Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

A Madre Teresa do Sabará

Maria, cozinhando para 60 pessoas no Viagem Fantástica: “Foi o momento mais gratificante da minha jornada como voluntária até aqui”

Maria Lúcia Barbosa é uma das 109 voluntárias que doam seu tempo e carisma para tornar o ambiente hospitalar menos hostil para as crianças

A voz doce de Maria Lúcia, por si só, já é um abraço. Sua fala tem um tom sereno e é assim que ela descreve com cuidado o trabalho que realiza, por exemplo, separando caixas de papelão para a construção de brinquedos, como jogos de cartas e de memória, que serão usados nas atividades que ela orienta no Sabará Hospital Infantil. Ela está lá todas as quartas, das 9h às 12h. “Gosto porque não é um momento só de interação e brincadeira; a gente aprende muito com as crianças”, declara, orgulhosa. A aposentada de 62 anos participa desde 2021 do programa de voluntariado, ligado ao Instituto PENSI. O objetivo do projeto é tornar o ambiente hospitalar menos hostil para as crianças e adolescentes que estão passando por tratamento e internação.

Maria nasceu em Bonito, no interior de Pernambuco. Os pais são do Recife e decidiram se mudar para São Paulo quando ela tinha três anos. Criada no bairro Jardim Celeste, Zona Sul de São Paulo, é a segunda filha de quatro irmãos. “Tivemos uma infância feliz. Meus pais sempre foram a minha maior inspiração”, diz, referindo-se a Terezinha e Leonardo, falecido há dez anos. Apaixonada por leitura desde pequena, guardava todo dinheiro que sobrava para comprar livros. Mostrou a mesma motivação que tinha para leitura para buscar a independência. “Comecei a trabalhar aos 15 anos numa empresa de equipamento de segurança e, de lá para cá, não parei, até completar 60.”

Já adulta, Maria sentiu vontade de ajudar os outros, o que a levou ao curso de serviço social, contra a vontade da mãe, que encarava a profissão desvantajosa do ponto de vista financeiro. “Eu dizia: ‘Mãe, eu quero fazer a diferença na vida das pessoas’”, conta. Depois de formada, trabalhou algum tempo na área de assistência social, porém não seguiu a carreira. Diz ter se decepcionado com a falta de foco na proteção humana.

Maria Lúcia se tornou então gerente operacional na área de qualidade, ligada a serviços gerais, em que o perfil da mão de obra era de pessoas menos favorecidas e marginalizadas da periferia de São Paulo. “Eu usei a minha empatia para fazer a diferença na relação com essas pessoas”, afirma. Reconhecida pelo trabalho humano e afetivo, ganhou o apelido de Madre Teresa por parte dos colegas e da equipe. “Eu me importava com eles e ajudava no que podia.”

Mão na massa: no Sabará, finalizando as naninhas que são entregues no Dia das Crianças

Sempre com vocação para melhorar a vida do próximo, assim que se aposentou, Maria fez um curso de cuidador de idosos para poder ajudar a mãe e o sogro. Nessa época, ainda durante a pandemia de covid-19, ela se inscreveu no voluntariado do Sabará atraída pelas atividades lúdicas do programa. Quase três anos se passaram, mas ela ainda se considera uma novata na área, com potencial para aprender mais. Em outubro, participou de uma experiência diferente: o Viagem Fantástica, quando cozinhou para 60 pessoas, entre voluntários que reformaram em um dia o Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Saica) da Penha e crianças do local. “Era estrogonofe de frango, arroz, batata e salada, mas para eles era como se fosse um manjar dos deuses”, brinca. Na hora de revelar o segredo do tempero, ela confessa que depositar amor faz as coisas mais gostosas. “Eu sempre tive tanta gratidão pela vida! Por ter tido meus pais do meu lado me apoiando, por ter cinco filhos, três netos… Queria retribuir e transformar essa gratidão pela vida alegre que tive em algo palpável para o próximo.” Conseguiu.

Maria, com o jaleco rosa das voluntárias: apoio emocional também às famílias

 

Por Rede Galápagos

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