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No último dia 27 aconteceu o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, uma campanha do Governo Federal para, entre tantas urgências, trazer de volta os altos índices de imunização que sempre nos orgulharam. É muito triste para mim, como pediatra, ver o Brasil perder um de seus melhores indicadores de saúde infantil: a cobertura vacinal em crianças para doenças preveníveis. Com uma taxa de vacinação geral em torno de 68% – quando o recomendado pela OMS é que fique entre 90 e 95% dependendo da vacina – o Brasil corre o risco de ver voltar doenças já erradicadas, como a pólio e outras com índices muitos baixos de imunização e que já voltaram a subir, como é o caso do sarampo. Esse é um fenômeno mundial, mas precisamos reagir antes que seja tarde.
A resistência à vacinação é uma realidade global e se verifica em parte por um movimento antivacina, que não é muito forte no Brasil e de outro lado por um fenômeno chamado de “hesitação vacinal”. Essa hesitação vacinal ocorre quando existe o acesso à vacina, mas as pessoas têm dúvida em tomar ou fazer a vacinação dos filhos por motivos mais variados.
Nos últimos anos nos deparamos com um governo que ao mesmo tempo fornecia a vacina, dava sinais contraditórios sobre sua eficácia, sobre os efeitos colaterais, sobre serem experimentos científicos etc. O movimento antivacina se aproveita dessas contradições, de notícias falsas para disseminar a desinformação e espalhar o medo e teorias conspiratórias sobre as manipulações de interesses de alguns países ou de laboratórios por exemplo.
As pessoas com hesitação vacinal ficam perdidas pelo excesso de informação que recebem e, como não são técnicas, não conseguem discernir entre as boas e as más informações, optando por não vacinar. Vimos isso com a vacina para Covid 19 em crianças aqui no Brasil, onde as taxas de cobertura são muito mais baixas nas crianças do que nos adultos apesar de ter vacina gratuita nas UBS. Muitos pais que se vacinaram ainda têm dúvidas de vacinarem de seus filhos.
A imunização através de vacinas é o que a humanidade inventou de melhor para prevenir doenças. Foi por meio de uma vacina que erradicamos a varíola e quase acabamos com a poliomielite. A esperança do mundo todo para o final da pandemia está colocada na vacinação, e para isso foi feito um esforço global envolvendo os maiores laboratórios e as maiores universidades do planeta para desenvolver em tempo recorde uma vacina capaz de imunizar a população de todos os países.
Em 40 anos de prática pediátrica vi doenças graves como meningite meningocócica, infecções por pneumococos e hemófilos influenza B, hepatite B e A, varicela entre outras praticamente sumirem do dia a dia dos hospitais pediátricos, e tudo por causa das vacinas que foram introduzidas nesses anos. Para mim é inconcebível que alguém abdique de um avanço tecnológico de tal importância e impacto e de comprovada eficiência e eficácia, geralmente com baixo efeito colateral, por motivos ou falsos ou injustificáveis frente à ciência.
Não podemos deixar tudo nas costas do Governo. Nós, como sociedade, também temos que fazer nossa parte como cidadãos, nos vacinando e aos nossos filhos, para podermos viver seguros em comunidade.
Os motivos da queda das taxas de cobertura vacinal são bem conhecidos assim como as suas soluções. Entre os motivos estão a necessidade de ir pelo menos uma vez por mês à UBS no primeiro ano de vida devido ao nosso calendário muito completo. Para isso, deveria ser facilitado o acesso, com horários de atendimento maiores, inclusive nos finais de semana. Tão pouco podemos aceitar o desabastecimento de doses, como ocorreu algumas vezes nos últimos anos. Urge comunicar melhor (não só a população como os profissionais de saúde) sobre a importância de se vacinar, lembrando sempre que vacina não é coisa de criança, mas de todas as idades, inclusive às gestantes no pré-natal.
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