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Além dos aspectos sobre a saúde física ou biológica que comentamos durante esses dois anos de pandemia, a covid-19 atuou sobre a saúde mental e social e acabou influenciando a educação das crianças, sobretudo nas menores.
Um levantamento divulgado no início de fevereiro pela ONG “Todos pela Educação” mostra que 41% das crianças brasileiras entre seis e sete anos não sabiam ler ou escrever em 2021. Para chegar a essa conclusão, eles analisaram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE. O questionário do IBGE é respondido pelos responsáveis pelas crianças.
O número saltou de 1,429 milhão em 2019 (o equivalente a 25% das crianças brasileiras nessa faixa etária) para 2,367 milhões (41% das crianças) em 2021. O aumento é de 66% em comparação aos números de 2019. O levantamento não leva em consideração amarelos, indígenas e não declarantes. Se considerasse esses públicos, o aumento seria um pouco maior, atingindo 66,3% entre 2019 e 2021.
No fundo, isso evidencia que o ensino remoto teve efetividade muito baixa do ponto de vista pedagógico, ou seja, prejudicou todo mundo. Além disso, teve um alcance baixo, deixando as crianças mais pobres de fora. E esses dados também revelam, mais uma vez, a questão estrutural onde a desigualdade é marcada por questões de raça e cor.
Como tudo neste Brasil é desigual, o número é ainda mais chocante entre crianças pretas entre seis e sete anos: em 2021, 47,4% delas não estavam alfabetizadas, já as crianças pardas eram 44,5% e as crianças brancas, 35,1%. Em 2019, nenhum dos índices chegava a 30%. No entanto, a taxa de crescimento do analfabetismo nessa faixa etária entre 2019 e 2021 foi maior entre as crianças brancas: 88,5% contra 69% entre crianças pretas e 52,7% entre crianças pardas.
Mais que representar um número do presente, a diferença nas taxas de alfabetização pode virar um problema do futuro se não for devidamente enfrentada. A evasão escolar já é maior entre pretos e pardos. Se não houver políticas públicas para reparar as aprendizagens dessas crianças, em alguns anos esse pode ser mais um dos motivos que vai levá-las a abandonar a escola.
O problema, no entanto, não é irreversível, desde que priorizemos a educação, fazendo muito mais do que tem sido feito e estabelecendo ações desde já para minimizar esses efeitos. Também é necessário atender essas populações que estão em situação de vulnerabilidade, com ações de recuperação, de recomposição e de alfabetização.
É tempo de volta às aulas para muitas dessas crianças após dois anos de afastamento e, para muitas outras, pela primeira vez. Conclamamos aos pais que se esforcem para que levem seus filhos e acompanhem de perto o seu desenvolvimento escolar, ajudando no que for possível, para que eles possam recuperar o atraso e consigam ter a oportunidade de se tornarem cidadãos.
Saiba mais:
https://institutopensi.org.br/um-modelo-que-pode-ajudar-as-criancas-no-brasil/