Nos primeiros anos de vida, as habilidades para a alimentação são alcançadas pela criança à medida que ela se desenvolve como um todo. A cada marco conquistado no desenvolvimento motor, uma sequência natural na aquisição de outras habilidades, inclusive o aprendizado alimentar, também acontece.
A possibilidade do bebê em manter a sua cabeça erguida e controlar o tronco oferece condições para que, aos poucos, ele possa explorar o ambiente e os objetos de diferentes formas, diversificando suas experiências de aprendizado. Antes mesmo que ele seja capaz de sentar-se, agarrar ou segurar algo, é a sua movimentação motora bruta, como rolar e mudar de decúbito, que irá trazer possibilidades de movimentos capazes de interferir diretamente no seu aprendizado para falar e comer.
Todo o desenvolvimento motor oral da criança acompanha também o seu desenvolvimento físico e sensorial, se apoiando principalmente na vivência de experiências repetidas em torno da alimentação. É durante os primeiros dois anos de vida, através da maturidade do sistema nervoso central e dos padrões de evolução do desenvolvimento motor grosso e fino, que a criança adquire um controle cada vez mais preciso de movimentação dos braços, mãos e de todo o seu corpo, impactando positiva ou negativamente no seu aprendizado alimentar.
Quando o bebê não consegue alcançar marcos importantes do desenvolvimento motor, suas possibilidades de participação ativa na alimentação ficam reduzidas, afetando diretamente sua confiança e sua motivação interna para explorar os alimentos. A capacidade de autoalimentação, ou seja, uma postura ativa e autodirigida nos momentos de refeição, exige um grau mínimo de estabilidade corporal, o que proporciona à criança segurança para viver experiências à mesa. O aumento gradual das oportunidades em duração e tipo de experiência alimentar irá coincidir com o progresso na aceitação de alimentos variados e com a capacidade e o desejo de independência da criança para se alimentar.
As primeiras experiências promovidas com os alimentos, ao observar a aparência, sentir o cheiro e a textura, oferecem sensações que serão propulsoras para o desenvolvimento motor-oral. No entanto, para que um bebê a partir dos 6 meses possa usar a língua para mover o alimento dentro da boca, mastigar, morder ou comer com as mãos sem riscos de engasgos, é necessário que outros comportamentos anteriores possam ter sido alcançados.
O desenvolvimento cognitivo e as habilidades de comunicação também têm seu espaço no momento da alimentação. É a cognição que guia as experiências da criança à mesa, e é com o passar do tempo que as habilidades da criança em conseguir se alimentar sozinha são aprimoradas. A capacidade e a competência para se posicionar de forma independente durante as refeições, em diversos ambientes, acontecem ao mesmo tempo em que as habilidades de comunicação e a compreensão da criança sobre o mundo também aumentam. As possibilidades de trocas, conversas e interações sociais se ampliam no momento das refeições.
Desta forma, aproveitar as refeições enquanto interação e conexão social favorece não apenas o desenvolvimento cognitivo e socioemocional da criança, mas também influencia e é moldado pelo seu aprendizado alimentar.
Na infância, quando as refeições são compartilhadas em uma relação recíproca entre pais e filhos, em um ambiente onde existe comunicação e confiança, as ações dos adultos mais experientes são oportunidades de aprendizado para a criança, sendo alicerce para o desenvolvimento das suas habilidades motoras, sensoriais, cognitivas e de autorregularão emocional.
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