Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Como tratar de política com crianças e adolescentes e criar cidadãos

No Brasil, o voto é facultativo para os adolescentes de 16 e 17 anos, mas o interesse do jovem brasileiro pela política tem crescido nos últimos meses. Ao menos, é isso o que mostram os números de alistamentos eleitorais realizados. Entre janeiro e maio deste ano, o país ganhou pouco mais de dois milhões de novos eleitores entre 16 e 18 anos, que no dia 2 de outubro comparecerão às urnas para exercer o nobre e digno direito do voto.

Esse número representa um aumento de 47% em relação ao mesmo período em 2018 e de 57% em relação aos quatro primeiros meses do ano em 2014.  Mas, ao mesmo tempo, em uma década o número de adolescentes de 16 e 17 anos que solicitaram o primeiro título de eleitor caiu 82%, segundo um levantamento da CNN com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com a socióloga e minha irmã, Neca Setúbal, esse movimento ocorre porque os jovens não se sentem representados por partidos políticos. “Essa geração não é de jovens alienados”. Ela destaca que os jovens estão participando de coletivos, programas sociais e querem fazer parte do cenário político, “o que acontece é que eles não têm confiança no congresso”. Neca diz ainda que existe um esforço de novas lideranças jovens se formarem, especialmente da periferia, mulheres e lideranças que assumem como causa a questão da equidade racial. “Eu vejo um jovem mais conectado com as questões brasileiras e do mundo hoje”, argumenta a socióloga.

Em casa, com nossos filhos, podemos colocar algumas questões como: Para que servem as eleições? Todo político é ladrão? O que são as fakes news? Em um ano de votação, é quase inevitável fugir dessas perguntas sobre política com crianças e adolescentes. É nosso dever como pais responder e incentivar tais perguntas, afinal entre nossos papéis está o de formar cidadãos.

Os mais de 57 milhões de menores de 18 anos no Brasil têm o direito à participação na vida política garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Não existe uma idade melhor ou adequada para se conversar com a criança ou o jovem sobre isso, a diferença é que, à medida em que crescemos, lidamos com situações políticas mais elaboradas. Os jovens precisam entender que a política vai além dos partidos e da política partidária.

Quando nem a Base Nacional Curricular prevê uma metodologia adequada para estudar atualidades e debates ideológicos – apesar de determinar o estudo disso nas escolas, o ambiente doméstico é fundamental nesse sentido.  Não é necessário que seja na sala de aula, ou em uma palestra, basta pegar um fato do dia a dia ou conversar sobre as notícias do jornal que passa na TV. Entender sobre o que falar e como falar vai depender da idade da criança e do pensamento de cada família. Por isso, não se deve deixar só para a escola esse papel. A escola existe justamente para ampliar o repertório. É obrigação dela, inclusive, falar de temas sobre os quais algumas famílias não se sentem à vontade para abordar em casa.

O importante é salientar que “política é escolha”, e esse processo deve ser valorizado em todos os momentos da educação, desde o ensino de que “não se pode ter tudo” até o de que nossas escolhas políticas “não devem privilegiar interesses individuais, mas, sim, coletivos”. Temos que ter a consciência que a roupa que compramos, o time que torcemos, nossa religião, o que comemos, a decisão de ir à balada, usar drogas ou dirigir sem carteira são decisões políticas que marcam um posicionamento e que terão consequências na sua vida em sociedade.

Trata-se de uma discussão de cidadania. É preciso reforçar que ideias contrárias às nossas não devem necessariamente ser eliminadas e sim compreendidas e respeitadas. Isso começa em casa.

O estímulo à pluralidade de visões, justamente para afastar polarizações, também é relevante, com provocações como: “Você já conversou com alguém que pensa diferente para entender por que ela tem essa opinião?”, além, é claro, de mostrar como identificar informações falsas e fora de contexto. “Ensinar a ir atrás de boas informações ajuda esses jovens a chegarem a suas próprias conclusões e, inclusive, saber que podem mudar de opinião”, ressalta a neuropsicóloga Deborah Moss. Os especialistas também recomendam trazer a perspectiva política sempre do micro para o macro contexto, ensinando o que existe de política na vida doméstica, no condomínio, na escola, no bairro, etc.

Mesmo sem título de eleitor, crianças e adolescentes têm o direito de participar da vida política, que vai além de escolher um presidente. Participar das decisões que impactam a sua vida é um direito! Para meninas e meninos de 16 e 17 anos, o voto é facultativo, mas é um importante instrumento para o exercício da cidadania.

A Fundação José Luiz Egydio Setúbal como instituição é apartidária, mas se posiciona politicamente de acordo com seus Valores, Propósito e Missão.

Fontes:

Saiba mais:

https://institutopensi.org.br/qual-a-melhor-idade-para-conversar-com-os-filhos-sobre-alcool/

https://institutopensi.org.br/usando-livros-para-conversar-com-criancas-sobre-raca-e-racismo/

https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/como-conversa-potencia-da-convivencia-entre-pares/

https://institutopensi.org.br/falando-com-o-seu-filho-sobre-a-guerra-na-ucrania/

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