PESQUISAR

Sobre o Centro de Pesquisa
Sobre o Centro de Pesquisa
Residência Médica
Residência Médica
Qual a melhor idade para conversar com os filhos sobre álcool
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp
Qual a melhor idade para conversar com os filhos sobre álcool

Qual a melhor idade para conversar com os filhos sobre álcool

18/10/2021
  1909   
  0
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Google Plus Compartilhar pelo WhatsApp

Responder à pergunta proposta no título do artigo “Qual a melhor idade para conversar com os filhos sobre álcool” supõe fazer antes, segundo meu ponto de vista, ao menos dois considerandos fundamentais sobre  esse importante e antigo problema social e familiar. Por isso, peço ao leitor ou leitora deste texto que me permitam, primeiro, fazer tais comentários, para, no final, responder à pergunta que, mesmo assim, pedirá uma terceira consideração.

Primeira consideração: álcool e ciclo da vida

Crianças. Crianças não consomem álcool, sobretudo as pequenas. Mas, elas  participam da vida de sua comunidade e observam o uso e o valor — positivo ou negativo — que é atribuído ao álcool bem como sobre as consequências que o uso, ou melhor, o abuso desse tipo de bebida pode produzir nas  pessoas. Em nossa sociedade, pessoas, principalmente, adultos e os mais velhos bebem na frente das crianças e exibem diante delas o efeito etílico sobre seus comportamentos. Crianças podem observar e acompanhar, às vezes com medo e sofrimento, como seu pai, tio ou avô, ou então sua mãe, vão se tornando gradativamente “outra pessoa”, conforme ingerem uma bebida alcoólica.  Elas observam que alguns deles ficam violentos, batem, fazem ofensas verbais. Outros, tornam-se deprimidos, calados.  Penso ser raro uma família  não ter uma história para contar sobre consequências negativas do abuso do álcool em um ou alguns de seus integrantes. Não nos esqueçamos que crianças são muito boas observadoras dos comportamentos dos adultos, principalmente daqueles que são referências para sua vida. Igualmente, elas imitam esses adultos e são mais atentas ao que fazem e às consequências do que fazem, do que dizem ou do que discursam sobre um problema.

Adolescentes. A iniciação ao uso do álcool começa cada vez mais cedo em nossa sociedade. Há jovens com 12 anos de idade, que consomem bebida alcoólica. Ela acontece em festas ou por influência dos amigos. A adolescência caracteriza-se pela busca de identidade e o jovem às vezes a encontra imitando o comportamento de um colega que se afirma fazendo coisas proibidas e perigosas. O consumo de bebida alcoólica frequentemente está associado à ideia de que, através de seu consumo, obtemos mais prazer, facilitamos o convívio social e ganhamos sensação de liberdade.

Adultos. A fase adulta é a mais longa no ciclo de vida. Ela se estende dos 18 -20 aos 60 – 70 anos de idade. É a fase, em princípio, da plena autonomia em que as pessoas cuidam de si mesmas e, ao mesmo tempo, cuidam dos outros, realizam projetos dos mais diversos tipos. É também a fase de vida em que mais se bebe e, algumas vezes, mais se prejudica e é prejudicado quando isso se torna vício — o alcoolismo — causando dependência, prejudicando a boa realização do que é mais caro à pessoa e à sociedade.

Idosos. A população de idosos está aumentando no Brasil. Aposentadoria, solidão, viuvez, isolamento social “explicam” frequentemente porque idosos recorrem ao abuso do álcool, buscando “evitar” sua depressão, ansiedade ou sentimento de vazio nesta fase da vida, nem sempre reconhecida ou valorizada.

Em síntese, o álcool e seus efeitos estão presentes, de um modo ou outro, em todas as fases do ciclo de vida.

