No início de julho, o Ministério da Saúde anunciou que substituirá, gradualmente, a vacina contra a poliomielite de via oral (VOP) pela versão inativada (VIP). Entretanto, o Zé Gotinha – símbolo histórico da importância da vacinação no Brasil – continuará na missão de sensibilizar crianças, pais e responsáveis de todo o país, participando das ações de imunização e campanhas do Governo Federal.
O Brasil registrou seu último caso de poliomielite em 1989. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu, em 1994, que o país tinha eliminado o vírus da paralisia infantil (como a pólio também é chamada) em todo o território nacional. Mesmo assim, as crianças devem continuar sendo vacinadas contra a doença, ainda que o vírus não tenha sido detectado há mais de 30 anos em terras brasileiras.
A cautela se justifica por uma série de motivos:
- Circulação do vírus pelo mundo, com notificação de casos em outros países. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS, alerta que se a doença não for completamente eliminada no planeta, 200 mil novas infecções podem acontecer a cada ano dentro de uma década.
- Índices de vacinação abaixo da meta de 95% e a constatação da OPAS de que o Brasil corre um risco real de voltar a registrar casos da doença. A poliomielite é uma doença altamente contagiosa, que atinge principalmente crianças com menos de cinco anos e que vivem em alta vulnerabilidade social, em locais onde não há tratamento de água e esgoto adequado.
O Brasil registra quedas na cobertura vacinal contra a pólio desde 2016. Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98%. Depois de 2015, a adesão despencou. Desde 2016, o país não ultrapassa a linha de 90% de crianças vacinadas. Em 2019, caiu para 84%; em 2020, muito em razão da pandemia de covid-19, o índice chegou a 76% dos bebês imunizados. Em 2021, o porcentual foi 69%.
A causa para essa queda é multifatorial e não deve ser atribuída somente à pandemia. Entre as razões apontadas estão:
- A falta de percepção do risco da doença pela população;
- Aumento da preocupação com os possíveis efeitos colaterais do imunizante;
- Aumento da quantidade e amplitude da disseminação de informações falsas (fake news) sobre vacinação;
- Desabastecimento temporário de vacinas no setor público e privado;
- Indisponibilidade dos pais de levarem as crianças para receberem a dose nos postos de saúde;
- Horário dos postos de saúde.
O Ministério da Saúde informou que a substituição será gradual nos postos de saúde de todo o Brasil. Segundo a pasta, a VIP – aplicada via injeção e já utilizada nas três primeiras doses do esquema de imunização – estará disponível também para a dose de reforço, aplicada aos 15 meses, a partir de 2024. A quinta dose, dada aos 4 anos, deixará de existir.
A recomendação foi debatida e aprovada pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que considerou as novas evidências científicas para a proteção contra a poliomielite. Segundo o Ministério da Saúde, foram analisados critérios epidemiológicos, evidências relacionadas à vacina e recomendações internacionais sobre o tema.
Não deixe de vacinar suas crianças contra a pólio e nem contra outras doenças preveníveis pela imunização. A vacina é a forma mais segura de evitar essas doenças.
A Fundação José Luiz Egydio Setúbal tem com uma de suas três prioridades de advocacy a imunização infantil, que também será tema do nosso 5° Fórum de Políticas Públicas a ser realizado em outubro deste ano.
Fonte:
Saiba mais:
- https://institutopensi.org.br/covid-19-nao-foi-embora-nao-deixe-de-lado-as-vacinas/
- https://institutopensi.org.br/gonzalo-vecina-em-defesa-das-vacinas-e-da-puericultura/
- https://institutopensi.org.br/fantastico-pesquisadores-do-instituto-pensi-mostram-como-funciona-a-atualizacao-das-vacinas/
- https://institutopensi.org.br/queda-na-cobertura-de-vacinas-abre-espaco-para-o-reaparecimento-de-doencas/
- https://institutopensi.org.br/vacinas-salvam-3-milhoes-de-vidas-por-ano-no-planeta-conheca-a-historia-da-imunizacao-no-brasil/