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A experiência da pobreza durante a primeira infância prejudica os resultados da criança. Educadores e formuladores de políticas públicas têm se concentrado em fornecer cuidados e educação de alta qualidade à primeira infância como uma estratégia para interromper essa trajetória. Outros criaram programas de treinamento para educar os pais em técnicas que levam a um melhor desenvolvimento infantil. Ainda têm os que usam modelos de visita domiciliar, muitos dos quais enfatizam as habilidades dos pais e também facilitam o acesso a recursos materiais.
No Brasil da pandemia, onde um grande número de famílias voltou a ficar abaixo do nível de pobreza, programas assistenciais às crianças serão necessários. Um artigo publicado na revista Pediatrics de dezembro de 2021 (A Coaching Model to Promote Economic Mobility and Child Developmental Outcomes) traz um modelo que talvez possa servir de exemplo para ações para ajudar as crianças da primeira infância no Brasil.
O programa americano Economic Mobility Pathways (EMPath) desenvolveu um método de treinamento/acompanhamento (coaching), TA, para ajudar as pessoas que vivem na pobreza a se moverem em direção à autossuficiência econômica. Essa abordagem tem como objetivo fortalecer a função executiva que pode ser prejudicada por experiências no início da vida, pelo impacto da escassez concomitante ou por ambos. TA envolve compartilhar com o participante uma metáfora visual que também serve como uma ferramenta de autoavaliação, a ponte para a autossuficiência. Esta ferramenta ilustra as dimensões necessárias para alcançar a autossuficiência e marcadores de progresso para cada dimensão. Os mentores treinam os participantes do programa em todas essas dimensões: estabilidade familiar, bem-estar, gestão financeira, educação, emprego e carreira. Os participantes identificam e definem seus próprios objetivos, juntamente com planos de ação muitas vezes vinculados a formas específicas de reconhecimento. Ao longo do processo, os mentores usam estratégias baseadas em ativos, como o uso de consideração positiva incondicional pelos participantes.
Os participantes do programa TA original da EMPath alcançaram ganhos substanciais em renda, emprego e educação durante os 3 a 5 anos de sua participação. Os desenvolvedores do TA postularam que, ao fortalecer a função executiva dos pais e, em particular, a flexibilidade mental para ajustar e resolver problemas em resposta a diferentes contextos e o autocontrole para ser capaz de planejar e definir prioridades, a mesma abordagem poderia fortalecer o funcionamento familiar e levar a melhores resultados para a criança.
O envolvimento profundo das famílias nos programas de cuidados e educação na primeira infância tem sido historicamente difícil. As famílias podem achar que já têm conhecimento suficiente sobre a paternidade ou que o centro deve fornecer esse apoio diretamente à criança enquanto os pais buscam seus próprios estudos ou emprego. MM, ao se concentrar em ajudar os próprios pais a lidar melhor com seus desafios e necessidades em muitas dimensões de suas vidas (educação, emprego, finanças, função familiar e habitação, bem como saúde e desenvolvimento infantil) pode promover um maior envolvimento em programas de apoio à família. Além disso, ao apoiar a capacidade fundamental de planejamento, resolução de problemas no contexto, priorização, definição e cumprimento de metas.
Embora, em muitos estudos, os pesquisadores tenham examinado o treinamento dos pais como uma estratégia para melhorar o desenvolvimento infantil, há poucos estudos nos quais os pesquisadores exploraram se o treinamento que visa a função executiva dos pais orientada para melhorar as condições econômicas da família também pode melhorar os resultados de desenvolvimento das crianças.
O treinamento de pais de baixa renda para atingir as metas necessárias para a autossuficiência econômica melhorou os resultados da criança em 1 de 2 comparações. Esses programas podem ser uma estratégia eficaz para envolver melhor os pais em programas de apoio à família e promover o desenvolvimento infantil.
Cerca de 18,8 milhões de meninos e meninas até 14 anos passarão fome. O levantamento da Fundação Abrinq aponta que dessas, pelo menos 9 milhões vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita mensal de, no máximo, R$ 275.
Além disso, elas vivem nas ruas ou em barracos, em sua maioria, em espaços sem banheiros e com mais de três moradores para cada dormitório ou domicílio. Os dados são da pesquisa Cenário da Infância e da Adolescência no Brasil, elaborado pela Fundação Abrinq, que tem como base a pesquisa Pnad/Covid, do IBGE.
A pergunta deve ser quanto custará não fazer? Vai custar muito, vai se perder uma geração de crianças no Brasil. Essa criança vai aprender mal na escola, não vai conseguir ser alfabetizada com facilidade. Será uma geração de trabalhadores mais fracos do que ela seria normalmente e menos criativa do que poderia ser intelectualmente. Quanto custa não fazer uma política pública de erradicação da fome?
Lembro sempre que, no caso das crianças mal alimentadas, os danos são irreversíveis. Por mais que tenham estímulo e treinamento, as crianças com deficiência calórico-proteica continuam sem a capacidade cognitiva completa. Até os cinco anos é a fase mais importante do desenvolvimento neurocerebral. Um programa como este minimiza o dano, mas tem que vir associado a programas de combate à fome e de Segurança Alimentar para a primeira Infância prioritariamente se não quisermos perdemos uma geração.
Saiba mais:
https://institutopensi.org.br/19300-2/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/fome-oculta-das-nossas-criancas/
https://institutopensi.org.br/inseguranca-alimentar-e-nutricional-no-brasil/
Fonte:
Pediatrics: ARTICLE| DECEMBER 20 2021
A Coaching Model to Promote Economic Mobility and Child Developmental Outcomes
Charles J. Homer, MD, MPH; Ashley Winning, ScD, MPH; Kevin Cummings, PhD