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Brincar no hospital – para a criança – é como brincar em qualquer lugar
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Brincar no hospital – para a criança –  é como brincar em qualquer lugar

Brincar no hospital – para a criança – é como brincar em qualquer lugar

22/07/2014
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Estar no hospital é diferente, para a criança, do que estar em casa ou na escola. Mas, o brincar, para ela, tem a mesma função em qualquer lugar. É certo que, para nós, adultos, suas funções são diferentes, mas sobre isso comentaremos outro dia.

A mesma criança se sente muito diferente quando está em casa, na escola ou no hospital. Em casa é filho. Na escola é aluno. No hospital é paciente. É muito diferente também para ela estar com os adultos que são as figuras mais importantes nesses lugares: pai e mãe, em casa; professor e gestor, na escola; médico e enfermeiro, no hospital. Diferente disso é ela estar com seus colegas fazendo alguma coisa ou brincando sozinha com seus brinquedos. Dizendo desse jeito, tudo parece óbvio, mas na prática não é, tanto para ela como para os adultos responsáveis por seu cuidado. Sua casa é seu lar. É lá onde dorme, come, passa a maior parte de sua vida. Lá estão seus pais e tudo o que fazem com ela, para ela e às vistas dela. Eles são e serão sua maior referência. É por eles e através deles que conhecerão o amor como cuidado e importância, ou, então, que sofrerão suas distorções com todas as suas marcas ou cicatrizes. Na escola, estão seus professores, seus colegas, e um ambiente bem diferente de casa, mas que igualmente será a segunda e talvez maior referência de suas vidas. É lá que aprenderão a como viver fora de casa e a saber coisas que lhes serão úteis para sempre, na perspectiva delas e na de todos nós. No hospital estão as pessoas que cuidam de sua saúde. É para lá que ela vai quando está doente e precisa ser tratada. Família, escola e hospital, principalmente para as crianças com doenças crônicas ou que precisam frequentá-lo muitas vezes, são três grandes instituições, cada qual com sua diferença, cada qual com seu valor. Todas elas, ao mesmo tempo, em favor do que é ou do que será melhor para a criança.

Pensemos, agora, a perspectiva da criança e algo que lhe faz sentido, tanto de gosto, quanto de vida. Esse algo é o brincar. O interessante é que, ao menos para mim, o brincar tem uma função invariante, seja na escola, em casa ou no hospital. É que em qualquer lugar ele proporciona à criança, quando sozinha com seus brinquedos, a oportunidade de escolher e fazer as coisas que ela sabe e gosta de fazer. Nele, ela pode repetir e repetir, fazer de outro modo, usar seu corpo, cheirar, lamber, esconder, encontrar, organizar de muitos jeitos, fazer de conta, imaginar, representar, desenhar. Em qualquer lugar, adultos brincalhões podem lhe encher de graça. Ela gosta de ouvir suas histórias, seus gestos e palhaçadas, a variação de seus tons de voz, seus modos de fazer com o corpo e a cara, as brincadeiras que lhes propõem fazer. Com eles, quando eles estão assim, em qualquer lugar elas são felizes e se sentem seguras e amadas. Não ficam com medo da vida, porque o “medo” ou “graça” da brincadeira são o único que lhes chama a atenção. É assim, mesmo no hospital. Por exemplo, no Sabará, palhaços, cantores, cachorros, contadores de histórias, voluntários brincam com as crianças e as fazem, não importa se por pouco tempo, esquecer que estão doentes.

É que, em qualquer lugar, para a criança, o brincar se refere ao prazer de ver, de fazer e repetir ações, de explorar, de imitar, de fazer de conta e enfrentar desafios. O que importa é o que a criança faz ou as delícias e o gosto de elas verem alguém, como brincalhão, fazer. A Dra. Gláucia, psicóloga no Sabará, afirma que o brincar cura e dignifica a criança. De fato, cura porque recupera sua condição de criança, sem importar com o seu estar, agora, doente. Cura, porque, como lembra a Dra. Sandra, que dirige nosso voluntariado, através dele (do adulto) comunicam-se quatro mensagens: “Eu estou aqui”, “Eu te ouço”, “Eu te compreendo” e “Eu me importo”. Dignifica porque humaniza, e dá à criança a oportunidade de expressar suas angústias e enfrentá-las ao seu modo, sobretudo, se tem um adulto (psicólogo, voluntário, médico, enfermeira, mãe) que a ouve e a mobiliza nos termos das quatro frases mencionadas. Essa é a nossa proposta para a matéria de hoje: as estruturas de vida de uma criança são variáveis, diferentes e importantes. Não há porque confundir casa, escola e hospital. Mas, para a criança, a função e o lugar do brincar em sua vida são os mesmos, não importa onde. Onde há possibilidade de brincar, aí estará uma criança no melhor e mais significativo de sua vida. E se me pedirem números para lhes provar essas afirmações, eu lhes lembrarei que há também outra forma de evidência tão importante quanto a estatística. Trata-se da evidência por redundância. No dia a dia do hospital o que vemos repetidamente são crianças doentes, mas felizes porque brincam ou porque desfrutam de brincadeiras.

Leia também: A criança pequena em casa e no hospital

Atualizado em 17 de junho de 2024

Dr. Lino de Macedo

Dr. Lino de Macedo

Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). É presidente da Academia Paulista de Psicologia e professor emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Integra a Cátedra de Educação Básica do IEA (USP) e é assessor do Instituto PENSI.

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