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É muito raro um artigo da revista Pediatrics ser escrito por profissionais brasileiros. Em janeiro de 2018 saiu neste periódico um artigo sobre a importância de leitura em voz alta para crianças. Para nossa Fundação, que considera o investimento em primeira infância fundamental para o nosso futuro como nação, este artigo nos deixa particularmente felizes. Foi realizado numa região das mais pobres do Brasil, por pessoas daqui e patrocinado por uma ONG brasileira, o Instituto Alfa e Beto.
Com a pergunta: Um programa de leitura em voz alta entre pais e filhos favorece o desenvolvimento intelectual e de linguagem em crianças de baixa renda?
A grande maioria das crianças que vive em condições de miséria nos países de baixa renda não atinge todo o seu potencial devido a condições associadas à pobreza.
Uma intervenção simples e pouco onerosa que pode influenciar o desenvolvimento da primeira infância é a leitura em voz alta, que está associada ao aumento do nível cognitivo e ao desenvolvimento da linguagem. Isso já é conhecido há muito tempo e existem vários programas para promover a leitura em voz alta em diferentes países e que mostram que esta pode ser uma estratégia de estímulo eficaz e viável, especialmente a baixo custo.
Estudos observacionais mostraram que as experiências de aprendizagem junto com a família em sua própria casa, conjuntamente com a educação infantil formal, estão associadas à evolução do desenvolvimento intelectual das crianças. No entanto, não se sabe se estes programas que promovem a interação entre pais e filhos proporcionam um benefício adicional no desenvolvimento deste último, além do mero intelectual.
O objetivo deste estudo foi determinar se um programa para promover a leitura em voz alta aumenta a interação entre pais e filhos e promove o desenvolvimento infantil em famílias de baixa renda residentes no Norte do Brasil, mais precisamente em Boa Vista, Roraima, uma cidade com uma população de 284.313 habitantes com uma alta taxa de pobreza.
Vinte e duas creches participaram do estudo, com crianças entre dois e quatro anos, de março a junho de 2015. Foram incluídos os pares de pais e filhos que frequentaram as creches incluídas neste estudo.
Os 566 pares pais-filhos (279 no grupo de intervenção e 287 no grupo de controle), foram matriculados no início do ano letivo e avaliados no final do ano letivo. Nos centros pertencentes ao grupo com intervenção, as famílias podiam pegar livros infantis semanalmente, participar de grupos de pais mensais com um moderador que orientaria a discussão sobre a técnica de leitura em voz alta e outras oportunidades de interação com a criança.
Os parâmetros de evolução no nível parental incluíram estimulação cognitiva em casa, por meio de uma entrevista estruturada, interação na leitura por observação e punição física por meio do questionário que investiga a frequência de golpes nas mãos de crianças durante os últimos três meses.
A avaliação da evolução infantil foi realizada através do estudo do vocabulário receptivo e o vocabulário expressivo. Outras avaliações foram o coeficiente intelectual (QI), a memória operacional e a competência socioemocional.
Os autores comentam que o QI das crianças do grupo com intervenção foi notavelmente comparável à média da população, enquanto que naquelas crianças do grupo controle foi 0,5 pontos abaixo do desvio padrão, o que sugere que a intervenção poderia reduzir significativamente a disparidade gerada pela pobreza neste ponto.
Relatam ainda que, embora não houvesse benefícios claros com a intervenção em relação ao desenvolvimento socioemocional das crianças, isso pode ser favorecido em longo prazo em decorrência da melhora da linguagem e da capacidade cognitiva.
Entre as limitações deste estudo, os autores comentam o risco potencial de viés devido ao fato de os grupos de randomização não serem equivalentes em todas as características basais, já que as crianças que puderam ser avaliadas durante o acompanhamento obtiveram melhores escores iniciais, em comparação com aquelas perdidas no acompanhamento. Além disso, conduzir o estudo em uma única cidade pode limitar sua generalização.
Este artigo, apesar das limitações observadas pelos autores, incentiva o Instituto Pensi a fazer outros estudos semelhantes para embasar ainda mais esta oportunidade.
Saiba mais:
Fonte Pediatrics. 2018 Jan
“Reading Aloud and Child Development: A Cluster-Randomized Trial in Brazil”
Adriana Weisleder, Denise SR Mazzuchelli e colaboradores.
As informações contidas neste site não devem ser usadas como um substituto para os cuidados médicos e os conselhos do seu pediatra. Pode haver variações no tratamento que seu pediatra pode recomendar com base em fatos e circunstâncias individuais.
Atualizado em 29 de novembro de 2024