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O que você oferece aos seus filhos para beberem nos primeiros 5 anos de vida pode moldar as preferências gustativas para o resto da vida. Mas, desde leites vegetais e infantis até sucos 100% naturais, passando por bebidas de frutas adoçadas com estévia e leite aromatizado, as opções e o marketing podem ser esmagadores e deixam os pais sempre na dúvida do que é melhor para os pequenos.
Como pediatra, minha caixa de mensagens ficava inundada com essas questões. Felizmente, as bebidas mais bem escolhidas são realmente simples: água e leite puro. A água pura fornece a hidratação que todos nós precisamos para viver. O leite fornece cálcio, vitamina D, proteínas, vitamina A e zinco – todos essenciais para o crescimento e desenvolvimento saudáveis. Aqui, vão algumas das perguntas mais frequentes e as orientações:
Quando posso dar água ao meu bebê?
Por volta dos 6 meses, você pode começar a oferecer ao seu bebê um pouco de água, se você estiver amamentando. Em dias muito quentes, como tivemos esse ano, talvez seu bebê possa necessitar um pouco de água antes desse período. Pode ser em copos com bico ou mesmo mamadeiras. Isso ajuda a desenvolver habilidades para beber com copos e familiaridade com a água.
Observe que é improvável que a ingestão real de água substitua muito leite materno ou fórmula neste momento. Lembre-se de que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a amamentação como única fonte de nutrição para seu bebê por cerca de 6 meses. Quando você adiciona alimentos sólidos à dieta, a SBP apoia a continuação da amamentação pelo tempo que você e seu bebê desejarem, por dois anos ou mais.
Aos 12 meses, você pode começar a dar leite integral ou com baixo teor de gordura ao seu bebê.
E todos os outros tipos de bebidas?
Embora beber apenas água e leite puro seja o ideal, sabemos que as crianças pequenas podem ser expostas a inúmeras outras bebidas em algum momento.
Suco de frutas. Normalmente, o primeiro alimento que se oferece ao bebê é o suco de frutas. Hoje, isso ocorre por volta dos 6 meses. Mas, há 40 anos, quando me formei, se dava com um mês de vida. O suco não deve ser adoçado e lembre-se que carece de fibras, nutriente importante encontrado nas frutas inteiras. Depois que as crianças são expostas ao suco, pode ser difícil limitar as porções ou fazer com que prefiram água pura. Em alguns casos, quando a fruta inteira não estiver disponível, dê ao seu filho(a) uma pequena quantidade de suco, não mais que 120 ml por dia em crianças de 2 a 3 anos e não mais que 120 a 180 ml em crianças de 4 a 5 anos. O suco deve variar de fruta para estimular o paladar aos diferentes sabores.
Leite aromatizado. Chocolate, morango e outros leites aromatizados contêm açúcares adicionados. Os açúcares adicionados devem ser evitados em crianças com menos de 2 anos de idade. Crianças de 2 a 5 anos também devem evitar leite aromatizado para minimizar a ingestão de açúcares adicionados e evitar desenvolver preferência por sabores doces. Uma preferência precoce por leite aromatizado pode tornar mais difícil fazê-los aceitar o leite normal.
“Leite” à base de plantas. Para algumas crianças, uma alergia ou intolerância ao leite pode dificultar o consumo de leite de vaca. Mas, tenha em mente que a maioria dos leites vegetais não são nutricionalmente equivalentes ao leite de vaca e podem carecer de nutrientes importantes, como proteínas, vitamina D e cálcio. Além do leite de soja, os leites vegetais não são recomendados para as crianças beberem no lugar do leite lácteo. O leite de soja é nutricionalmente equivalente ao leite de vaca e é uma alternativa aceitável.
Bebidas com estévia ou adoçadas artificialmente. Os riscos para a saúde da estévia ou dos adoçantes artificiais para as crianças não são bem compreendidos. Por esse motivo, é melhor evitar bebidas açucaradas, mesmo que não tenham calorias. Quando as crianças têm uma forte preferência por bebidas doces, isso pode levá-las a não gostar ou a recusar água pura.
Leite infantil. Os leites infantis, muitas vezes comercializados pelas empresas de fórmulas infantis como “próximo estágio” ou “transitório” para o desmame do leite materno ou da fórmula, são desnecessários. Para a maioria das crianças, não proporcionam qualquer vantagem nutricional em relação a uma dieta bem equilibrada que inclua leite materno e/ou leite de vaca. Eles também são mais caros e contêm açúcares adicionados, que podem encher o estômago do bebê para que ele não tenha fome de alimentos mais saudáveis.
Bebidas açucaradas. Bebidas açucaradas como refrigerantes, bebidas esportivas, sucos de frutas, limonada, água açucarada e outras bebidas que contenham açúcares adicionados são prejudiciais à saúde da criança. Eles aumentam o risco de ganho excessivo de peso, cáries, doenças cardíacas, diabetes e doença hepática gordurosa.
Bebidas com cafeína. A cafeína em crianças pequenas aumenta o risco de sono insatisfatório, irritabilidade, nervosismo, dores de cabeça e dificuldade de concentração. É melhor evitar todas as bebidas que contenham cafeína. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reforça que a ingestão de bebidas com a substância não traz benefícios à saúde desse público e alerta aos pais e responsáveis que existem opções alimentares mais saudáveis para oferecer a eles. Mas, lembramos que o café com leite é um hábito comum no café da manhã de muitas famílias brasileiras.
A Academia Americana de Pediatria não recomenda café com cafeína, chá, refrigerante, bebidas esportivas ou outros produtos para crianças menores de 12 anos, enquanto adolescentes, entre 12 e 18 anos, devem limitar sua ingestão a menos de 100 miligramas por dia, cerca do tamanho de uma xícara de café à moda antiga.
A Comissão Europeia de Segurança Alimentar declarou, em 1999, que o consumo de 5,3mg de cafeína/kg de peso corporal/dia em uma criança de 10 anos pode causar distúrbios transitórios de comportamento, tais como excitabilidade, irritabilidade, nervosismo e ansiedade.
Pelos relatos e documentação científica, fica claro que a ingestão de bebidas contendo cafeína por crianças e adolescentes não traz benefícios à saúde, muito pelo contrário, pode até interferir no desenvolvimento neurocognitivo, influenciar o sistema cardiovascular, além do risco de dependência e intoxicação. Também me parece que se refere muito mais a energéticos e bebidas com alta concentração de cafeína e não à chá, chocolate, refrigerantes ou uma xícara de café com leite.
A ANVISA alerta que a informação disponível sobre a segurança de uso da cafeína em suplementos alimentares é insuficiente para obter um nível seguro de consumo por crianças, gestantes e lactantes.
Não existe consenso ou recomendação mundial que estabeleça limites para o consumo de cafeína por crianças e adolescentes, sendo nossa obrigação alertar pais e cuidadores que existem outras opções alimentares mais saudáveis para se oferecer às crianças.
Fontes:
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23771c-NA_Cafeina_cuidado_com_as_Crc.pdf
Academia Americana de Pediatria (Copyright © 2019)