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Este foi o título de uma aula que assisti na NCE (National Conference & Exibition) da AAP (American Academy of Pediatrics) em outubro. Nela, o professor Perri Klass, um pediatra e jornalista da Universidade de Nova York (NYU), discorreu sobre a importância de ler para crianças menores de 5 anos. Até aí, nenhuma novidade, este é um fato sabido há muitos anos. Aqui no Brasil, o Itaú Social tem um programa lindo, apoiado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. O Leia para uma criança existe há mais de 10 anos e distribui milhares de livros gratuitamente em todo o Brasil para que pais leiam com (e para) seus filhos.
A importância de ler não está só no estímulo que a criança recebe – e por isso a construção do cérebro mencionada no título. O momento da leitura também cria vínculos com quem conta a história. Em um mundo cada vez mais digital, passa a ser ainda mais significativo um processo que envolve o manuseio de um livro por um bebê, a interação humana, o fazer caretas, a emissão dos diferentes sons e as perguntas que surgem ao longo da história. É o que torna a interação entre livro, criança e adulto algo mágico e saudável.
As evidências cientificas dos benefícios da leitura são muitas. Englobam desde o aumento do vocabulário, a facilitação da alfabetização, o aproveitamento escolar nos primeiros anos, a sociabilização, a melhora da resiliência e a prevenção ao estresse tóxico, tão prejudicial nesta fase etária. Todos sabemos que isso, quando ocorre na primeira infância, terá um impacto no resto da vida do indivíduo.
A AAP recomenda o uso da leitura para crianças em situação de risco. Trata-se de uma ótima ferramenta de afeição, mesmo em lares sob estresse extremo. Além disso, cria rotinas e dá sensação de segurança para as crianças e seus pais, ajuda na prevenção de depressão dos adultos, diminui o tempo de tela e aumenta o estímulo cerebral – com melhora do vocabulário e de prontidão na pré-escola.
Os pediatras são incentivados a estimular os pais a lerem para seus filhos desde que saem da maternidade e estabelecerem uma rotina de leitura antes dormir ou em outros momentos. Conforme a criança vai crescendo, deve ser estimulada a interagir mais, segurando e manipulando o livro e apontando alguma coisa ou cor, por exemplo. Aqui vão algumas dicas simples e preciosas para incentivar o hábito da leitura nas crianças:
Com 1 ano:
Escolha livros de papelão mais grossos, para que possam ser manipulados;
Nomeie coisas quando apontadas pelo bebê ou pergunte os nomes apontando;
Use os livros nas rotinas de dormir e nas horas de espera;
Escolha livros de nomear ou de rimas.
Com 2 anos
Deixe manipular mais os livros;
Junte as palavras e repita as histórias familiares;
Aumente o vocabulário com perguntas como: “o que é isso?”;
Escolha alguns livros com histórias simples e curtas e deixe a criança decidir qual prefere.
Com 3 anos
Manipule as páginas em ordem;
Sente junto para histórias mais longas;
Faça e responda questões mais complexas, como: “E agora? O que vai acontecer?”;
Emita sons de animais, vento, rios, exagere em alguns;
Escolha livros que tenham letras, histórias maiores, assuntos que interessam as crianças (dinossauros, animais, cavalos, carros).
Com 4 anos
Já começa o reconhecimento de letras e números;
As histórias são maiores e são familiares, gosta que sejam recontadas;
Já conseguem seguir histórias mais complexas e longas;
Deixe a criança escolher o livro e peça para ela contar a história a partir das figuras;
Converse com a criança sobre as emoções que a história trás (medo ou alegria, por exemplo);
Encoraje a desenhar e até a escrever;
Escolha livros de assuntos que a criança gosta mais.
A importância de ler para uma criança no mundo atual eu diria que é vital. Por meio da leitura, desenvolvemos a imaginação, podemos nos desenvolver como seres humanos mais complexos e criativos. Isso, sem dúvida, será um diferencial no século XXI.
A leitura de livros não impede o uso de telas – podemos, inclusive, usá-las para a leitura. Mas o que importa é a criança interagir, não com a tela, mas com quem conta a história. Que ela ou o adulto faça os sons e não o aparelho. Que as perguntas sejam feitas por humanos e não por algoritmos. Não se preocupe, elas saberão usar um computador, e muito mais que isso, aprenderão a ser criativas.
Saiba mais:
https://www.euleioparaumacrianca.com.br
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/leitura-em-voz-alta-pode-reduzir-o-tdah/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/o-desenvolvimento-da-leitura-para-criancas/
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/so-a-arte-podera-nos-ajudar-a-nos-salvar/
https://institutopensi.org.br/dificuldades-de-aprendizagem-conhecer-perceber-e-enfrentar/
Fonte:
Books build brains and bonds
Perri Klass – NCE 2020