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Por que investir no desenvolvimento da Primeira Infância?
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Por que investir no desenvolvimento da Primeira Infância?

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19/01/2017
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Daniel Santos é professor de Economia na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. É também membro do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Economia Social (LEPES) e possui uma aula EAD no Curso “Impacto sobre o desenvolvimento da Primeira Infância na aprendizagem”. Neste texto, abordamos os conteúdos mais importantes apresentados em sua aula. O objetivo é oferecer uma versão escrita de sua exposição, proporcionando, quem sabe, uma forma alternativa de assimilação do que ele nos ensinou tão brilhantemente. Sua aula pode ser dividida em quatro tópicos.

1- Educação infantil e economia. Segundo o Professor Daniel, economistas, hoje, interessam-se pela saúde e educação de crianças pequenas, apoiados em pesquisas sobre desigualdade social. Crianças de famílias pobres já começam a vida com uma diferença desfavorável ao seu desenvolvimento, não por razões genéticas, mas pelas dificuldades de seus pais em lhes oferecer melhores condições para que tenham saúde, alimentação e recursos de aprendizagem. Tal evidência é importante, por ser grande a desigualdade de renda no Brasil, uma das maiores do mundo, segundo ele. Desigualdade social ou de renda relaciona-se com desigualdade educacional e se articulam já no começo da vida das crianças. Para dar um exemplo, o Professor Daniel apresenta um gráfico em que se observa que o desenvolvimento cognitivo de crianças equatorianas varia segundo a escolaridade de suas mães e influencia o mercado de trabalho dessas crianças quando se tornam adultas.

Outro tema de estudo dos economistas é sobre políticas públicas, visando mitigar ou reverter o incremento da desigualdade nos primeiros anos de vida. O Professor Daniel cita o Programa Head Start, nos Estados Unidos, como um caso de sucesso a esse respeito. O programa alcança mais de 2 milhões de pessoas, está focado em crianças vulneráveis, e seu maior êxito é compensar deficiências cognitivas e emocionais dessas crianças. Ele cita também outro programa de intervenção em crianças vulneráveis, no Estado de Michigan, Estados Unidos, em que se constatou um retorno social de pelo menos 9 dólares para cada dólar investido.

2- Educação Infantil no Brasil. Depois da introdução apresentada no item 1, o Professor Daniel passa a analisar o problema no contexto brasileiro. O que estamos fazendo, aqui, em favor da Educação Infantil? Ele responde a questão, mencionando diversos aspectos:

  • A partir dos anos 90 temos dado mais atenção à educação infantil. Comenta que, se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional excluiu as creches, essa falha foi corrigida pelo FUNDEB.
  • Cita a obrigatoriedade da educação básica para todos com idade de 4 a 17 anos como outro indicador, sobretudo se considerarmos que investir na pré-escola influencia o aprendizado no ensino fundamental de nossas crianças. As que frequentam a pré-escola estão um ano mais avançadas do que aquelas que não a frequentam.
  • Mas, segundo ele, as creches brasileiras parecem não ter o mesmo impacto, nem o bem-estar observado no restante do mundo. Como evidência, apresenta um gráfico sobre diferenças de desempenho escolar em matemática no quinto ano do Ensino Fundamental entre egressos e não-egressos do Ensino Infantil, segundo o nível educacional das mães. Nele, podemos perceber que se, em média, a pré-escola acelera o aprendizado da criança brasileira, esse benefício é muito desigual entre os filhos das mães mais educadas e os das mães menos educadas. Os filhos das mães mais educadas são os que mais se beneficiam da pré-escola. O gráfico mostra grande heterogeneidade na qualidade das creches frequentadas pelas crianças oriundas de famílias pobres e as de famílias mais ricas. De fato, pesquisas mostram que a qualidade das escolas infantis brasileiras, se comparadas com as escolas do mundo, deixam a desejar. O que não quer dizer que não existam excelentes escolas.

3- Indicadores de qualidade de uma escola de educação infantil. Segundo o Professor Daniel, os principais indicadores de qualidade são:

  • Não basta prover atividades lúdicas, é preciso que elas estejam estruturadas no espaço e no tempo escolar;
  • Aplicar esquemas de punição e recompensa não vale a pena; o melhor é estimular a exploração do meio ambiente, a relação entre pares e com adultos;
  • A criança pequena, tal como um cientista, gosta de explorar, observar, formular e testar hipóteses sobre o mundo, bem como interagir com outras crianças e os mais velhos. Responder e mesmo estimular essas formas de relação é crucial. Não os fazer é frustrante.
  • A rotatividade dos educadores de creches e pré-escolas é muito grande no Brasil, sobretudo em algumas regiões. Se a construção de vínculos professor-alunos é fundamental na Educação Infantil, tal rotatividade prejudica dramaticamente, porque vínculo requer confiança e confiança requer espaço e tempo bem vividos.

4- Disseminação do conhecimento e pressão social. O Professor Daniel crê, penso que com razão, que pressão social é um dos principais fatores de transformação na qualidade do serviço nas escolas infantis. A matrícula em creches e pré-escolas cresceu dramaticamente, tornando o problema da qualidade fundamental. Ou seja, não basta expandir o número de vagas, é necessário investir também na qualidade do que acontece em favor do desenvolvimento e da aprendizagem das crianças. E pressão social visando a uma melhor qualidade da educação infantil requer informação e pesquisa.

Para ilustrar a importância da questão, o Professor Daniel apresenta um gráfico que compara a percepção das famílias sobre qualidade e serviço oferecido pelas creches. Nele, observa-se uma diferença entre as dimensões subjetiva (satisfação da família por ter o filho na creche) e objetiva (qualidade da creche, avaliada segundo certos indicadores). A pesquisa foi feita no Rio de Janeiro. O que se observa é que as duas medidas não se relacionam. As famílias dão nota 9 ou 10 para todas as creches, independentemente de sua qualidade objetiva. Ou seja, contentam-se com o fato de os filhos estarem nela, independentemente da qualidade ou serviço oferecido. Sua conclusão é que disseminar informação é também política pública. Governo e sociedade devem investir nisso.

Vale a pena assistir a aula do Professor Daniel e pensar sobre o que ele nos ensina!

Leia também: O relato de uma mãe que fez a aula de EAD sobre primeira infância

Atualizado em 7 de outubro de 2024

Dr. Lino de Macedo

Dr. Lino de Macedo

Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). É presidente da Academia Paulista de Psicologia e professor emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Integra a Cátedra de Educação Básica do IEA (USP) e é assessor do Instituto PENSI.

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