Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

As diferenças que encontramos no atendimento pediátrico

Consultas médicas: as diferenças no atendimento pediátrico

Consultas médicas: as diferenças no atendimento pediátrico

Quem entra numa sala de espera de atendimento para puericultura ou especialidades no serviço público, encontra salas mais amplas, atendimento por senha, horário marcado, painéis eletrônicos e menor tempo de espera. O atendimento é feito com carinho, na maior parte das vezes, e o acolhimento existe. No entanto, o tempo de espera para marcação de consultas ainda é grande e não existe uma filosofia de treinamento ou orientação adequada dos pais, para que entendam que o atendimento de urgência deve ser restrito aos locais adequados. Consultas emergenciais são muitas vezes atendidas nos postos de saúde e consultas de rotina ou pouco relevantes (do ponto de vista de saúde) são atendidas nas urgências.

Seria muito fácil comparar com o quadro de muitos anos atrás, quando eu era um médico de ambulatórios e era chefe de plantão no PS de um hospital universitário. Atendia urgências nos ambulatórios e pedidos de atestados no pronto-socorro. Era fácil de entender, as filas dos ambulatórios eram fenomenais e não serviam para aguardar a situação que a família estava enfrentando num determinado momento. Já no pronto-socorro, as filas eram grandes, mas a criança era atendida de qualquer forma e saía com algum tipo de orientação.

Há muito tempo existiam os consultórios particulares. Médicos com algum tipo de recurso alugavam espaços ou tinham seu próprio espaço. Pediatria geral ou especialidades, os clínicos pediátricos determinavam seu local de trabalho, seu ritmo, sua forma de atender. Mas não tinham qualquer treinamento nas escolas médicas. Como chamar a família, como marcar retornos, quanto cobrar, quem punha a mão no dinheiro (sim, existia uma coisa de papel chamada dinheiro). E existiam os cheques, com fundos ou voadores, quase um estelionato.

O que era diferente era o ambiente, a forma de tratamento, a confiança e o médico para se chamar de seu. Existia o tio Fulano, o Dr. Sicrano, o professor do ano.  Secretária servindo café, água e bolo. Tapetes e móveis de época ou modernos. Espaço… Tempo presente e marcação fácil. Mas existia o porém do convênio… Marcação também mais complexa, maior burocracia e menos tempo de consulta. Diferenças dentro do próprio espaço-tempo. Alguns marcavam em dias separados convênios e particulares, crianças e adolescentes. Mas mesmo os que tinham planos tinham a sensação de que o atendimento era mais exclusivo, inclusivo e seguro. E se não gostavam, mudavam de médico.

Ainda existia o hospital universitário. Todos os especialistas em um único espaço com porta de entrada pelo pronto-socorro ou ambulatórios de puericultura, abria-se um leque de oportunidades, de ter todos os exames e atendimentos em um único local. Mesmo assim, a entrada dos pacientes era restrita ao local de moradia ou à gravidade da doença. Havia a garantia de um atendimento mais aconchegante, com participação de alunos e residentes de pediatria supervisionados.

Será que algo mudou? Acredito que não muito. Talvez os espaços físicos dos ambulatórios, convênios, hospitais escola e consultórios de forma geral estejam ficando cada vez mais parecidos. Humanização, arquitetura hospitalar e de saúde, cursos de treinamento de secretárias, e espaços compartilhados foram termos incorporados e levados a efeito no dia a dia. No entanto, todos os dias, aparecem reclamações de tempo de atendimento demorado, médicos que atendem mal, secretárias grosseiras, pediatras não disponíveis na urgência ou nos hospitais. E muitos diagnósticos deixam de ser feitos. E outros são feitos com maior velocidade.

As diferenças estão ficando menos intensas? Parece que não e ainda temos um longo caminho para chegarmos a um sistema mais equitativo como os de alguns países europeus.

Fica, no entanto, uma pergunta. Se os sistemas equalitários são tão bons, por que pacientes nossos que estão no exterior gritam em busca de ajuda via telemedicina ou consultas por telefone ou WhatsApp? Ahhh, não conseguimos falar com nosso médico, não podemos fazer perguntas, posso mandar uma foto?

E os custos? Consultas custam uma jeans ou um vestuário, um celular básico ou de ponta? Quanto pagamos por medicamentos supérfluos ou extremamente necessários? Quantos exames precisam ser pedidos? Precisamos de prescrição em todos os casos? Quanto pagamos pelos convênios e quanto os convênios repassam aos médicos…

Uma eterna disputa que não terá final feliz. Uns seguirão sendo mais especiais que outros. Mas os sistemas de saúde precisarão correr para se equiparar à medicina privada na rapidez, na velocidade de marcação, na inclusão e no tempo de consultas e exames. E o sistema de saúde privado pode se diferenciar não pelo preço abusivo, mas pelo acolhimento diferenciado. Todos têm direito à saúde plena e de acordo com padrões elevados de conduta.

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