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Precisamos falar sobre a obesidade infantil
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Precisamos falar sobre a obesidade infantil

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27/04/2020
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Em tempos de pandemia, de isolamento social, de crises políticas e econômicas, falamos praticamente de tudo, em todas as redes sociais, em todos os canais de comunicação, e temos opinião sobre tudo. Falamos de vírus, de medo, de pânico, das vantagens e desvantagens do isolamento. Vemos menos trânsito, menos barulho, menos poluição, mares e rios limpos. E vemos hospitais lotados, pacientes falecendo e cemitérios lotados de mortos e vazios de parentes. E por que falar de obesidade infantil hoje?

Inicialmente, porque existem fatores associados à mortalidade e aumento de risco de agravamento das complicações da Covid-19 em pessoas com diabetes, obesidade, hipertensão, doenças crônicas e alterações da imunidade anteriores. Segundo, porque os adultos jovens que têm tido maiores complicações respiratórias com o novo vírus apresentam obesidade.

Mas a obesidade não é uma doença que começa no adulto. Ela se inicia na infância, e temos diferentes caminhos para o excesso de peso. Há muitos anos, sabíamos que a obesidade infantil usualmente caminhava para um quadro de normalização com o crescimento e a puberdade. Os que apresentavam excesso de peso, com o aumento do tamanho, com as mudanças da puberdade, perdiam o excesso de massa gordurosa, cresciam e ficavam mais proporcionados.

Hoje, sabemos que desde o início da gestação, estamos determinando qual será o risco de apresentarmos excesso de peso ao nascimento e no futuro. O peso materno antes da gestação, o ganho de peso excessivo durante a gravidez, a falta de controle pré-natal, com possibilidades de problemas metabólicos como hipertensão e diabetes, pode levar a risco de obesidade no bebê.  Assim como hoje sabemos que o quadro alimentar e metabólico do período pré-natal e o pós-natal até o segundo ano de vida, os chamados 1000 dias, determinarão um caminho possível para o excesso de peso e a presença de doenças crônicas do futuro.

Daí a necessidade de uma campanha maciça para conscientizar inicialmente os pediatras brasileiros, e a partir daí a expansão para as famílias sobre o problema da obesidade infantil. A famosa crença de que criança robusta é criança saudável ainda é uma realidade para muitos pais e mesmo profissionais de saúde. A criança com excesso de peso tem grandes chances de ser um adolescente e um adulto obeso.

A obesidade infantil ainda é um tabu e choca. No entanto, uma foto de uma criança rechonchuda, cheia de dobrinhas, e risonha, é o sonho de todas as mães. Muitos pediatras ainda observam por períodos longos sem intervir ao ver uma criança robusta e que não apresenta problemas de saúde.

Um trabalho antigo de nosso grupo mostrava que somente muitos anos após a chamada de atenção para o excesso de peso por um familiar, por bullying ou por um pediatra, as famílias iam buscar apoio especializado.

Em tempos de isolamento, com as crianças em casa o tempo todo, as dificuldades econômicas e a pressão das notícias, o aumento do consumo de alimentos com excesso de gorduras, açúcar e sal é observado. Há um menor consumo de folhas, vegetais e frutas, pela dificuldade de acesso contínuo. Famílias de mais baixa renda buscam alimentos de sobrevivência, e menos os perecíveis não tão essenciais para a sobrevivência.

A falta de atividade física, com o confinamento, leva a uma quase que total ausência do gasto energético, e ao cansaço e irritação das crianças. O uso de telas o dia inteiro diminui a chance de movimentação física em um ambiente já não adequado. A impossibilidade de estar ao ar livre, os ambientes pequenos e apertados e a falta de rotina aumentam a ingestão alimentar compensatória.

A conscientização de que podemos prevenir o excesso de peso e a obesidade tem tudo a ver com a possibilidade de manter um ambiente mais saudável nestes tempos de crise, mas especialmente no futuro. É importante entender que as doenças crônicas estão associadas entre si, começam cedo e podem ser prevenidas.

Assim, quando sairmos de nosso isolamento, de nossas quarentenas, de nossa nova rotina, possamos restabelecer hábitos mais saudáveis que nos protejam para o futuro, com uma alimentação mais adequada, mais consciente, mais equilibrada, com qualidade, quantidade e variedade.

Aprendamos o exemplo do compartilhamento das refeições que foi obrigatório, para um novo aprendizado do comer em comum. O preparo dos alimentos, a incorporação da criança na cozinha, o cuidado com a higiene, a falta que nos faz a atividade física, a rotina e os horários podem fazer com que tenhamos mais cuidados também com o excesso de peso. E vamos nos conscientizar que as epidemias de doenças crônicas também levam a doenças no futuro, nos fragilizam e devem ser combatidas como qualquer outra pandemia.

Milhões de dólares têm sido gastos em todo o mundo para pesquisas sobre a origem genética, programação metabólica (ou por que somos programados para ter doenças crônicas desde a infância ou do período perinatal), fatores de risco para o ganho de peso, e também para avaliar medicamentos, programas de mudanças de estilo de vida, com escolhas mais saudáveis, alimentares, físicas e emocionais. E as respostas são escassas. Mas todas levam a uma clara decisão: se não prevenirmos, não temos como combater…

Há algum tempo escrevi para a Veja Online, no blog Letra de Médico: “Se 61% da população brasileira está acima do peso, o normal como aprendemos na estatística é a maioria… O bullying começa nas casas, vai aprender na escola e tem pós-graduação na mídia. Não teremos uma resposta rápida para o problema, não existirá um único medicamento para tratar doenças tão diferentes que somente tem como característica comum o excesso de peso. Não existirá um único programa efetivo e eficaz para manter as medidas dentro de menores riscos”.

A obesidade é um problema do dia a dia e que não merece um único dia de conscientização. Ela merece ser avaliada, observada e respeitada todos os dias de nossa vida.

Saiba mais:

A importância dos primeiros mil dias de vida

Obesidade infantil: uma doença complexa e preocupante

O que muda na alimentação da família no período de isolamento social?

Brincadeiras para fazer em casa com as crianças

Atualizado em 30 de janeiro de 2025

Dr. Mauro Fisberg

Dr. Mauro Fisberg

Pediatra e Nutrólogo (CRM 28119 RQE 3935 E 37146). Coordenador do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI. Professor Associado Doutor - Aposentado Sênior do Setor de Medicina do Adolescente - Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Membro do Corpo de Orientadores Pós-Graduação em Pediatria e Ciências Aplicadas a Pediatria (Unifesp).

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mensagem enviada

  • fabiana disse:

    adotar uma alimentação mais saudável estamos não só mantendo a forma mas sim ajudando o nosso corpo a suprir todas as vitaminas necessárias para seu bom funcionamento vale a pena investir na alimentação

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