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Os estilos dos pais na alimentação infantil
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Os estilos dos pais na alimentação infantil

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14/07/2023
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Há muitos anos, a forma como os pais reagem a crianças que não se alimentam bem e como eles se comportam nestes casos têm sido alvo de muitas investigações. Vários questionários de comportamento, análise das reações e de estilos de alimentação têm sido publicados em todo o mundo.

Os estilos parentais ou a forma como os pais e cuidadores respondem ao grau de ansiedade e exigência de acordo com o comportamento das crianças são avaliados pela psicologia há muito tempo. No entanto, somente com os trabalhos de uma professora do Baylor College, na cidade de Houston, no Texas (EUA), a Dra. Sheryl Hughes, é que houve um transporte destes comportamentos para a alimentação. Ela e sua equipe determinaram que haveria quatro grandes grupos de comportamentos dos pais:

1 – Pais indulgentes ou permissivos: que não têm e não dão limites para as crianças, facilitando acesso a várias preparações alimentares, doces, guloseimas e os pratos mais aceitos pelas crianças, em qualquer local e horário. Usualmente, eles citam menos problemas na alimentação da criança porque raramente há uma recusa destas quando se oferece o alimento favorito. Nós acreditamos que famílias mais permissivas são filhos de pais muito controladores, como uma resposta geracional ao controle familiar muito restrito.

2 – Pais controladores: são os que tem controle absoluto sobre a alimentação, horários, local e tipos de alimentos que são oferecidos às crianças. É o tipo mais comum na história, especialmente entre os pais (e menos com as mães), em que o simples levantar da voz gerava um medo terrível de não aceitar o alimento que estava na mesa. Os pais controladores geram filhos com maior descontrole, assim que saem do jugo familiar, com mais casos de obesidade e doenças crônicas.

3 – Pais autoritativos (os chamados ‘normais’): que respondem adequadamente aos sinais de fome e saciedade, regulam horários, são flexíveis e apoiadores. São apenas um quarto de todos os pais.

4 – Pais pouco envolvidos (terceirizadores): que têm pouco contato com as crianças, não estão próximos em todos os horários e planejamento das refeições e têm pouco conhecimento da dinâmica das refeições.

Este questionário, que foi formulado nos Estados Unidos, foi traduzido e validado para o Brasil pela nossa equipe em contato com a pesquisadora principal. Nos encontros que tivemos com a Dra. Hughes, propusemos algumas mudanças de nomes e critérios, e no subitem 4, indicamos que há um grupo de pessoas terceirizadoras (não envolvidas), que são extremamente responsáveis. São apenas pessoas que, por motivos de trabalho, precisam sair de casa e deixar suas crianças com avós, cuidadores, escolas etc. Mas são eles que têm toda a responsabilidade na alimentação.

Em trabalho recente do nosso grupo de pesquisa no Centro de Excelência em Nutrologia e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI, e assunto de tese da nutricionista Evelin Hasbani, as dificuldades alimentares foram positivamente associadas a crianças do sexo feminino, histórico de problemas com alimentos dos pais e das mães, bem como maior frequência do comportamento dos pais em oferecer muitas opções de alimentos para a criança.

O estilo parental indulgente ou permissivo, a prática de a criança compartilhar o cardápio da família e a maior frequência do comportamento dos pais em estabelecer limites para o lanche, foram relacionados a menores chances de a criança apresentar dificuldades alimentares.

É comum que os pais expressem maior preocupação com o peso e a nutrição das filhas do que com a dos filhos. Nesse sentido, os padrões sociais relacionados à imagem corporal e ao peso das mulheres culturalmente destacados no ocidente (e reforçados pelas mídias sociais) podem influenciar as diferenças nos comportamentos dos pais sobre a alimentação das meninas em relação aos meninos, e na maior percepção de dificuldades nas meninas.

Pais indulgentes apresentam um comportamento que expressa menor expectativa, monitoramento e estrutura em relação à alimentação e oferecem maior liberdade de escolha alimentar, tendendo a não perceberem problemas.

Pais, mães e cuidadores são modelos na nutrição das crianças e são, em grande parte, responsáveis pela exposição aos alimentos. Portanto, suas experiências de terem apresentado problemas alimentares, no passado ou no presente, podem ser relevantes para as condições alimentares de seus próprios filhos.

A ansiedade e a preocupação com o fato de as crianças serem consideradas ‘difíceis’ de comer podem modelar práticas não responsivas e, da mesma forma, neste estudo, a prática de oferecer muitas opções de alimentos à criança foi positivamente associada ao aparecimento de dificuldades alimentares. A preparação de pratos favoritos, evitando conflitos nas refeições, é uma estratégia que, além de afetar a estrutura das refeições, pode reforçar o ciclo de recusa e levar a criança a dietas mais restritas e a um menor consumo de frutas e vegetais.

Baseados nestas experiências, recomenda-se que as opções de alimentos sejam orientadas dentro de um limite de preparações oferecidas, mas a autonomia e o envolvimento da criança na escolha dos alimentos devem ser sempre incentivados.

Artigo em parceria com a nutricionista, mestre em Pediatria pela EPM-UNIFESP e pesquisadora do CENDA – Instituto PENSI, Evelin Hasbani.

Dr. Mauro Fisberg

Dr. Mauro Fisberg

Pediatra e Nutrólogo (CRM 28119 RQE 3935 E 37146). Coordenador do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI. Professor Associado Doutor Sênior do Setor de Medicina do Adolescente - Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).

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