Durante o primeiro ano de vida da criança, aprender a comer tem uma conexão direta com o desenvolvimento de suas habilidades motoras orais. Muitas ações funcionam de forma integrada para que o surgimento destas habilidades, possa acontecer ao mesmo tempo em que o restante do corpo também se desenvolve motoramente.

No início, o desenvolvimento motor oral é mais global, com movimentos menos delicados e específicos, língua e a mandíbula ainda não conseguem se movimentar de maneira independente, dissociada, funcionam em conjunto. À medida que o bebê vai ganhando mais estabilidade e controle postural, os movimentos de abrir e fechar a boca passam a ser realizados com maior amplitude, a capacidade de sugar e engolir vai se somando ao surgimento de outras habilidades motoras orais mais específicas. A criança se torna capaz de movimentar a língua em diferentes direções, morder, e mastigar consistências variadas.

As habilidades motoras orais são especialmente aprendidas a partir das experiências vividas em torno da alimentação, quando a criança passa a lidar com alimentos de peso, textura, consistência e tamanho diferentes. Mesmo que existam pequenas variações individuais, cada etapa desta jornada corresponde a uma idade cronológica, marcos de desenvolvimento sensório-motor oral que demonstram que a criança já consegue explorar os alimentos com diferentes movimentos de língua e mandíbula.

Conseguir retirar com os lábios o alimento da colher, morder e mastigar, sugar em canudos e beber do copo, são algumas das habilidades motoras orais que surgem a partir de uma sequência contínua de aprendizados que prepara a criança para a etapa seguinte. Há íntima relação destas habilidades com o desenvolvimento motor geral da criança e com a sua condição neuromuscular. Uma postura e um posicionamento adequados por exemplo, oferecem a base estável que acriança precisa para sentir-se segura ao estar sobre o cadeirão, junto à mesa, vivendo suas experiências em torno da alimentação.

Um corpinho alinhado permite que todas as estruturas orais funcionem de maneira integrada. Crianças sentadas adequadamente para comer, são aquelas em que a cabeça, tronco e a cintura pélvica estão bem posicionados, além dos pés apoiados. Um bom posicionamento e uma estabilidade postural adequada, oferecem à criança condições favoráveis para que ela consiga realizar movimentos de lábios, língua e mandíbula cada vez mais independentes e especializados. Quando existe qualquer prejuízo neste aspecto, os movimentos utilizados nas funções de alimentação ficam prejudicados, influenciando no controle, manipulação oral, e até na deglutição dos alimentos.

As alterações de tônus muscular são alguns dos fatores que contribuem para esta dificuldade, podendo ser facilmente observadas em crianças com condições neurológicas ou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.  Mesmo que estas alterações não sejam visíveis em crianças típicas, quando estão presentes geralmente afetam de forma negativa a movimentação oral durante a alimentação. O tônus muscular é uma resistência natural do músculo, que permite ao corpo manter-se em uma postura estável e se movimentar com facilidade.

Quando a estabilidade da cabeça, do tronco e da pelve está prejudicada por uma alteração do tônus, há um impacto na realização de movimentos orais rápidos, coordenados e precisos, refletindo diretamente em como a criança suga, morde, mastiga e deglute.

Mesmo que a movimentação ou o domínio das habilidades motoras orais esteja prejudicada, geralmente esta não é única fonte do problema com a alimentação, lembrando que gostar de comer está muito além de como a criança mastiga.

No entanto, é sempre importante que a consistência alimentar oferecida a criança possa ir se modificando gradativamente ao longo do primeiro ano de vida, de forma que a escolha dos alimentos em textura seja apresentada com variação, mas respeitando o momento de desenvolvimento no qual a criança se encontra. Ajustar as ofertas alimentares de acordo com padrão de movimentação oral da criança é essencial para um aprendizado prazeroso e confortável na sua relação com a alimentação.

Em caso de dúvidas, procure sempre ajuda profissional. O fonoaudiólogo especialista em dificuldades alimentares, poderá esclarecer se há prejuízos ou atrasos na aquisição de habilidades motoras orais da sua criança e como isto pode estar influenciando negativamente na alimentação.