PESQUISAR

Sobre o Centro de Pesquisa
Sobre o Centro de Pesquisa
Residência Médica
Residência Médica
Sucos e as recomendações das sociedades de pediatria
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp
Sucos e as recomendações das sociedades de pediatria

Sucos e as recomendações das sociedades de pediatria

05/07/2017
  9706   
  0
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp

Frutas são parte da alimentação desde os primórdios do ser humano na terra. Colhidas no pé ou do chão, são alimentos que fazem parte do processo do prazer – fornecendo o sabor adocicado, muito antes do açúcar. A frutose, açúcar natural das frutas, assim como outros carboidratos presentes na composição dos diferentes frutos, modificam o sabor de outros alimentos da história do homem, como parte de pães, biscoitos, bolos e doces.

Seria fácil dizer que por causa de uma fruta o ser humano perdeu o paraíso. Talvez a maçã não seja a mais doce das frutas, mas o simbolismo existe.

As frutas só passaram a ser consumidas de forma rotineira com o plantio organizado em pomares. Isto permite que o fruto seja produzido, armazenado e distribuído para grandes grupos não produtores. No entanto, há poucas referências sobre a forma com que consumíamos frutas inicialmente. A papa é uma forma comum de uso para todos os alimentos, inclusive em adultos, que somente nos últimos séculos utilizam talheres e o consumo de alimentos sólidos ou consistentes. Modificar frutas para uso em condições de clima adverso determinou o uso de compotas, geleias e cremes. Quase sempre conservados no açúcar, em potes fechados. A modificação para a forma líquida, com o uso de caldos ou sucos, com água ou pura fruta, é bastante relacionada ao consumo de produtos para hidratação em presença de doenças ou para crianças.

Com a urbanização e a difusão de maiores conhecimentos sobre a necessidade de uso de produtos frescos para manutenção da saúde, as frutas, especialmente as cítricas, ganham importância, a partir das pesquisas da marinha inglesa, que mostravam que estas protegiam os marinheiros do escorbuto (descoberta posterior que era causada pela deficiência de vitamina C).

Sabe-se que os sucos naturais são fontes de vitaminas provenientes das frutas, principalmente de vitamina C, um potente antioxidante que regula o sistema imunológico (defesas) e ajuda na absorção do ferro presente nos alimentos. Entretanto, ao contrário da fruta inteira, o suco apresenta maior quantidade de água e carboidratos, que são açúcares naturais do suco como: frutose, glicose, sacarose, sorbitol. Fazer com que as crianças comam frutas em pedaços muitas vezes não é tarefa fácil; os sucos de fruta, saborosos e adocicados, entram no lugar da fruta com muita frequência e maior aceitação pelas crianças.

Nos últimos anos houve aumento da ingestão de suco pelas crianças e paralelamente também aumento de peso; muitos autores começam a relacionar o excesso de peso de crianças ao consumo de bebidas adoçadas, entre elas o suco de frutas artificial. Este cenário levou os especialistas a publicarem orientações e recomendações para o consumo de bebidas, classificando os sucos 100% de frutas no mesmo grupo de outras bebidas açucaradas, como refrigerante e sucos artificiais ou processados.

Recentemente, a Sociedade Americana de Pediatria publicou um anúncio oficial com a recomendação de não oferecer suco de frutas para crianças menores de 1 ano de idade, afirmando que os estudos não mostram benefícios nutricionais em oferecer sucos aos bebês. Antes de discutir as recomendações, é importante entender que:

