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O que significa brincar, quando uma criança tem menos de 18 meses de vida? Que objetos lhe servem de brinquedo? Em que os adultos podem colaborar para que ela brinque? É curioso constatar o quanto é comum se pensar que uma criança pequena se diverte de forma parecida ao que fazem as mais velhas, quando brincam de casinha, de jogar bola, de inventar e ouvir estórias de faz de conta e imaginar coisas.
Ocorre que, quando tem menos de 18 meses, a criança não possui recursos cognitivos e sociais para este tipo de brincadeiras. Ao que recorrem, então, para se distrair e encontrar sentido na vida? Segundo Piaget, as brincadeiras desta criança são estruturadas pelo que ele designa de jogo de exercício. Neste tipo de jogo, duas condições mobilizam a atividade lúdica: a repetição e o prazer funcional. Repetição do quê? Daquilo que a criança pode fazer ou sentir em relação às coisas e às pessoas de seu cotidiano.
E por que prazer funcional? Porque se trata de uma repetição que não decorre de uma necessidade interna ou exigência externa, mas do interesse provindo do próprio fazer ou do sentir. Para explicar o que é isso, sugiro que observemos alguns vídeos no YouTube encontráveis pelo nome “cesto (ou cesta) de tesouros”, em português, ou então “treasure basket”, em inglês. Essa situação se refere ao acesso de uma criança de seis a 18 meses a uma cesta contendo objetos (usualmente em torno de 15 ou 20) do cotidiano caseiro. Colheres, tampas, panelas, chocalhos, escovas, panos, papéis, mangueiras, chaves, copos são alguns dos mais de 100 itens sugeridos para comporem a cesta.
E o que observamos a criança fazer com eles? Ela balança, bate, olha, morde, emite sons com a boca, mostra, produz ruídos com o objeto, balança, coloca na boca, pega, puxa, esconde e reencontra. É de admirar o tempo que consomem, interessadas e, seriamente, realizando essas atividades. E o que aprendem? Aprendem, por exploração lúdica, pela repetição mobilizada pelo prazer funcional, muitas coisas ou propriedades dos objetos com os quais interagem.
Forma, cor, textura, gosto, dureza, sonoridade, plasticidade, características das diferentes partes que compõem são um pouco do que podem experimentar sobre esses objetos. Mas aprendem também ou aperfeiçoam os comportamentos que utilizam para interagir com eles. Aprendem a coordenar suas ações e, mais que isso, a descobrir a dupla função de um mesmo objeto ou ação. Uma coisa é olhar, pegar, por na boca e sugar quando se está com fome, outra coisa é fazer tudo isto como atividade lúdica, presidida pelo prazer funcional da repetição e pelo gosto de, por meio disso, passar um tempo, distrair.
Uma coisa é manejar um objeto, por exemplo, a mamadeira porque se está com fome e ela é a fonte de alimento, outra coisa é brincar com ela, saborear, pelo exercício dos órgãos do sentido, as propriedades que a caracterizam como um objeto. Uma coisa é agir como meio para outro fim, outra coisa é agir e interagir com objetos como um fim em si mesmo.
A criança pequena precisa de estímulos e oportunidades de brincar para aumentar e melhorar seu repertório de ações em relação às coisas e a si mesma. E as pessoas, em especial os cuidadores, onde estão e o que fazem nessa hora? Elas proporcionam tais oportunidades para a criança, lhes oferecem o cesto e as coisas que estão dentro dele, vigiam para que nada possa lhes ocorrer em termos de perigo, protegem, aprendem e observam. Fazendo isso, lhes transmitem confiança, carinho e as mobilizam para o ótimo processo de desenvolvimento.
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Atualizado em 29 de abril de 2024