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A palavra anorexia vem do grego e significa falta de apetite. Como normalmente não há uma total ausência da alimentação, muitos especialistas preferem a palavra hiporexia, que significa diminuição do apetite.
Essa é uma queixa frequente, reportada por pais e cuidadores, gerando insegurança e dúvidas sobre o crescimento e a nutrição adequados. Embora, em muitos casos, não represente um risco iminente à saúde, a baixa ingestão alimentar pode estar associada a fatores diversos — fisiológicos, emocionais ou comportamentais — e requer atenção cuidadosa. Identificar as causas, compreender o contexto e propor intervenções adequadas são passos fundamentais para garantir o bem-estar da criança e a tranquilidade da família.
Já no aspecto emocional e comportamental, o ambiente familiar e a forma como os pais percebem o apetite dos filhos influenciam fortemente esse processo. Muitas crianças consideradas “sem apetite” mantêm-se dentro da faixa de crescimento esperada, o que indica que nem sempre a preocupação dos adultos corresponde a um quadro de risco real. Estresse, mudanças na rotina, rejeição a determinados alimentos ou uma fase natural de menor fome também podem estar por trás da situação.
É importante dizer que cada criança tem um padrão alimentar próprio, e forçar o consumo ou transformar as refeições em momentos de tensão pode agravar ainda mais a recusa alimentar. Por isso, é essencial que profissionais de saúde — especialmente médicos e nutricionistas — avaliem o quadro com sensibilidade e ofereçam orientações específicas, respeitando as necessidades nutricionais, o estágio de desenvolvimento e a realidade familiar.
Planejar refeições equilibradas, oferecer variedade de cores, sabores e texturas, respeitar os sinais de fome e saciedade e envolver a criança na preparação dos alimentos são estratégias eficazes para melhorar a aceitação alimentar. O resgate do prazer de comer é um dos caminhos mais promissores para lidar com a falta de apetite.
Anorexia em adolescentes
A anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por uma busca incessante pelo emagrecimento, uma imagem corporal distorcida e um medo extremo da obesidade. Essa alteração intensa da autoestima leva a buscar formas de perder peso, como a restrição do consumo de alimentos, atividade física exagerada, uso de medicamentos e métodos de purgação (vômitos), que resultam em um peso corporal significativamente baixo. A anorexia nervosa é um transtorno alimentar complexo influenciado por uma variedade de fatores psicológicos e socioculturais. Compreender esses fatores subjacentes é fundamental para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e tratamento.
Fatores psicológicos
A sensibilidade sensorial e a inflexibilidade cognitiva são traços psicológicos associados a comportamentos alimentares restritivos e evitativos, que podem ser precursores da anorexia. Esses traços são frequentemente observados em crianças com Transtornos do Espectro Autista (TEA) e podem se manifestar como alimentação seletiva ou neofobia alimentar, levando potencialmente a distúrbios alimentares mais graves, como a anorexia.
Influência dos pais e práticas alimentares
Os estilos de alimentação dos pais e o clima emocional durante as refeições têm um impacto significativo nos comportamentos alimentares das crianças. Práticas alimentares responsivas, que envolvem reconhecer e responder aos sinais de fome e saciedade da criança, estão associadas a hábitos alimentares mais saudáveis. Por outro lado, práticas alimentares não responsivas podem contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares, incluindo anorexia.
Fatores socioculturais
As crenças culturais e as tradições influenciam os tipos de alimentos oferecidos às crianças e os métodos usados para incentivá-las a comer. Famílias com recursos financeiros limitados podem enfrentar desafios adicionais, como a insegurança alimentar, que pode exacerbar as dificuldades alimentares e contribuir para o desenvolvimento da anorexia.
Padrões e diversidade alimentar
A baixa diversidade alimentar é um fator de risco significativo para a obesidade, que pode estar indiretamente relacionada à anorexia por meio de pressões sociais para se adequar a certos padrões corporais.
Promover práticas alimentares responsivas e aumentar a diversidade alimentar pode ajudar a mitigar o risco de desenvolver anorexia e outros transtornos alimentares. Ao abordar esses fatores, podemos trabalhar em direção a estratégias mais eficazes de prevenção e tratamento da anorexia.
Anorexia nervosa e bulimia na adolescência
Durante a adolescência, fase marcada por intensas transformações físicas, emocionais e sociais, o corpo e a identidade estão em constante construção. Nesse contexto, surgem com frequência preocupante os transtornos alimentares, sendo a anorexia nervosa e a bulimia nervosa dois exemplos. Eles estão associados a distorções severas da imagem corporal e comportamentos alimentares prejudiciais, que podem comprometer não apenas a saúde física e mental, mas também a vida social e acadêmica dos adolescentes.
A anorexia e a bulimia atingem, em sua maioria, meninas adolescentes, especialmente a partir da puberdade e nos últimos anos da adolescência. Dados apontam um aumento na prevalência desses transtornos, o que acende um sinal de alerta para pais, educadores e profissionais de saúde.
A origem dos transtornos alimentares é multifatorial. Entre os fatores biológicos, destacam-se a predisposição genética e as mudanças hormonais da puberdade, que podem influenciar o comportamento alimentar e o humor. Há também forte influência sociocultural: padrões estéticos inatingíveis, promovidos por mídias e redes sociais, reforçam a ideia de que a magreza extrema é sinônimo de sucesso e aceitação.
O tratamento dos transtornos alimentares exige uma abordagem ampla e individualizada, sendo a recuperação nutricional um dos pilares. Além de restaurar o peso corporal, o objetivo é reeducar o comportamento alimentar e corrigir deficiências nutricionais. No entanto, a adesão ao plano alimentar pode ser um desafio, especialmente nas fases iniciais do tratamento.
Mesmo com acesso a terapias estruturadas e acompanhamento profissional, alcançar a recuperação total ainda é uma meta difícil para muitos pacientes. Baixas taxas de remissão completa são observadas em estudos, o que revela a complexidade desses transtornos.
Para finalizar, é importante destacar que flexibilidade, empatia e escuta ativa são essenciais nesse processo, assim como o envolvimento de uma equipe multiprofissional especializada na área.
Texto em colaboração com Luana Romão – Pesquisadora do CENDA – Instituto PENSI e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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Atualizado em 6 de junho de 2025