Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Arma não é brinquedo nem deve ser brincadeira

Arma não é brinquedo nem deve ser brincadeira

Arma não é brinquedo nem deve ser brincadeira

Em mais uma cena absurda, nosso presidente aparece com um menino vestindo farda e com armas de brinquedo. Crianças são incapazes de distinguir entre uma arma real e armas de brinquedo. Chama a atenção o fato de que a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo no Brasil. Frente a isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria se manifestou através de uma nota de repudio ao ato.

“Diante da divulgação, nesta quinta-feira (30), de imagens em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, aparece com uma arma de brinquedo em punho ao lado de uma criança vestida de soldado, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reitera a importância da população, em especial autoridades e personalidades públicas, respeitarem a legislação que exige a proteção dos direitos dessa faixa etária”.

“Não se trata de uma discussão ideológica ou sobre a liberdade da posse, ou não, de arma pelos adultos. O que está em jogo é a vida e a integridade física e emocional de milhares de crianças e adolescentes. Por isso, os pediatras conclamam às autoridades para uma profunda reflexão sobre os efeitos destas ações de mídia e de marketing, que devem se basear na legislação e na ética, e nunca serem maiores que o compromisso com a dignidade da população brasileira”, diz um trecho da nota.

A violência física é um problema que atinge de forma recorrente as crianças e adolescentes no Brasil. Uma parcela desse tipo de violência se agrava e pode levar à morte. Em nosso país, em 2020, mais de 170 crianças de 0 a 4 anos foram mortas de forma violenta e intencional.

No ano de 1997, no Brasil, cerca de 7% do total gasto com internações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde foram devido às causas não naturais, entre elas os acidentes por causas externas, como os acidentes automobilísticos, os ferimentos por arma branca e os ferimentos por arma de fogo. Em 2000, no país, 35% das internações hospitalares por causas externas ocorreram na faixa etária dos 15 aos 24 anos, e 37% dos 25 aos 39 anos, sendo que o sexo masculino compôs 84% do total desses pacientes (Souza, 2005).

As lesões e óbitos de adolescentes e adultos jovens por causas não naturais penalizam o indivíduo, desamparam seus familiares, aumentam o número de anos potenciais de vida perdidos, minimizam a produtividade social e econômica, impõem ônus ao país, afetando a economia e o crescimento.

Em 2015, a Academia Americana de Pediatria e o Centro Brady para Prevenir a Violência Armada fizeram uma campanha para manter as crianças seguras. A arma, encontrada por uma criança, pode mudar vidas para sempre em apenas alguns minutos.

O crescimento exponencial da violência no Brasil nas últimas décadas vem ocupando cada vez mais espaço nos meios de comunicação e fazendo parte do cotidiano da população, tornando-se tema de várias discussões, até mesmo no Congresso Nacional, a respeito das armas de fogo, do estatuto do desarmamento, da impunidade, do aumento das penas e da diminuição da idade penal.

No Brasil, a violência é um dos principais problemas de saúde pública. É mais expressiva nas capitais e grandes cidades, predominantemente nos grupos da população mais jovem, do sexo masculino, residentes em áreas da periferia e com baixa escolaridade.

A vigilância e olhar atento para as crianças e adolescentes é uma das principais formas de se prevenir um cenário tão devastador que marca a infância e adolescência no Brasil. Produzir periodicamente dados que informem sobre a situação de crianças e adolescentes, cruzar estes indicadores e buscar interpretações para os fenômenos são algumas das tarefas a que nossa Fundação se propõe na busca de uma “Infância saudável para uma Sociedade melhor”, que é nosso propósito.

Para isso, nos juntamos à Coalizão The Global Partnership and Fund to End Violence Against Children, Instituto Galo da Manhã e ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre outros parceiros, para produzir pesquisas, dados, discussões e lançar uma luz sobre o problema da violência contra crianças e adolescentes. Estaremos no final de novembro promovendo nosso terceiro Fórum de Políticas Públicas, trazendo para discussão este tema tão importante.

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Atualizado em 6 de março de 2025

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