Com o final do verão e início do outono e inverno, aumenta a procura por Prontos Atendimentos dos hospitais, principalmente nas alas de pediatria. No Hospital Infantil Sabará, o movimento de abril e maio ultrapassa 12 mil crianças por mês, o dobro de janeiro e fevereiro. As filas de espera são inevitáveis, já que a estrutura física do Hospital não pode mudar. Em um interessante artigo da revista Pediatrics eles orientam os pais sobre o uso do Pronto Atendimento.
As famílias podem decidir usar um Pronto Atendimento (PA) porque acreditam que é conveniente e mais barato, mas de acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), os PAs não fornecem às crianças a mesma qualidade no atendimento dos consultórios pediátricos nem concedem os cuidados preventivos.
Em uma declaração política atualizada publicada na Pediatrics de março de 2014, a AAP enfatiza que os PAs são uma fonte inadequada da atenção primária para as crianças, porque eles fragmentam os cuidados de saúde com as crianças e devem ser utilizados apenas para emergência e grandes urgências.
Com a falta de pediatras e a vida atribulada da modernidade, os pais e mães dão preferência para o Pronto Atendimento, pois lá fazem as consultas, se necessários os exames e pegam as receitas, tudo numa única saída do trabalho. Realmente é tentador, mas se pensarmos no bem-estar das crianças e nas melhores práticas de saúde, isto está errado. A AAP reconhece que a conveniência e acesso a cuidados continuarão a ser de extrema importância. Muitos PAs em São Paulo utilizam médicos sem formação em pediatria, para piorar a situação.
Pediatras são especificamente treinados em questões de saúde infantil. Eles sabem a história da saúde de cada criança, e estão mais bem equipados para cuidar tanto de problemas simples quanto dos complicados. Como os pacientes jovens e seus problemas de saúde se tornam mais complexos, surge a possibilidade de que mesmo uma simples queixa possa estar relacionada a uma doença mais grave, que poderia ser ignorada por alguém que é menos familiarizado com o paciente, de acordo com a AAP.
Enquanto a AAP acredita que o ambulatório (consultório) médico é o padrão ideal de atendimento para pacientes pediátricos, e não recomenda que os pais utilizem os PAs rotineiramente, entende-se que os serviços desses hospitais podem ser utilizados para cuidados agudos ou fora do horário. Se os pais optam por usar um PA para a doença de seus filhos, eles devem perguntar se a clínica tem uma relação formal com o seu pediatra, se a clínica irá se comunicar com o pediatra sobre a visita, e qual é o protocolo para o acompanhamento caso o problema não seja resolvido ou a clínica do pediatra esteja fora do horário de funcionamento. Os pais devem utilizar Pronto Atendimentos que tenham uma relação formal com o pediatra do seu filho. No Hospital Infantil Sabará, só 15% dos pais ou responsáveis dão os nomes dos pediatras.
Nós vemos o problema como uma falha do atendimento médico brasileiro, pois as pessoas preferem resolver tudo no PA e não fazem as visitas de rotina, não existe uma prática preventiva de doenças, e mesmo pacientes com doenças crônicas, como a asma, preferem acompanhar nos PAs, em vez de ter um pediatra com quem possam tirar as dúvidas e ir tateando a melhor opção terapêutica. Quando estiver na sala de espera durante o pico sazonal, pense a respeito disto.
Leia também: Por que escolher um hospital exclusivamente pediátrico?
Fonte: “AAP Principles Concerning Retail-Based Clinics”
Atualizado em 6 de junho de 2024