PESQUISAR
Muito me espanta o espanto com os bebês reborn, e me parece um tanto consequência natural de uma sociedade nada natural. Sociedade que insistentemente marca corpos como massa de modelar, que incentiva mulheres (e até adolescentes) a rechaçarem as formas de seu corpo e a se lambuzarem de artifícios que os artificializem. Enfim, uma sociedade que não poderia se queixar de que os bebês agora seguem moldes de seus adultos – de plásticos.
Aquilo que exigimos dos corpos na atualidade (tamanho ideal, forma específica e impedidos de envelhecer) tem como consequência um elemento bastante simples: que não possa haver bebês humanos.
Seres vivos, até pouco tempo atrás, nasciam, cresciam, viviam e morriam. Como temos achatado a equação, todos temos que ser jovens para sempre. Parece que algumas pessoas encontraram a solução perfeita para a imperfeição – terem filhos bonecas. Única forma possível de paralisar o tempo, congelar a vida e impedir modificações.
Os bebês reborn equacionam as mazelas da atualidade e o padecimento dos corpos. Não nascem, não crescem, não vivem e, portanto, não morrem. Equação que acompanha também jovens com transtornos alimentares, normalmente tão angustiados frente às transformações impostas pelo tempo e pela vida, que tentam, de todas as formas, fazer com que seus corpos obedeçam a um ideal irreal, mesmo que isso custe a morte de si mesmos. Fecham a boca, como fecham a esperança de que terão espaço no mundo para mudanças.
Vale nos perguntarmos: se não podemos envelhecer, como nossos jovens poderão crescer?
A consequência está dada: nada nasce! Tudo se fabrica.
O humano de plástico encontrou seu ápice: a imagem e a semelhança de si mesmo.