Há algum tempo o problema de imunização vem preocupando as autoridades e as pessoas que atuam com a saúde de crianças e jovens. Foi-se o momento em que o Brasil tinha uma das maiores coberturas vacinais do mundo. Reconhecido internacionalmente, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, fornece, de forma gratuita e para toda a população brasileira, as vacinas contra as principais doenças infectocontagiosas para as quais existem imunizantes.
No entanto, as coberturas vacinais de todas as vacinas ofertadas pelo programa vêm caindo desde 2015 e hoje estão abaixo da meta estabelecida de cerca de 95% do público-alvo, fazendo com que o país corra o risco de ver de volta doenças evitáveis já erradicadas ou pouco prevalentes.
Na última semana de outubro, nossa Fundação realizou o 5° Fórum de Políticas Públicas de Saúde Infantil, abordando esse tema. Além de mostrar os desafios para retomar as antigas taxas de imunização, foram discutidas iniciativas que deram certo como a de busca ativa vacinal do Unicef e ações da Fiocruz ou de municípios como o de São Paulo (SP) e Baturité (CE).
O mais importante, talvez, tenham sido as pesquisas inéditas mostradas durante o evento: uma sobre a influência das notícias falsas (fake news) nas mídias sociais, que mostra uma pequena ação sobretudo na vacina de covid em crianças, e outra pesquisa realizada pela equipe liderada pela professora Lorena Barberia, da Universidade de São Paulo, e aplicada pela Quaest em uma amostra nacional, representativa para a população brasileira e para as cinco regiões do Brasil – 2.129 entrevistas realizadas face-a-face, com entrevistas domiciliares em todo o território brasileiro, entre 29 de julho e 3 de agosto de 2023.
Nesse levantamento, temos boas notícias, pois os dados confirmam que adultos com filhos continuam considerando a imunização como uma parte integral dos cuidados da saúde das crianças e dos adolescentes no Brasil. 98% dos responsáveis com filhos de idade igual ou inferior a 14 anos afirmam que vacinaram seus filhos com todas as vacinas indicadas por profissionais de saúde.
Em média, 83% dos brasileiros entrevistados que possuem filhos afirmam que vacinaram seus dependentes. A adesão à vacinação entre todos os entrevistados que possuem filhos foi superior a 75% em todas as regiões do país.
Das pessoas que têm filhos, 98% em todo o território brasileiro, considera a vacina um meio importante na prevenção dos riscos associados à meningite, doença considerada grave pela população em geral. Níveis similares de aceitação da vacina contra a meningite foram identificados em todas as regiões brasileiras. Esse resultado sugere que a população brasileira leva em consideração a gravidade da doença ao se decidir sobre vacinar seus filhos.
Outro dado importante constatado na pesquisa é que há amplo apoio dos responsáveis brasileiros em vacinar seus filhos em escolas. As respostas apontam que, nos casos de influenza, HPV e covid-19, mais de 80% dos entrevistados com filhos em todas as regiões do país concordam que os filhos possam receber vacinas nas escolas. Essa pode ser uma das soluções para diminuir a falta de sequência das vacinas nos primeiros anos e completar todo o ciclo básico de vacinação.
Os esforços para vacinar crianças em todo o mundo contra doenças mortais, como sarampo e difteria, começaram a se recuperar em 2022, após um retrocesso histórico causado pela pandemia de covid-19. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Unicef, e o mesmo está ocorrendo no Brasil.
Creio que o importante para os nossos governantes foi saber que as mídias sociais não têm a mesma importância que têm outros países aqui no Brasil, que, de maneira geral, há grande percepção da importância das vacinas e pouca resistência em fazer a imunização orientada por profissionais de saúde além de aceitar que a vacinação seja feita nas escolas.