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Desde o momento do nascimento os bebês leem o mundo. A conexão entre a linguagem, a experiência literária e a vida ficam muito claras neste início, já que os bebês precisam de palavras, das vozes de seus familiares. Yolanda Reyes diz que estes diálogos estabelecidos com os bebês são o primeiro material de leitura deles. A aquisição da linguagem começa antes mesmo da primeira palavra que o bebê diz.
Assim como a alfabetização das crianças, que começa muito antes de elas conseguirem de fato decifrar uma palavra. Nestes últimos meses as crianças da Ubá (entre 2 e 3 anos, em sua maioria) têm gostado muito de ler. Elas ainda não sabem decodificar as letras, mas reviram as páginas, interpretam imagens e repetem palavras que já ouviram naquela história. Leem.
Algumas pegam sempre os mesmos livros e já o conhecem de cor e salteado. Alteram a voz para as diferentes personagens. E nos momentos de suspense dos livros fazem paradas dramáticas, com caretas. A leitura, sobretudo, nos traz sensações e pode ser um ato de afeto, que tem início em casa, nas histórias contadas pelas famílias.
Na experiência literária, as crianças entendem a organização do tempo. Um tempo com começo, meio e fim. E assim, podem também prever a hora que “o lobo” vai chegar, por exemplo, e conseguem se preparar para isto. Podem sentir o medo de novo.
Alguns livros se tornam mais interessantes que outros, pois dão mais oportunidade de imaginar. Por exemplo, nos livros em que a ilustração não é exatamente o que o texto diz, mas que o complementa, acrescentando na história. É na fenda, entre a não correspondência direta do texto com a ilustração do livro, que a imaginação tem seu lugar. Há que se ter a generosidade de deixar um “vazio” no livro para a criação do outro. Normalmente são estes os preferidos, os que dão vontade de voltar para reler. Por isso também é importante a escolha dos livros.
Uma das crianças na Ubá está esperando por um irmão, seu livro preferido no momento é o “Tudo Muda”, do Anthony Browne. A literatura nos dá a possibilidade de nos colocar no lugar das personagens, de viver aquela situação repetidas vezes, podendo transformar. É no encontro entre a história contada e a nossa história que criamos significado.
Nos últimos meses, o livro tem ocupado o lugar de encontro por aqui e tive vontade de compartilhar.
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Por Lilia Standerski, formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo. Trabalhou muitos anos como professora de Educação Infantil e cursou Pós-Graduação em Educação Lúdica no ISE Vera Cruz. Em agosto de 2015 abriu, junto com uma colega, a Casa Ubá (www.casauba.com.br), um lugar que desenvolve tempo e espaço para as crianças ampliarem a capacidade de compreender a si mesmas e aos outros por meio de brincadeiras e investigações que surgem nos encontros.
Atualizado em 6 de novembro de 2024