Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

O peso da autoimagem para crianças e adolescentes obesos

Estar bem com o espelho sempre foi uma questão para crianças e adolescentes. Natural, já que são fases de grandes mudanças físicas e emocionais. As comparações com os outros são inevitáveis: cabelo, pele, voz, altura, dentes… A lista é grande. Com o surgimento e a expansão das redes sociais e seus filtros da perfeição, a pressão pela beleza só aumentou. Esse processo é ainda mais desafiador para os pequenos que estão acima do peso. “A relação de afeto e pertencimento dos jovens é a principal determinante de uma boa autoestima e está totalmente ligada à autoimagem”, diz Cristina Borsari, neuropsicóloga e coordenadora no setor de psicologia do Sabará Hospital Infantil. Ela lida diariamente com pacientes com problemas de autoimagem, o que pode levar a baixa autoestima, ansiedade, depressão e até distúrbios alimentares. “É muito comum que a criança ou adolescente que não é aceito pelo sobrepeso ou que sofre bullying na escola comece a introjetar pensamentos negativos”, completa.

Yuri Coin, de 11 anos, é um pré-adolescente alegre e engraçado que apresenta um peso acima do esperado para sua faixa etária. “O Yuri já nasceu com peso um pouco maior que a média”, conta a mãe, Rosana, referindo-se aos 3,33 quilos para 45 centímetros. A atenção com o peso do menino começou cedo também devido a um número considerável de pessoas obesas na família. Há cerca de seis meses, entretanto, um alerta vermelho foi acionado quando a balança acusou 46 quilos. “A partir do uso de corticoide via oral devido a crises de asma, o peso dele começou a aumentar”, diz Rosana. “Fizemos exames e está tudo bem, mas continuamos acompanhando para evitar o aumento excessivo, nossa maior preocupação.”

Yuri, de 11 anos: atenção à balança após ganho de peso por tratamento com corticoides

Bastante vaidoso, a principal reclamação de Yuri é a dificuldade de encontrar roupas confortáveis para o seu tamanho. “Ele está sempre preocupado em ficar bem-vestido e perfumado e às vezes até sai pela casa dizendo como está bonito naquele dia. Eu incentivo esse tipo de coisa e lhe lembro constantemente que ele é a criança mais linda do mundo!”

Em casa, é importante que os responsáveis criem hábitos saudáveis através de uma rotina que inclua a higiene do sono, boa alimentação e a atividade física. “Incentivar as crianças no horário de lazer delas, seja nos finais de semana ou numa viagem, à prática de esportes, se mexer, correr, caminhar, brincar ao ar livre, e não focar nas telas o tempo todo, é crucial. Isso vai fazer com que a criança tenha mais dificuldade para ganhar peso”, diz Cristina. Nas escolas, a manutenção de um ambiente social saudável e livre de violências é essencial pois, a partir da relação com o outro, é que essa criança vai desenvolver uma boa autoestima e uma relação de afeto com seu corpo.

Cristina Borsari, coordenadora no setor de psicologia do Sabará Hospital Infantil: “A relação de afeto e pertencimento dos jovens é a principal determinante de uma boa autoestima”

As meninas costumam sofrer mais com autoimagem. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Infantil do CS Mott Children’s Hospital, na Universidade de Michigan Health, quase dois terços dos pais dizem que seus filhos são inseguros sobre algum aspecto de sua aparência (sendo 73% pais de meninas adolescentes e 69%, de meninos). O estudo, publicado em 2022, foi baseado em respostas de 1.653 pais com, pelo menos, um filho de 8 a 18 anos. Desde bem jovens, as meninas costumam buscar o corpo perfeito. Por isso, transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, são muito comuns em meninas e, não raro, incentivados por discursos presentes na estrutura social — a exemplo de propagandas publicitárias — e até mesmo dentro da própria casa. Por isso, a necessidade de acompanhamento psicológico é tão importante.

A terapia pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar jovens a construir uma autoimagem saudável. Falar sobre essas questões, como bem pontua a psicóloga, também é importante: “Pensar e incentivar uma autoimagem positiva no jovem é muito desafiador para os pais, principalmente com o adolescente com excesso de peso ou até obeso. Evitar falar sobre esse tema sob justificativa de uma suposta proteção é velar e ignorar uma doença que vai trazer consequências na fase adulta. É importante ter essas conversas, incentivar a perda de peso de maneira saudável, apoiar, buscar ajuda especializada e, acima de tudo, ser o exemplo”, completa Cristina.

Por Rede Galápagos

 

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