Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Voltando a falar sobre o parto domiciliar e suas consequências

Alguns dias atrás, estive em um fórum da Academia Brasileira de Pediatria e vi uma palestra sobre parto domiciliar. Esse é mais um modismo que precisamos combater pelo risco que traz para as mães e para os bebês.

No Brasil, 98% dos partos são realizados em hospitais e os 2% restantes acontecem, principalmente, na região Norte do país, onde vive uma população indígena muito grande ou o acesso à rede hospitalar é mais difícil. Essas taxas são semelhantes as da Europa e de países desenvolvidos, com raras exceções como a Holanda, onde a taxa é de 16%, mas há cerca de dez anos era 30% e vem caindo anualmente. No Reino Unido, também existe uma tradição e incentivo ao parto domiciliar, mas as taxas estão em torno dos mesmos 2% do Brasil e da Comunidade Europeia, mesmo sendo tolerado e os sistemas de saúde preparados para isso.

Aqui no Brasil, as pessoas que mesmo com acesso a hospitais de ponta que optam por parto domiciliar, o fazem à procura de uma experiência mais humanizada e “natural”, sem ter a ciência dos riscos existentes tanto para as mães quanto para os recém-nascidos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que um parto normal para uma gravidez sem risco deve ser realizado onde a mulher se sentir mais segura. Essa é a recomendação Europeia, que segundo a Europeristat, diz que a maioria das mulheres se sente mais segura nos hospitais. Quando o parto for realizado em casa, deve contar com a assistência de pessoal médico qualificado e estar a uma distância máxima de 20 minutos de um centro hospitalar capaz de receber urgências maternas-infantis.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos relacionam a mortalidade e os problemas e sequelas com recém-nascidos decorrentes do período perinatal mais com o local do nascimento do que com o profissional que realiza o parto (médico, doula ou obstetriz).

Problemas como sangramentos uterinos de difícil controle, intercorrências que necessitam de uma cesárea, anoxia ou sofrimento do feto, parto prolongado, dificuldade na reanimação do recém-nascido e outras intercorrências com necessidade de intervenção médica são algumas situações que acontecem com frequência em todas maternidades do mundo e, por isso, a mortalidade materna é alta no Brasil. A mortalidade perinatal é muito alta também, mesmo para partos que ocorrem no ambiente hospitalar.

Tanto a Sociedade Brasileira de Pediatria como a Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia se posicionam absolutamente contra os partos domiciliares e fazem campanha para que os hospitais e maternidades procurem humanizar suas salas de partos, proporcionando às suas pacientes uma jornada humanizada durante a internação para o nascimento do seu bebê. Isso não se faz com enfeites na parede, mas com atitudes que permeiam toda a equipe de saúde e de atendimento da maternidade, iniciando nas próprias chefias médicas.

Para os hospitais do SUS, bastaria seguir as recomendações do HumanizaSUS, um programa muito bem pensado e que trataria com respeito e humanidade todas as parturientes.

Para diminuir nossas vergonhosas taxas de mortalidade materna e de mortalidade neonatal, poderíamos cobrar de nossos governantes a realização das políticas públicas existentes para um pré-natal bem feito, com consultas bem realizadas, em número adequado e com os exames necessários. Isso facilitaria o trabalho de parto e as condições de nascimento dos bebês e daria uma chance muito maior de sobrevivência aos seus primeiros 1000 dias de vida, para que, no futuro, se torne um cidadão produtivo para a construção de um país muito melhor.

Saiba mais:

https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/a-polemica-do-parto-em-casa/

https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/cuidados-com-o-parto-domiciliar/

https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/parto-em-casa-e-mesmo-seguro/

 

 

 

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