Ontem à meia-noite, a última parte da saga dos filmes de Harry Potter abriu as sessões dos cinemas de São Paulo. Sentimento de alegria mas, talvez, também de perda para aqueles que cresceram com Hogwarts na imaginação e com a magia do pequeno bruxo em suas vidas. Desde sua primeira aparição em 1997, Harry tem lançado um feitiço sobre os corações das crianças, adolescentes e adultos por todo o mundo.
As histórias foram acompanhadas por leitores atentos, sempre esperando o próximo lançamento, e muitos jovens acompanharam e cresceram junto com os pequenos bruxos de Hogwarts, assim como muitos adultos reviveram suas aventuras e fantasias escolares. Acredita-se que as aventuras de Harry Potter se conectam melhor com leitores que tenham a idade dos personagens, de acordo com a evolução da saga.
Em cada livro, Harry é um ano mais velho, a história é mais complexa e a intensidade aumenta com o passar do tempo. Devido a essa maturação gradual, legiões de fãs de Potter dizem: “me sinto como tendo crescido com Harry”. Ele faz parte de seus amigos. É uma técnica de contar histórias interessante, mas poderia representar um problema para algumas famílias com jovens leitores que estão apenas descobrindo a série agora.
Quando foram originalmente lançadas as aventuras de Harry Potter, as crianças não tinham escolha senão esperar os anos entre os livros, criando a expectativa pela nova publicação. Mas agora os livros são todos prontamente disponíveis, então é mais difícil pedir ao jovem leitor esperar um ano ou dois para ler o próximo livro. Além do mais, alguns pais pretendem encorajar o entusiasmo que surge em seus filhos para leitura permitindo que leiam as histórias de Potter mais cedo do que a autora pode ter destinado. É sugerido que seus leitores tenham a idade de Harry em cada livro.
Mas o mesmo pode ser dito para os filmes?
Mesmo se seu filho estiver pronto para ler os livros mais intensos, ele pode não estar pronto para assistir os filmes — particularmente neste episódio final, onde há intensidade e adrenalina.
Pode parecer contrário ao intuitivo, que uma criança que está pronta para um livro não esteja pronta para a versão cinematográfica da mesma história. Mas, como se sabe, os livros e filmes têm formas muito diferentes de criação de mundos. Quando lemos um livro, nossas mentes geram os detalhes descritos lá — e jovens leitores vão imaginar apenas o que seu cérebro está pronto para pensar. Mas filmes fornecem todos os detalhes para eles, o que significa que uma criança assistindo um filme pode ser exposta a imagens e sons para os quais ainda não está preparada.
Além disso, a leitura permite que as crianças definam seu próprio ritmo com a história. Se tornar muito intenso, elas podem fazer pausas ou mesmo pular partes. Em um filme — especialmente em um cinema— é difícil “fugir” das cenas mais intensas. As partes assustadoras podem ser mais assustadoras na tela grande, especialmente porque para eles pode parecer difícil escapar.
Para os adolescentes que tenham lido todos os livros e aqueles que apenas querem desfrutar de filmes, este filme final poderia ser uma experiência divertida e completar a saga (embora, naturalmente, pode ser assustador para alguém de qualquer idade). Mas para as crianças, mesmo aquelas que leram todos os livros, este filme final pode ser assustador e intenso demais.
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Seu filho viu qualquer um dos filmes anteriores?
Em caso afirmativo, então pode ajudar a indicar se ele está pronto para este capítulo final. Se você não tiver certeza como seu filho pode reagir, assista ao filme primeiro e veja o que você pensa. Como pai, você sabe sobre sua criança melhor do que ninguém: se você acha que as cenas são muito intensas, faça-o esperar para ver.
Lembre-se que depois o filme estará disponível para assistir em sua casa, num ambiente menos envolvente.
Traduzido e adaptado de: “Ask the mediatrician”: Lauren Rubenzahl, EdM, program coordinator at Children’s Center on Media and Child Health (CMCH).
Atualizado em 22 de janeiro de 2024