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Os primeiros 1000 dias na vida de uma criança: a grande diferença está aqui!
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Os primeiros 1000 dias na vida de uma criança: a grande diferença está aqui!

Os primeiros 1000 dias na vida de uma criança: a grande diferença está aqui!

18/02/2022
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Com o passar do tempo, a importância dos primeiros mil dias para a vida das pessoas vai ficando cada vez mais comprovada por meio de estudos científicos. Entende-se como primeiros mil dias o período da gestação (42 semanas) e os dois primeiros anos da criança, quando há maior crescimento e desenvolvimento corporal e encefálico, além da formação de sinapses no cérebro.

Como sabemos, essa fase da vida, que inicia durante a gestação e vai até os 2 anos, ou se ampliarmos até o final da idade pré-escolar aos 6 anos, é fundamental para a formação do indivíduo e os problemas ou estímulos que a criança tiver nessa fase irão marcá-la pelo resto da vida.

Em 2018, participei, em São Paulo, de uma palestra com o Prêmio Nobel de Economia de 2004, o professor James Heckman. Na oportunidade, ele pode mostrar a atualização de seu trabalho, confirmando cada vez mais as razões pelas quais devemos aplicar recursos na Primeira Infância. Embora isso seja muito bom, uma vez que investir com qualidade em crianças de 0 a 6 anos é determinante para suas vidas e para o futuro do país (afinal tudo isso é conhecido desde os primeiros trabalhos de James Heckman), demonstrou que o melhor investimento que um governo poderia fazer era aplicar o dinheiro nas crianças desta idade, seja na educação, na saúde ou na assistência social.

Mas será que os nossos governantes entendem o que é política para a primeira infância?

Muita gente confunde com dar acesso à creche e à pré-escola, o que é uma visão míope e pequena do que se pode fazer. Na área da educação infantil, a ONG ‘Todos pela Educação’ propõe, entre sete medidas para a educação no Brasil, as intervenções nos primeiros anos, pois elas terão efeitos duradouros por toda a vida. Os cuidados e investimentos que dispensamos a elas agora são uma forma de vermos o futuro.

Segundo Priscila Cruz: “Uma política para a primeira infância que honre essa denominação deve envolver ações integradas de várias áreas. Temos defendido no Todos Pela Educação que seja de, ao menos, cinco áreas: educação, saúde, assistência social, cultura e esporte. Este é um patamar mínimo, pois é desejável articular também emprego e geração de renda das famílias, combate à violência, meio ambiente, entre outras políticas. O desenvolvimento infantil não espera nem acontece de maneira compartimentada: os pequenos são complexos e altamente influenciáveis por tudo aquilo que ocorre ao seu redor. Não podemos pedir às crianças que esperem, nem lhes dizer que o assunto é com outra pasta. O tempo da infância é o do já. Seu lugar é de prioridade absoluta nas gestões públicas, como prevê, com lucidez, a Constituição Federal no artigo 227”.

De acordo com o estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), “Crianças têm risco maior de viver na pobreza do que adultos, o que pode afetar economias e gerações futuras”, seis em dez crianças e adolescentes no país vivem na pobreza, seja por condição financeira ou privação de direitos.

Feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015, o estudo concluiu que, na última década, houve redução da chamada “pobreza monetária” na infância e na adolescência no país, mas as múltiplas privações não acompanham essa diminuição. Ao todo, 32 milhões de meninas e meninos vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões.

Para se ter uma ideia, seis milhões vivem em famílias cuja renda não é suficiente para comprar cesta básica. Outros 12 milhões têm, além da pobreza, outro direito negado, seja de saneamento, acesso à educação ou à informação – o que pesquisadores denominam de privação múltipla. Há ainda outros 14 milhões que, embora vivam em famílias com renda suficiente para adquirir cestas básicas, vivem em situação de privação, com mais de um direito negado.

De acordo com o grupo analisado, moradores da zona rural têm mais direitos negados que os da zona urbana. Negros e moradores das regiões Norte e Nordeste enfrentam mais privações se comparados a brancos e moradores de Sul e Sudeste.

O Ministério da Educação, o Governo Federal e o Ministério das Cidades não se manifestaram sobre o estudo, nem sobre muita coisa que diz respeito à infância no nosso país. Basta ver o que fizeram com a vacinação infantil.

Veja mais alguns números do levantamento, de acordo com a Pnad 2015:

1 – 61% das crianças e dos adolescentes brasileiros são pobres (18 milhões) – Estão em famílias que vivem com renda insuficiente (pobreza monetária) e têm menos de R$ 346 per capita por mês na zona urbana e R$ 269 na zona rural;

2 – Não têm acesso a um ou mais direitos. Moradores da zona rural, por exemplo, têm mais direitos negados do que os da zona urbana. Meninos e meninas negros e moradores das regiões Norte e Nordeste do Brasil também enfrentam mais privações se comparados aos brancos e moradores das regiões Sul e Sudeste;

3 – O saneamento é a privação que afeta o maior número de crianças e adolescentes – 13,3 milhões;

4 – Educação (8,8 milhões);

5 – Água (7,6 milhões).

Melhorar a vida de nossas crianças e adolescentes é melhorar toda a nossa sociedade no futuro. É poder ter um projeto de país que procure dar os direitos básicos e as oportunidades para, consequentemente, oferecer melhores chances de trabalho e renda para todos. E que também poderá garantir locais para a prática da cidadania nas comunidades, como a leitura, as artes e o esporte. Quando isso ocorrer, podemos pensar na meritocracia como um diferencial, mas até lá precisaremos compensar as desigualdades de alguma maneira.

Melhorar a vida das crianças é a iniciativa política que levará a sério o combate às desigualdades, a semente de um começo bom para o país. E é isso que procuramos enquanto uma Fundação que foca em uma “infância saudável na busca de uma sociedade melhor”.

Citando Madre Tereza de Calcutá: “Sei que o que eu faço é uma gota de água no oceano, mas sem ela, o oceano seria menor”. Procuramos fazer o nosso papel e torcemos para que outros também o façam, assim teremos uma grande quantidade de gotas que poderão fazer a diferença neste oceano que é a vida das crianças.

Fontes:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98887.pdf

https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/415.pdf?981713837

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-08/seis-em-cada-dez-criancas-no-brasil-vivem-na-pobreza-diz-unicef

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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