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Usando livros para conversar com crianças sobre raça e racismo
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Usando livros para conversar com crianças sobre raça e racismo

Usando livros para conversar com crianças sobre raça e racismo

10/02/2021
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À luz dos recentes eventos nacionais e mundiais, muitos pais estão se perguntando se devem conversar com seus filhos sobre raça e racismo. E, se a resposta for sim, como eles podem fazer isso de maneira cuidadosa e eficaz?

Num país miscigenado como o Brasil e com um racismo estrutural tão enrraigado precisamos falar sobre isso. Nossa Fundação tem trazido o tema para discussão em diversos fóruns e foi motivo de várias sessões em nosso Congresso Internacional em novembro.

A verdade é que as crianças sofrem o impacto da raça desde muito cedo. Já aos 3 meses, o cérebro de um bebê pode perceber diferenças raciais nas pessoas ao seu redor. Aos 2 anos, as crianças absorvem estereótipos sobre raça e podem expressá-los com medo. Aos 4 anos, as crianças podem expressar preconceitos em relação à raça por meio de brincadeiras. Aos 8 anos, as crianças estão cientes das normas sociais e podem expressar preconceitos de formas mais sutis. E, aos 12 anos, muitas crianças tornam-se presas a pensamentos, ações e decisões tendenciosas.

Isso significa que há quase um período de 10 anos em que os pais podem intervir! Os pais são as principais fontes para as crianças aprenderem sobre raça e racismo. Quer os pais decidam falar com seus filhos sobre isso ou não, os filhos aprenderão com seu ambiente e com as outras pessoas em sua vida.Refletindo sobre raça: olhe para os livros. E se disséssemos que os pais podem usar os livros não apenas para ajudar a iniciar a conversa, mas também para mantê-la fluindo?

Os livros são ferramentas poderosas que podem servir como “espelhos, janelas e mapas”, refletindo a própria identidade das crianças. A leitura permite que as crianças deem alguns passos no lugar de outra pessoa, mostrando às crianças a gama de possibilidades de seu lugar no mundo.

Exposição à diversidade: quem se beneficia?

De quais crianças estamos falando? A resposta é: todas as crianças – crianças negras, crianças brancas, crianças indígenas, asiáticas, meninas, meninos, etc. Expor as crianças à diversidade ajuda crianças de todas as origens. Ajuda as crianças a formar sua própria identidade e molda suas atitudes e comportamentos em relação a pessoas que são diferentes delas. E, embora o racismo demonstre ter um impacto significativo na saúde de crianças e famílias, crianças de todas as origens raciais/ étnicas que são expostas à diversidade têm maior probabilidade de se matricular na faculdade e têm pontuações mais altas em testes, autoconfiança e habilidades de liderança.

Os livros podem ajudar a garantir que seu filho acredite em si mesmo, se torne um aliado dos outros, entenda que o racismo e a discriminação existem, reconhece o poder da bondade, compaixão e empatia pelos outros e, por fim, celebra o que é comum e diferente entre as pessoas que encontra.

Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar os pais a selecionar livros diversos e inclusivos de alta qualidade. Recomendamos escolher livros que:

• Inclua personagens que compartilham a raça, etnia de seu filho e as crenças culturais e religiosas de sua família, bem como personagens que não compartilhem
• Tenha um personagem principal que seja uma pessoa negra

Dê voz àqueles que raramente a têm.

1. Conte histórias que desafiem mitos ou estereótipos.

  • Pequeno Príncipe Preto: Rodrigo França: Em um minúsculo planeta, vive o Pequeno Príncipe Preto. Além dele, existe apenas uma árvore Baobá, sua única companheira. Quando chegam as ventanias, o menino viaja por diferentes planetas, espalhando o amor e a empatia
  • Amoras: Emicida. Mostra a importância de nos reconhecermos nos pequenos detalhes do mundo
  • Omo-Oba-Histórias de Princesas. Texto de Kiusam de Oliveira sobre princesas negras

2. Conte histórias que normalizem a vida cotidiana entre todas as identidades raciais:

  • O livro das origens. Texto de José Arrabal Neste livro o autor apresenta uma série de mitos de algumas regiões do Brasil, África e México sobre origens

3. Ajude as crianças a desenvolver habilidades de ação social (ajudar os idosos, ter consciência ambiental ou ser voluntário em um refeitório, por exemplo).

