Mais de 20 especialistas discutiram novas abordagens para reduzir o estresse hospitalar, com foco em intervenções sensoriais e práticas humanizadas. Na imagem, Sandra Mutarelli Setúbal, ao centro, com algumas das participantes do simpósio: dia de compartilhar experiências e emoções.
O IV Simpósio Internacional Child Life, realizado em 3 de outubro de 2024, reuniu profissionais para abordar o manejo de crianças e famílias em ambientes hospitalares. Sandra Mutarelli Setúbal, presidente do Instituto PENSI, enfatizou: “É essencial que abordemos o cuidado pediátrico com uma perspectiva multifacetada, utilizando as tecnologias mais avançadas e priorizando sempre o bem-estar das crianças hospitalizadas e de suas famílias. O trabalho de uma Child Life é muito mais do que brincar, como muitos acreditam. Neste caso, o brincar é coisa séria. Estamos lutando para que essa profissão seja reconhecida aqui.”
Um dos destaques do simpósio foi a apresentação do S.T.A.R. Program (Sensory, Tactile, Auditory Rockstar), com ênfase na redução do uso de sedação em crianças neurodiversas, promovendo um ambiente mais inclusivo, por Chantelle Bennett e Deborah Spencer, do AdventHealth for Children. “É um treinamento com algumas ferramentas e estratégias que usamos no Child Life para médicos, enfermeiros, auxiliares, todas as pessoas que atendem os pacientes”, explica Chantelle. “Falo do fundo do meu coração: esse programa faz a diferença, muda a vida de muitos pacientes e famílias”. Leia mais na entrevista Com carinho, conforto e conversa, programa muda vida de pacientes com questões sensoriais.
Práticas emocionais
Na palestra “Estratégias de intervenção Child Life para crianças e familiares na unidade de internação pediátrica”, Giovana Souza Bertho (Sabará) detalhou como atividades lúdicas ajudam a aliviar o estresse hospitalar. Essa apresentação integrou a mesa “A contribuição do profissional Child Life a partir de uma atuação multifacetada”, moderada por Aline Rodolfo Lopes (Sabará) e Caroline Sanches (PENSI). Lívia Alves Fernandes (Sabará), com “Estratégias de intervenção Child Life para crianças e familiares na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica”, enfatizou a importância das práticas emocionais em UTIs pediátricas, suavizando o impacto psicológico.
O “Panorama sobre a oncologia pediátrica”, apresentado por Mariana Belem Netto (Sabará), destacou os desafios no tratamento infantil. Gyovanna Lyssa Delfante de Assis (Sabará) e Marcela Di Pietro Collaço (Sabará), ao abordar “Além da doença: a abordagem multifacetada do Child Life no acompanhamento de pacientes oncológicos”, enfatizaram o cuidado emocional durante o tratamento. “Às vezes, a interação conosco é o único momento de escolha daquele paciente dentro do contexto hospitalar. Então é importante empoderarmos as famílias com conforto, com informação”, conta Marcela.
A médica Maria Paula Coelho (Sabará) iniciou a mesa “Abordagens integrativas no cuidado pediátrico: explorando o Programa Avançado de Tratamento da Insuficiência Intestinal e as intervenções Child Life” discutindo o Programa Avançado de Tratamento da Insuficiência Intestinal (Patii). “O nosso trabalho, antes de mais nada, é acolher e fazer com que a jornada dessas famílias não seja solitária, nem sombria”, diz Maria Paula, que conheceu a atuação de Child Life em sua temporada na Inglaterra. “É uma preciosidade o que essa instituição nos proporciona. Porque quando tem alguém olhando para a criança nesse sentido, eu volto para o meu papel de médica, no qual sou mais adequada. E, juntos, a gente faz a coisa dar certo.”
Na mesma mesa, Giovanna Pombani, coordenadora do Child Life do Sabará, abordou os desafios de crianças com dispositivos médicos, complementada por Gabriela Castiglioni Mano (Sabará) e Vivian Meneghetti Caires Brito (Sabará), que discutiram intervenções sensoriais. “O Child Life dá à criança a oportunidade de brincar e, assim, ela consegue uma fuga temporária, o chamado flow. Isso é fundamental especialmente para as crianças com doenças crônicas”, afirma Giovana. “Dialogar sobre o diagnóstico com a criança de maneira sútil é importante porque à medida que crescem passam a entender e, às vezes, exigem novas abordagens de suporte emocional”.
Um dos momentos mais emocionantes do dia foi quando Jeniffer Cristina Ribeiro, mãe de Maria Flor, uma menina atendida pelo Patii, compartilhou sua experiência pessoal. “Quando ela nasceu, me disseram que ficaríamos um mês no hospital. Foram dois anos em doze internações”, conta Jennifer. “Para entenderem o nível do stress da minha filha, ela se arranhava, vomitava a cada vez que tinha que fazer uma troca de curativo”. Em março de 2021, Jeniffer e Maria Flor conheceram o trabalho do Child Life no Sabará. “Quando começou achei que elas iriam “só” brincar. No começo, a atuação delas era com a minha filha no colo. Até que um dia uma das meninas, respeitosamente, tocou no pé da Flor e ali começou uma amizade longa e duradoura. Ela passou a participar do tratamento que era para ela mesma. Evoluiu tanto a ponto de ver minha filha de pernas cruzadas, sozinha, interagindo. Dia 16, ela vai completar 5 anos e eu só tenho a agradecer”.
Cristina Borsari, em “Desafios psicossociais no enfrentamento de doenças ameaçadoras à vida”, discutiu o impacto emocional em famílias de crianças com doenças graves. Essa apresentação integrou a mesa “Atuação Child Life e o cuidado humanizado a pacientes e famílias com doenças graves e ameaçadoras à continuidade da vida”, moderada por Denise Lopes Madureira e Daniela Oliveira, que também contou com contribuições de Cintia Tavares Cruz e Thayara Paula Herrera Lima, todas do Sabará, destacando o apoio emocional em cuidados paliativos.
Vivian Meneghetti Caires Brito (Sabará) e Giovanna Pombani (Sabará), em “Pronto-socorro e neurodiversidade: a contribuição do Child Life”, discutiram a importância do Child Life no atendimento de crianças neurodiversas em crises emergenciais. A mesa “Perspectivas em Child Life: explorando pronto-socorro e pacientes neurodiversos”, moderada por Julia Nogueira Papy (Sabará) e Thales Araújo de Oliveira (Sabará), também contou com a participação virtual de Kirsten Block, que abordou “Navigating the Emergency Room: How Child Life Impacts Emergency Room Care”. Para finalizar, Chantelle Bennett e Deborah Spencer apresentaram o S.T.A.R., compartilhando suas experiências com esse novo programa.
Por Rede Galápagos
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