Segunda consideração: paradoxos sobre o uso, ou não uso, do álcool

Na literatura científica ou jurídica, os benefícios ou malefícios advindos da ingestão alcoólica podem ser interpretados de muitos modos. Por exemplo, é fato que há lei, nem sempre respeitada, proibindo a oferta de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Seu uso é permitido para adultos e idosos, desde que consumido, como se lê nos rótulos das garrafas,  de forma moderada. Ao contrário, isso não acontece, agora, quanto ao consumo do cigarro que é condenado em todas as idades e circunstâncias. Além disso, observamos na prática da vida muitas combinações. Há pessoas que não gostam de beber álcool. Há umas que não bebem, apesar de gostarem disso, por razões religiosas, morais ou doenças. Há outras que fazem um uso social, controlado ou moderado, da bebida. Há pessoas que fazem um uso descontrolado e que prejudicam a si mesmas e os outros, geralmente, aqueles a quem  mais amam. Há algumas que, diante dessas consequências, fazem tratamento e se recuperam. Há outras que fazem tratamentos e têm recaídas constantes. Há pessoas que os tratamentos não fazem o efeito que se espera. Em certas situações, mesmo que o “discurso” seja de crítica ao alcoólatra, na prática é conveniente que ele continue assim, pois sua recuperação mudaria o “jogo de poder” ou sua posição na família ou empresa. Ou seja, sua doença ou dependência é conveniente, ainda que criticada.

Diante dos comentários acima, então, quando conversar com os filhos sobre álcool? Responder a essa pergunta supõe, segundo penso e já antecipado, uma terceira consideração. Vamos a ela.

Terceira consideração: o que é e como conversar sobre algo?

Conversar é diferente de dar conselhos, de fazer sermão, de ameaçar. Uma conversa supõe liberdade de expressão, de conviver com ideias mesmo que opostas as nossas. Pode-se conversar de muitas e muitas maneiras. Por exemplo, uma boa conversa com crianças pequenas expressa-se pela qualidade do contato físico ou sensorial, pela música, pelo cuidado amoroso e confiável. Conversa-se contando histórias, fazendo desenhos, brincando, montando quebra-cabeças, oferecendo comportamentos que valem a pena imitar ou valorizar positivamente. Com adolescentes, conversa-se observando seus comportamentos, seus silêncios, as novidades de suas novas amizades, sua adesão ou não adesão a certas práticas de vida, ao como se comportam na escola e nos estudos, ou então, tendo uma conversa direta com eles, ainda que respeitosa e sincera. Com adultos conversa-se recorrendo a dados de pesquisa; discutindo os prós e os contra o tema considerado; sugerindo oportunidades de tratamento especializado, se for o caso; comentando-se resultados de experiências vividas. Com os mais velhos, sobretudo se são nossos pais ou avós, conversa-se buscando compreender porque fazem coisas que não são boas para sua saúde, por que estão sofrendo. Conversa-se, buscando ajudá-los, convivendo sensivelmente com o que fazem de sua vida, agora que ela está conhecendo seu fim.

Considerações finais: quando conversar com seu filho sobre álcool?

O leitor ou leitora que chegou comigo até aqui, pode, quem sabe,  antecipar minha resposta à pergunta formulada no título deste artigo. É bom conversarmos com nossos filhos e, por extensão, conosco mesmo, com nossos familiares e amigos, em todas as fases da vida, mudando-se o que deve ser mudado. Mas, permitam-me uma última consideração. Conversar é diferente de dar conselhos morais, de acusar ou ofender, de fazer comparações em que alguém é considerado bom e  alguém é considerado mau. Muitas vezes, confundimos conversa com lição de moral, esquecidos de que nem sempre o que falamos coincide com aquilo que nós mesmos fazemos. Crianças e jovens observam e percebem que, muitas vezes, nossas falas não correspondem ao nosso comportamento. Há pessoas que, de fato, não bebem e, portanto, não são prejudicadas por isso, mas, ao mesmo tempo, são más gestoras de seu modo de trabalhar, gastar dinheiro ou comer. Ou seja, critica-se alguém por “x”, desconsiderando-se que pode ser criticado por “y”.  Práticas negativas ou ruinosas para nossa saúde e qualidade de vida precisam, merecem, ser conversadas, refletidas, cuidadas, compreendidas e, conforme o caso, aceitas ou “perdoadas”. Mas, há de se saber como fazê-lo. E, muitas vezes, temos que reconhecer que essa conversa só pode acontecer com um profissional ou um contexto qualificado para isso.

Dr. Lino de Macedo

Dr. Lino de Macedo

Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). É presidente da Academia Paulista de Psicologia e professor emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Integra a Cátedra de Educação Básica do IEA (USP) e é assessor do Instituto PENSI.

deixe uma mensagem O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

posts relacionados

INICIATIVAS DA FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL
Sabará Hospital Infantil
Pensi Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil
Autismo e Realidade

    Cadastre-se na nossa newsletter

    Cadastre-se abaixo para receber nossas comunicações. Você pode se descadastrar a qualquer momento.

    Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de Privacidade de Instituto PENSI.