  • Nos lares americanos, é muito raro encontrar sucos frescos, naturais de fruta, que podem conter fibras dependendo do seu preparo e não contém conservantes. Por isso, a sociedade americana foi enfática quanto à restrição dessa bebida para menores de 1 ano. O consumo de sucos engarrafados e em embalagens longa vida é o predominante. Naturais ou com adição de outros elementos, estes produtos são consumidos universalmente.
  • Diferente do Brasil também, muitos sucos nos EUA são fortificados com cálcio, vitamina D e vitamina C, o que pode ser interessante para casos de deficiência mesmo em menores de 1 ano. E esses casos devem ser avaliados por pediatra e nutricionista.
  • A publicação trata da interação dos sucos de frutas com alguns medicamentos, reduzindo sua ação. Entretanto, essa interação é observada principalmente com a toranja ou toronja (grapefruit), fruta raramente consumida no Brasil.
  • É fato que 1 ou ½ fruta espremida na hora não irá prejudicar a saúde do bebê. Não há estudos prospectivos que mostrem associação entre doenças crônicas e o uso de fruta espremida.
  • A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de 5 porções diárias de frutas, verduras e legumes ao dia e discute aumentar essa recomendação para 10 porções. Os sucos frescos podem fornecer parte dessa recomendação, desde que em quantidades equilibradas – cerca de 170 ml de suco = 1 porção de fruta.
  • Atualmente existem diferentes tipos de “suco” disponíveis no mercado:
    • Suco natural: obtido direto da fruta, é um produto fresco feito na hora, de fruta espremida, sem adição de água. Pode conter componentes como bagaço e casca que aumentam a concentração de fibras da bebida.
    • Suco integral: produto industrializado constituído 100% de suco de fruta, sem adição de água nem açúcares. Normalmente é pobre em fibras da fruta e pode conter conservantes para aumentar o tempo de prateleira.
    • Suco concentrado: proveniente de suco de frutas parcialmente desidratado, precisa ser diluído em água e normalmente contém açúcar, aromatizantes e conservantes na sua fórmula.
    • Suco de polpa: semelhante a um suco natural, mas feito com a polpa da fruta congelada. Apesar de não ser concentrado, normalmente é batido com água ou leite.
    • Néctar: é como são chamados a maioria dos sucos de caixinha prontos para consumo. É composto de no mínimo 10 a 50% de fruta, e adicionado de água, açúcares e conservantes.
    • Refresco: também conhecido como suco em pó, contém açúcares, conservantes, corantes e muito baixa concentração de suco de fruta (1 a 5%).

É consenso que os sucos adoçados devem ser evitados, independentemente da faixa etária. Quanto aos sucos 100% de frutas, a principal desvantagem em relação às frutas inteiras está na facilidade de consumo que favorece a oferta em volumes excessivos, a qual, por sua vez, acaba prejudicando a variedade da dieta, favorece o surgimento de problemas de saúde, como o excesso de peso, obesidade e cáries dentárias.

As crianças devem ser estimuladas a comer a fruta inteira, já que para os bebês especialmente, o suco não estimula a mastigação e pode até atrapalhar a aceitação de alimentos sólidos, pois pecam na experiência com cores, texturas e paladar. Além disso, dependendo do preparo, o suco perde as fibras naturais da fruta e seus benefícios, como a regulação do trânsito intestinal, saciedade e a diminuição da absorção de açúcares e gorduras.

Segue abaixo uma coletânea das recomendações de diretrizes nacionais e internacionais quanto à oferta de suco de frutas:

Sociedade Brasileira de Pediatria – Brasil

• Até 6 meses: não recomenda sucos naturais.

• Após 6 meses: devem ser evitados, mas se forem oferecidos, que sejam dados no copo, de preferência após as refeições principais em dose máxima de 100 ml/dia.

• Crianças de 1 a 6 anos: máximo 150 ml/dia

• Crianças e adolescentes de 7 a 20 anos: máximo 240 ml/dia

 

Academia Americana de Pediatria – EUA

• Até 6 meses: não recomenda suco

• Até 1 ano: evitar a ingestão de suco

• Crianças de 1 a 3 anos: até 120 ml/dia

• Crianças de 4 a 6 anos: até 175 ml/dia

• Crianças e adolescentes de 7 a 18 anos: máximo 250 ml/dia

 

National Health Service (NHS) – Reino Unido

• Até 6 meses: não recomenda sucos naturais.

• Após 6 meses: sucos de frutas diluídos (1 parte de suco para 10 partes de água) podem ser oferecidos com as refeições, sucos 100% de fruta apenas após as refeições em pequenas quantidades.