  • Betina – Nilma Lino Gomes. A história resgata a tradição oral, valorizando a cultura e ancestralidade

4. Ajude as crianças a reconhecer as desigualdades na estrutura social. São escritos ou ilustrados por minorias raciais/ étnicas.

  • Todas as cores do negro. Texto e ilustrações de Arlene Holanda. Aborda em linguagem de prosa poética o universo da cultura e herança dos povos africanos no Brasil. Passeia pelo processo histórico da escravidão, com foco na resistência e se demora no período pós-abolição

5. São apropriados para a idade (livros ilustrados para crianças de 5 anos ou menos e livros com capítulos para crianças do ensino fundamental).

  • Menina bonita do laço de fita. Texto de Ana Maria Machado. Uma linda história de valorização da beleza negra.

6. Personagens presentes enfrentando experiências da vida real.

  • Carolina Maria de Jesus. Esta obra conta a trajetória de Carolina Maria de Jesus. Empregada doméstica, catadora de papel e moradora de favela. Ao lançar o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, tornou-se uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira.Este livro está presente na Coleção Black Power. Tem vários personagens como Obama, Mandela, Martin Luther King.

7. Apresente experiências relevantes para as suas próprias.

  • O Menino Marrom – Ziraldo, narra a infância de duas crianças com a cor de pele diferente: uma é marrom, a outra é cor-de-rosa

Também recomendamos evitar livros que promovam estereótipos. como aqueles que se concentram em comida, moda, folclore, festivais e gente famosa. Os estereótipos supergeneralizam indivíduos ou grupos de pessoas. Ao escolher livros sobre esses temas, é importante refletir se o livro está reforçando estereótipos e selecionar outros livros que apresentem esse grupo racial ou étnico em outros contextos.

  • Estejam abertos para responder às perguntas de seus filhos e façam alguma pergunta como:
  • Crianças em idade pré-escolar: “O que é diferente e semelhante entre seu filho e os personagens do livro?”
  • Crianças em idade elementar: “Quem é seu personagem favorito e o que você gostou neles?”
  • Pré-adolescentes e adolescentes: “Como o livro o inspirou a pensar de forma diferente? Como o livro desafiou sua compreensão de raça? “
  • Considere criar um “clube do livro” familiar com adolescentes, onde pais e adolescentes leem o livro e compartilham suas reflexões e o que aprenderam.

Falar sobre raça e racismo é importante. As conversas podem começar cedo e continuar. Os pais são os primeiros professores de uma criança e os filhos de nossa nação precisam de nós mais do que nunca. Ao ler livros infantis diversos e inclusivos, temos a oportunidade de afirmar sua própria identidade, ajudá-los a aprender sobre os outros, construir empatia e encorajar sua bondade para com os outros, tudo em um esforço para construir um mundo melhor e mais justo.

Fontes:
https://leiturinha.com.br/blog/representatividade-negra-para-criancas/
https://www.dentrodahistoria.com.br/blog/educacao/alfabetizacao-e-leitura/livros-infantis-protagonistas-negros/

Saiba mais sobre este tema:
https://institutopensi.org.br/livros-constroem-cerebros-e-ligacoes-afetivas/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/o-racismo-e-as-criancas/
https://institutopensi.org.br/a-saude-das-criancas-negras/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/eu-tambem-tenho-um-sonho/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/o-desenvolvimento-da-leitura-para-criancas/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/leitura-alfabetizacao-infantil/

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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