos – como nos domínios de comunicação, comportamentos restritos e repetitivos. Portanto, não há justificativa para diagnosticá-los de modo desassociado, como acontecia até então.
Com isso, a divulgação das características típicas foi aumentando gradualmente o conhecimento das condições, que antes eram do conhecimento apenas dos profissionais da saúde. Sem falar da disseminação de informações nas redes sociais. E aqui fica um alerta: muito cuidado com as fontes da informação, pois há muita gente sem qualificação (ou lugar de fala, no caso dos autistas youtubers e tiktokers que eu assisto e aplaudo, diga-se) dando palpites sem base científica, ou glamourizando a condição, com exemplos como o de Elon Musk e Greta Thunberg.
Aventureiros à parte, esse conjunto de fatores vem facilitando a suspeita e o consequente diagnóstico em crianças e adultos. Ressalto, infelizmente, que é muito difícil chegar rápido a uma uma criança com conclusão. Normalmente é um processo longo e doloroso para toda a família, por não existir um único exame que confirme definitivamente a condição. A palavra final vem normalmente após um conjunto de avaliações profissionais.
Entretanto, podemos estar mais perto de uma solução prática. Desde 2015, quando passei a atuar junto à ONG Autismo e Realidade, temos nos dedicado a gerar conhecimento sobre o tema. Estamos desenvolvendo pesquisas em parceria com o Ministério da Saúde para o diagnóstico precoce do autismo. Está em fase de testes um modelo simplificado da metodologia atual de detecção (ABA) a ser adotado pelo SUS e, em conjunto à F1PE, um cálculo do custo de uma cesta básica de tratamentos para a família da criança autista. Também foi lançada recentemente uma cartilha atualizada, que está disponível no site da instituição.
Neste mês de conscientização, é importante que pais, cuidadores, professores e profissionais da saúde entendam que o diagnóstico precoce do TEA é importante para melhorar a adaptação da criança ao seu entorno. Quanto mais cedo se identificar, mais tranquilo será o contato com as pessoas ao redor, menor o sofrimento e maiores as chances de conquistar uma vida plena no futuro.
Semanalmente fico sabendo de casos graves de crianças que não têm acesso a um tratamento integrativo. Normalmente filhos de famílias das classes média e baixa, que são ajudadas por igrejas, associações e ONGs parte de sociedade civil organizada tentando suprir a falta que faz um sistema público que enxergue os autistas. Urge pressionar e conscientizar nossos governantes para que tenhamos unidades de saúde mental, escolas e serviço social bem equipados, com profissionais preparados para o atendimento das crianças com TEA e suas famílias.
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