• A partir dos 5 anos: máximo 150 ml/dia.

 

Health Canada – Canadá 

National Health and Medical Research Council – Austrália

• Até 1 ano: não recomendam sucos naturais.

• Depois de 1 ano: dar suco de forma limitada e não oferecer bebidas adoçadas.

 

Na prática:                                                                                                                             

– Para fazer 100 a 120 ml de suco natural, são necessárias pelo menos duas laranjas. E é muito pouco provável que um bebê coma essas mesmas duas laranjas inteiras de uma só vez, não é mesmo?

  • ½ copo de suco de laranja (2 laranjas, 100ml) = 54 kcal e 0,2g de fibra
  • ½ laranja (85g) = 40 kcal e 2g de fibra

Na fruta inteira, há menos calorias e muito mais fibras! Em porção menor!

Então, a recomendação geral é que os sucos sejam oferecidos após os seis meses de idade de forma limitada, dando sempre preferência às frutas inteiras. As quantidades adequadas e os benefícios do suco para casos específicos devem ser discutidos com o pediatra e nutricionista. Nos intervalos das refeições, o ideal é oferecer água à vontade para que a criança não sinta necessidade de ingerir líquidos na hora de comer.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fruit Juice in Infants, Children, and Adolescents: Current Recommendations

Melvin B. Heyman, Steven A. Abrams, SECTION ON GASTROENTEROLOGY, HEPATOLOGY,AND NUTRITION, COMMITTEE ON NUTRITION. Pediatrics Jun 2017, 139 (6) e20170967; DOI: 10.1542/peds.2017-0967.

HEALTH CANADA. Infant Nutrition. Disponível em: <https://www.canada.ca/en/health-canada/services/infant-care/infant-nutrition.html> Acesso em: 05 de abril de 2017.

NATIONAL HEALTH AND MEDICAL RESEARCH COUNCIL. Infant Feeding Guidelines. Canberra: National Health and Medical Research Council, 2012.

NATIONAL HEALTH SERVICE. Drinks and cups for babies and toddlers. United Kingdom. Disponível em: <http://www.nhs.uk/conditions/pregnancy-and-baby/pages/drinks-and-cups-children.aspx#close> Acesso em: 05 de abril de 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação para a alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola/Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 3ª. ed. Rio de Janeiro, 2012. 148 p.

Centro de Dificuldades  Alimentares do Instituto PENSI –  Sabará Hospital Infantil

Priscila Maximino

Nutricionista pesquisadora do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI – Sabará Hospital Infantil. Mestrado e especialização pela Unifesp e pós-graduação em pesquisa clínica. Formação internacional em nutrição em pediatria e dificuldades alimentares. Nutricionista da Nutrociência, docente da pós-graduação do Hospital Israelita Albert Einstein.

Link para Lattes: http://lattes.cnpq.br/7206621535868937

Leticia Ribeiro

Nutricionista do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI – Hospital Infantil Sabará. Graduada em Nutrição e Metabolismo pela FMRP-USP; aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela FSP-USP, e especialização em Nutrição Clínica em Pediatria pelo HCFMUSP.

Mauro Fisberg

Pediatra, Coordenador do Centro de Nutrologia e Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi- Hospital Infantil Sabará. Professor Associado Doutor do Setor de Medicina do Adolescente do departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina- UNIFESP.  Coordenador da Força Tarefa Estilos de Vida Saudável ILSI Brasil. Diretor da Nutrociencia Assessoria em Nutrologia.

Atualizado em 23 de outubro de 2024

Comunicação PENSI

Comunicação PENSI

deixe uma mensagem O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

posts relacionados

INICIATIVAS DA FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL
Sabará Hospital Infantil
Pensi Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil
Autismo e Realidade

    Cadastre-se na nossa newsletter

    Cadastre-se abaixo para receber nossas comunicações. Você pode se descadastrar a qualquer momento.

    Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade de Instituto PENSI.