Há alguns dias, vi uma série inglesa no streaming da TV, “Tudo para ontem”. Gosto de ver séries e filmes que abordam os problemas da juventude atual, e os ingleses sabem fazê-lo de maneira excepcional. A série gira em torno de uma adolescente de 16/17 anos, em Londres, que ficou internada por seis meses por anorexia/bulimia em um hospital psiquiátrico e volta ao convívio com seus amigos de escola. O problema é abordado de maneira muito séria e interessante, com uma produção e um roteiro ótimos, assim como o desempenho dos atores.
Existe um equívoco comum de que os transtornos alimentares são uma escolha de estilo de vida. Os transtornos alimentares são, na verdade, doenças graves e, muitas vezes, fatais, associadas a distúrbios graves no comportamento alimentar das pessoas e nos pensamentos e emoções relacionados. A preocupação com a alimentação, peso corporal e forma também pode sinalizar um transtorno alimentar. Os transtornos alimentares comuns incluem anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica.
A anorexia nervosa é uma condição em que as pessoas evitam alimentos, restringem severamente os alimentos ou comem quantidades muito pequenas de apenas alguns alimentos. Elas também podem se pesar repetidamente. Mesmo quando perigosamente abaixo do peso, elas podem se considerar acima do peso.
A bulimia nervosa é uma condição em que as pessoas apresentam episódios recorrentes e frequentes de ingestão de grandes quantidades de alimentos e sensação de falta de controle sobre esses episódios. Essa compulsão alimentar é seguida por comportamentos que compensam a alimentação excessiva, como vômitos forçados, uso excessivo de laxantes ou diuréticos, jejum, exercícios excessivos ou uma combinação desses comportamentos.
Para se ter uma ideia, transtornos como compulsão alimentar, bulimia e anorexia afetam cerca de 5 % da população em geral, mas podem chegar a 10% entre a população mais jovem, segundo o Ministério da Saúde. Além disso, houve impacto significativo da pandemia na saúde mental de jovens e adolescentes. De acordo com um relatório do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 22% dos brasileiros nessa faixa etária se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer coisas. Antes considerados restritos às famílias de renda média e alta, os transtornos alimentares são cada vez mais encontrados em todos os níveis sociais e econômicos.
Os distúrbios alimentares começam mais comumente em meninas entre 14 e 17 anos de idade, mas também são observados em meninos adolescentes e crianças mais novas. No geral, o número de meninas com transtornos alimentares supera o número de meninos em cerca de 10 para 1. As raízes do problema parecem ser complexas. No entanto, existem invariavelmente questões psicológicas mais complexas e profundas e vulnerabilidades genéticas que influenciam quem é suscetível, incluindo baixa autoestima. Confira alguns fatores de risco para transtornos alimentares*:
- História familiar de transtorno alimentar ou obesidade;
- Doença afetiva ou alcoolismo em parentes de primeiro grau;
- Balé, ginástica, modelagem, “esportes visuais”;
- Traços de personalidade (por exemplo, perfeccionismo);
- Comportamento alimentar e peso dos pais;
- Abuso físico ou sexual;
- Baixa autoestima;
- Insatisfação com a imagem corporal;
- História de dieta excessiva, refeições frequentemente omitidas, exercício compulsivo.
*Fonte: Roma ES, Ammerman S, Rosen DS, et al. Crianças e adolescentes com transtornos alimentares: o estado da arte. Pediatrics. 2003;111:e98–e108
Atletas do ensino médio e universitários são particularmente suscetíveis a transtornos alimentares. Por exemplo: alguns treinadores incentivam os lutadores a desenvolverem força treinando acima dos seus limites de peso, mas competindo com um peso inferior, logo abaixo do limite. Ginastas e bailarinas que precisam perder peso são outros exemplos.
Fique atento(a) às modas dietéticas, especialmente com meninas adolescentes. Algumas, como regimes com alto teor de proteínas e teor muito baixo de carboidratos, requerem supervisão médica quando usadas em adolescentes. Elas existem há décadas e reaparecem periodicamente com novos nomes. As rotinas de dieta mais extremas nunca se destinam à adoção a longo prazo. As preparações e suplementos prescritos pela internet e não sujeitos a receita médica são mal regulamentados e têm contribuído para problemas graves e mortais.
Enfim, se você tem um(a) filho(a) adolescente, fique atento(a) aos sinais de algum transtorno alimentar. Abaixo apresento várias sugestões de leitura e vídeos que estão nas nossas redes sociais e que podem ajudar em uma melhor compreensão desse tema delicado e atual. Se gostar de série, recomendo que veja “Tudo para ontem”, que é muito boa e ajuda na compreensão dos jovens e adolescentes atuais.
Fontes:
Nutrition: What Every Parent Needs to Know (Copyright © American Academy of Pediatrics 2011)
Tudo para ontem
https://www.netflix.com/br/title/81437049
Saiba mais:
- https://institutopensi.org.br/o-peso-da-autoimagem-para-criancas-e-adolescentes-obesos/
- https://institutopensi.org.br/lidando-com-a-autoimagem-dos-jovens-e-adolescentes/
- https://institutopensi.org.br/aprendendo-sobre-a-geracao-z-nas-series-de-tv/
Vídeos:
Compulsão alimentar, bulimia e anorexia na adolescência | Distúrbios alimentar | VC TBM SENTE?
https://www.youtube.com/watch?v=DYBOYILlOi4&t=636s
O insustentável peso da Autoimagem na Adolescência
https://www.youtube.com/watch?v=RmmzDSqzg7w&t=192s
Criança tem depressão – Saiba reconhecer
https://www.youtube.com/watch?v=2uh_70lUDLM
Ansiedade nas Crianças – como ela se expressa?