PESQUISAR
“Quem lê um livro vive mil vidas; quem não lê vive só uma.” A frase atribuída a George R. R. Martin, autor norte-americano, é uma pista poética de toda a potência que livros trazem em si. Dos Estados Unidos de Martin vamos à Itália, mais especificamente para a Universidade de Roma III, cujo estudo realizado em 2016 traz um dado que salta aos olhos: quem lê é mais feliz. A pesquisa é séria e a descoberta tem explicação, que George R. R. Martin ajuda a entender: basicamente, ao “viver as mil vidas” citadas pelo autor, ou seja, ao ler e se colocar no lugar de tantos personagens, de tanta gente diferente do que somos, desenvolvemos aquela faculdade chamada empatia: compreendemos melhor os sinais emitidos pelos outros. E ao sermos mais empáticos, convivemos e vivemos melhor; somos mais felizes.
Não para por aí. A empatia é apenas um dos muitos benefícios citados e comprovados ao longo de muito tempo de estudos e pesquisas. Há tantos, que alguns anos atrás a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em parceria com a Associação Brasileira de Pediatria e o Itaú Social, produziu um material magnífico chamado “Receite um livro”. Nele, pediatras são convidados a prescrever literatura para as crianças. Livros como recomendação médica para uma infância mais saudável.
Mas eu queria ir além. Queria convidar também os pais a se aventurar no universo dos livros. Pais que leem são adultos mais felizes, dão exemplo e desempenham uma parentalidade mais leve e mais saudável como consequência. Ao lerem com os filhos, também estreitam laços e todos saem ganhando. Não é tarde para se tornar um leitor, nunca é – e cá entre nós, os livros classificados como infantis escondem tesouros capazes de emocionar muito marmanjo por aí. É que os bons livros têm uma coisa quase mágica, as “camadas”, que fazem com que as narrativas vão sendo compreendidas de acordo com a capacidade de cada um. Para uma criança, é um livro infantil que só traz informações com as quais ela sabe lidar; mas para um adulto, revela muitas outras – que o adulto, com seu repertório, já é capaz de desvendar. É por isso que um mesmo livro nunca se repete igualmente para duas pessoas diferentes: os livros são uma obra única para cada um que o lê, uma mistura do que está nas páginas com o que existe dentro da gente.
Dêem uma chance aos bons livros infantis; deixem-se encantar, deixem que o livro converse com o que há aí dentro. Exemplos de livros assim? “A parte que falta”, de Shel Silverstein (Ed. Companhia das Letrinhas), é um clássico. “A princesinha medrosa”, do brasileiro Odilon Moraes (Ed. Jujuba), fala com as nossas profundezas assim como “O coração e a garrafa”, de Oliver Jeffers (Ed. Salamandra), que trata do luto e da perda com metáforas capazes de se comunicar na língua de cada um de nós; grandes ou pequenos. “Agora não, Bernardo”, de David McKee (Ed. WMF Martins Fontes) é uma mensagem forte para nós, pais, e o urso de “Quero meu chapéu de volta”, de Jon Klassen (Ed. WMF Martins Fontes) vai arrancar um sorriso da sua boca. Quer apostar?
Depois me conta.
Luciana Loew é consultora de comunicação, pesquisadora de literatura para crianças e jovens e especialista em textos literários pelo Instituto Vera Cruz. É colunista da revista Pais&Filhos e co-idealizadora da Literatoca, iniciativa que busca aproximar as famílias brasileiras dos livros. Mãe de Teresa e Alice, duas pequenas e ávidas leitoras.
Fontes:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/22/eps/1453483676_726569.html
https://blog.ataba.com.br/criancas-felizes/
mensagem enviada
Adorei o artigo, quando eu tiver meus filhos vou ler com eles!
Amei sua matéria ❤️