Você já quis alimentos crocantes?
Ou goma de mascar?
Sempre mastiga tampas de caneta enquanto se concentra ou morde suas unhas quando está nervoso? Você já mastigou chiclete durante um teste?
A mastigação pode ser uma maneira muito eficaz para aumentar o foco e bloquear outras distrações, melhorando com isso a concentração, especialmente porque é um movimento repetitivo. Todos nós temos alguns hábitos sensoriais e motores orais ao longo da vida. A mastigação é um deles. A necessidade de mastigação pode ir além do momento de alimentação.
A mastigação fornece entrada proprioceptiva para a mandíbula, o que é muito calmante e organizador. Algumas crianças querem mastigar para diminuir estresse e ansiedade. A mastigação como um mecanismo calmante é especialmente importante para crianças do espectro autista e/ou Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), as quais necessitam desse tipo de entrada sensorial oral extra. Mastigar ao longo do dia pode ajudá-los a se acalmar, focar e a auto regular-se.
Indivíduos com hiposensibilidade ou consciência oral limitada podem precisar mastigar mais também. Eles podem preferir alimentos mais crocantes e mastigar itens não-alimentares com mais frequência para obter maior feedback oral, são os chamados “sensory seekers”. Muitas vezes, quando há necessidades sensoriais na boca, há necessidades sensoriais fora dela também. Quando o corpo recebe a quantidade certa de entrada proprioceptiva, a necessidade de mastigar muitas vezes diminui.
A mastigação é também fundamental para o desenvolvimento esquelético facial, fortalecimento da musculatura, erupção dos dentes, entre outros. A mastigação é função importantíssima para a continuidade do processo de desenvolvimento e amadurecimento das estruturas orofaciais. Ela é aprendida, necessita de treino e precisa ser estimulada.
Para bebês e crianças pequenas, levar objetos à boca é um estágio normal de desenvolvimento e ajuda no processo de aprendizagem da mastigação, além de desempenhar um papel importante no conforto e na discriminação oral. As crianças começam a mastigar e morder esses objetos quando pequenas, porém algumas delas continuarão com essa necessidade maior de mastigar até a idade adulta. Enquanto alguns gostam de mastigar coisas macias, outros preferem itens mais rígidos que forneçam maior resistência.
A partir dos dois anos, a criança já consegue mastigar uma variedade de alimentos com bastante habilidade e conforto. Nos casos de erupção de dentes, a procura por alívio leva a uma necessidade extra de mastigação, que provavelmente passará quando cessarem os sintomas.
Quando observar que a criança está mastigando fora dos momentos das refeições, não force para que ela pare, dê-lhe uma alternativa segura para isso. Elas muitas vezes usam coisas que estão próximas, que podem ser as unhas, mangas, lápis, o controle remoto etc. Uma das melhores coisas que você pode fazer é descobrir por que estão mastigando. A partir daí, pode ser capaz de ajudar a aliviar a questão central.
Quando a necessidade de mastigar é sensorial, a consulta com um terapeuta ocupacional pode ser necessária.
Tente adicionar alimentos mais difíceis de mastigar na dieta da criança (cenouras, biscoitos, maçãs etc) durante a refeição e lanches. Esses alimentos, como fornecem maior resistência, fazem a mandíbula realmente trabalhar, o que é particularmente importante para o desenvolvimento facial, da musculatura, da fala, além de aumentar a oferta proprioceptiva. A região dos molares posteriores é o lugar que fornece maior entrada proprioceptiva para a mandíbula, portanto formas longas e compridas são mais adequadas para utilização durante a mastigação.
Incorporar outras atividades orais na rotina diária, como soprar através de assobios, beber através de canudos, soprar bolas de algodão, bolhas de sabão e assim por diante, ajudam a fazer a boca “trabalhar” mais. Utilizar canudos em espiral e beber líquidos espessados através do canudo também! Para as crianças “sensory seekers” que gostam de sensação aumentada, usar uma escova de dentes vibratória permite uma maior entrada sensorial oral, o que é muito interessante!
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Na dúvida, procure um fonoaudiólogo para uma avaliação.
Atualizado em 23 de outubro de 2024