Estamos, hoje, em plena instauração da cultura digital com todas as suas vantagens e desvantagens. Temos de aprender a nos beneficiar das vantagens e nos protegermos das desvantagens. Aliás, sempre foi assim e com quase tudo. É bom ler, mas há conteúdos que não valem a pena ser lidos. É bom usar a faca na cozinha e nas cirurgias, mas não para matar ou machucar pessoas.
Crianças e adolescentes são vítimas fáceis das novas tecnologias desenvolvidas pela sociedade. Hoje, por exemplo, deixadas ao sabor dos estímulos digitais, elas tendem a consumir tudo o que se lhes apresentam e que lhes dão gosto de ver, ouvir, interagir ou digitar. Elas se tornam fácil e rapidamente aditivas e fazem uso dos recursos digitais de um modo não saudável para o seu desenvolvimento. Isso é particularmente grave, quando ficam expostas a problemas socialmente danosos, como violências, roubos, mortes, guerras, conteúdos sexuais inadequados, notícias e imagens sobre as quais têm poucas possibilidades emocionais, cognitivas e sociais de assimilação.
Daí que, minha proposta, é que vejamos os novos recursos digitais de um modo comparável ao que acontece, hoje, com os alimentos. Muitas crianças e adolescentes passam fome e não recebem a quantidade nutricional necessária para crescerem e se desenvolverem. O mesmo acontece com a disponibilidade e o saber usar os novos dispositivos digitais. Crianças, adolescentes e seus pais não têm dispositivos digitais, nem internet e sofrem uma desigualdade muito grande em relação às outras pessoas que dispõem dessas facilidades.
Por outro lado, muitas crianças e adolescentes estão com excesso de peso e, igualmente, prejudicam sua saúde ingerindo comidas, em quantidade e qualidade exageradas e mal escolhidas. O mesmo acontece com o uso de dispositivos digitais. Muitas crianças e adolescentes interagem com eles o quanto e o como têm vontade, tornando-se presas fáceis de informações e influências prejudiciais ao seu bem-estar e desenvolvimento.
Conclusão: da mesma forma que, biologicamente, não podemos viver sem comer e tomar água, socialmente, no mundo de hoje, não podemos ficar de fora, como se estivéssemos no século passado, sem os recursos digitais em benefício de nossa educação, saúde, intercâmbio social, lazer ou trabalho. Mas, como em tudo, há de se buscar um equilíbrio entre o que faz mal e o que faz bem. Por isso, é importante refletir sobre o problema, estabelecer regras de uso, saber se proteger do que é prejudicial. É preciso aprender a fazer escolhas digitais, qualitativas e quantitativas, tal como na comida!