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22.495 gritos assustadores: crianças afetadas por conflitos sofreram excessivas violações graves em 2024

Crianças afetadas por conflitos sofreram violações graves

Crianças afetadas por conflitos sofreram violações graves

Com esse título assustador, a ONU publicou em junho seu relatório anual de alerta à comunidade internacional sobre os horrores dos conflitos e da guerra e suas consequências na vida das crianças.

O mundo experimenta atualmente o número mais alto de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial, em 1945/46. As crianças continuam sendo as maiores vítimas. A porcentagem de crianças vivendo em áreas de combates quase dobrou, passando de 10% na década de 1990 para quase 19% hoje.

Isso tudo apesar dos esforços da humanidade em criar organismos multilaterais para discutir a paz e ações humanitárias, como as Nações Unidas e seus fundos, como o Unicef. Até o final do ano passado, mais de 47 milhões de crianças e adolescentes viviam fora de suas casas por causa de violência e conflito. Este ano, com as tendências apontando para mais deslocamentos em áreas como Haiti, Líbano, Mianmar, Estado da Palestina e Sudão, a situação se intensificou.

Hoje, segundo o Unicef, as crianças somam 30% da população global. Mas quando o tema são os refugiados, elas contabilizam 49% do total de deslocados internos no mundo. Já em países afetados por conflitos, mais de um terço da população, em média, vive na pobreza, se comparado a um pouco mais de 10% em áreas não afetadas por conflitos e guerras.

Recentemente vimos fotos e reportagens assustadoras de crianças famélicas na Faixa de Gaza, penalizadas pelo impedimento da entrada da ajuda humanitária que estava parada nas fronteiras sob alegação de que seriam desviadas para o uso do grupo terrorista Hamas.

Um artigo publicado recentemente no The Lancet, Paediatric malnutrition in Gaza amid conflict: an urgent health crisis, relata que em 15 de agosto de 2025, a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) confirmou a fome em Gaza pela primeira vez: 26% da população foi classificada como em situação de fome (IPC Fase 5), 54% como em situação de emergência (IPC Fase 4) e 20% como em situação de crise (IPC Fase 3), com previsão de agravamento das condições.

Considerando que o acesso a alimentos permanece severamente restrito, as fronteiras estão em grande parte fechadas e o sistema de saúde não está funcionando, não se espera redução nas taxas de mortalidade infantil, que chegam a números assustadores. Estima-se que 132.000 crianças sofram de desnutrição aguda até junho de 2026, incluindo 41.000 com desnutrição aguda grave. Sem suprimentos terapêuticos, água limpa, combustível ou eletricidade, os centros de tratamento estão tendo que recusar até mesmo crianças gravemente desnutridas, ou elas estão morrendo ao chegar. Crianças com desnutrição moderada, que geralmente é controlável, agora enfrentam rápida deterioração devido à interrupção dos cuidados.

A escalada da desnutrição pediátrica em Gaza exige priorização urgente na agenda global humanitária e de saúde pública. O UNICEF, o Programa Mundial de Alimentos e parceiros humanitários devem implementar uma estratégia nutricional unificada e centrada na criança, projetada para locais com pouco acesso, cadeias de suprimentos interrompidas e deslocamento generalizado. Essa estratégia requer corredores humanitários seguros, clínicas móveis de nutrição e uma gestão comunitária ampliada da desnutrição aguda. O financiamento internacional sustentável é crucial para fornecer alimentos terapêuticos, suplementação de micronutrientes, água potável e apoio à nutrição materna.

A desnutrição pediátrica em Gaza não é uma consequência inevitável do conflito, é, ao contrário, o resultado da paralisia política e da erosão das proteções básicas para as crianças. Sem uma intervenção decisiva, as mortes evitáveis ​​das crianças mais jovens de Gaza continuarão sendo uma denúncia de um mundo que se afastou.

Não se pode permitir que uma geração inteira de crianças se torne um “efeito colateral” das guerras desenfreadas do mundo. De acordo com os últimos dados de 2023, a ONU verificou quase 33 mil violações graves contra 22.557 crianças, o maior número desde que o mandato do Conselho de Segurança começou. Milhares foram mortas ou feridas em Gaza e na Ucrânia. A ONU também apurou mais ferimentos e mortes entre crianças nos primeiros nove meses de 2024 que em todo o ano de 2023.

A situação de mulheres e meninas é especialmente preocupante. Há relatos massivos de estupros e violência sexual em áreas de conflito. No Haiti, em 2024, houve uma subida de 1.000% em incidentes de violência sexual contra crianças.

A educação também é interrompida em áreas de conflito. Mais de 52 milhões de menores afetados por conflito podem estar fora das salas de aula. Na Faixa de Gaza e no Sudão, uma porção grande de alunos perderam mais de um ano letivo. Já em países como Ucrânia, República Democrática do Congo e Síria, os colégios foram danificados, destruídos ou passaram a servir a outros fins. Com isso, milhões de crianças não puderam estudar. Moçambique é o único país de língua portuguesa mencionado no relatório.

Uma outra área de destruição por conflitos e guerras é o acesso de crianças a serviços críticos de saúde. Quase 40% de menores sem vacinação ou com vacinas abaixo do necessário vivem em países que estão parcialmente ou inteiramente afetados por combates. Surtos de sarampo, poliomielite e outras crises de saúde ocorrem devido às condições precárias de tratamento e prevenção, sem falar no impacto à saúde mental das crianças com casos de depressão, pesadelos, medos e comportamento agressivo.

Lembramos que nessas situações as crianças com deficiência tendem a estar mais expostas à violência e à violação de direitos.

O relatório “22.495 Gritos Assustadores: Crianças Afetadas por Conflitos Sofreram Excessivas Violações Graves em 2024” chama a atenção ao clamor destas 22.495 crianças inocentes que deveriam estar aprendendo a ler ou jogar bola. Em vez disso, elas foram forçadas a aprender a sobreviver a tiros e bombardeios. O relatório alerta que o mundo está em um “ponto sem retorno” no apelo que faz à comunidade internacional para que se comprometa novamente com o consenso universal de proteger as crianças dos conflitos armados.

Cita ainda o total inaceitável de vítimas infantis, que inclui 11.967 crianças mortas ou mutiladas como a violação mais prevalente, retrata 7.906 casos de negação de acesso humanitário a menores e 7.402 crianças recrutadas ou usadas em 25 situações. Um acordo regional de monitoramento na agenda Crianças e Conflitos Armados foi adotado com o apoio da ONU.

A Fundação José Luiz Setúbal se junta ao Unicef em seu pedido a todas as partes em conflitos e guerras que tomem medidas decisivas para proteger as crianças que têm sua infância roubada pelas condições terríveis, assegurando que os direitos delas sejam protegidos na direção de um futuro melhor.

 

Fontes:

Shanzay Akhtar a ∙ Hammad Amjad a ∙ Mobeen Abid a ∙ Hamza Ashraf b ∙ Yara Ashour c yara.ashour98@gmail.com

Paediatric malnutrition in Gaza amid conflict: an urgent health crisis

 

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