Já se passou um ano desde o início da pandemia e talvez a repercursão maior do ponto de vista da saúde esteja na Saúde Mental. Como pediatra, minha atenção se volta especialmente para isso aqui no Brasil e o afastamento prolongado das atividades escolares aumenta em muito este problema. Num artigo que li sobre isso da Academia Americana de Pediatria (AAP), é colocado em foco alguns riscos e orientações que procurarei sintetizar aqui.
A tensão da pandemia COVID-19 em crianças ressalta a necessidade dos pediatras apoiarem as necessidades de saúde emocional e comportamental de crianças, adolescentes e famílias durante esse período. Os pediatras podem aconselhar os cuidadores a estarem cientes da solidão, do isolamento e da incerteza nas crianças e identificarem as respostas e necessidades emocionais e comportamentais no contexto do desenvolvimento típico.
As tentativas de suicídio aumentaram entre os jovens durante a pandemia. As orientações atualizadas exortam os pediatras a compartilharem recursos e usar ferramentas de telessaúde. Essas crises sobrecarregaram ainda mais a já desafiada infraestrutura de saúde comportamental e ressaltam a gravidade da crise sobre esse assunto que está, já bem deficiente, tanto no público quanto no privado em nosso país.
Incentivar crianças e adolescentes a participar de atividades físicas e passar tempo ao ar livre com seus pares, tomando os devidos cuidados, pode ajudar a melhorar a saúde física e mental. Os jovens também podem experimentar benefícios emocionais positivos por meio do aumento da socialização com os amigos, de acordo com a orientação. “Socializar-se com os colegas é um dos pilares do desenvolvimento da criança e do adolescente”, afirma o guia. Seguir as diretrizes locais, estaduais e nacionais para o distanciamento físico deve permanecer uma prioridade urgente, enquanto as famílias ajudam a encontrar caminhos para que os jovens se socializem com segurança”
A alocação apropriada de recursos é necessária para enfrentar os impactos da pandemia, especialmente para comunidades com poucos recursos, populações que enfrentam iniquidades, crianças e jovens com necessidades especiais de saúde e crianças em sistemas de bem-estar infantil e justiça juvenil, de acordo com a AAP. Não temos políticas públicas que funcionem realmente para esta realidade no Brasil, infelizmente.
O impacto da pandemia nas comunidades negras, incluindo o racismo e a xenofobia contra os imigrantes, é uma realidade lá nos EUA, e aqui se confunde com as populações mais pobres. O impacto do racismo, incluindo o racismo estrutural no bem-estar emocional e econômico das famílias negras não pode ser exagerado, de acordo com a orientação. As estatísticas no Brasil mostram que a população negra sofre mais com a pandemia.
Os pediatras podem ajudar a resolver as iniquidades em saúde, identificando soluções culturalmente eficazes e chegando a organizações comunitárias ou parceiros para obter recursos e programas com os quais as famílias se identificam.
Acompanhamento frequente e monitoramento de preocupações subliminares podem ser realizados por meio de visitas de telessaúde com o pediatra para verificar a situação e funcionamento da criança e da família, de acordo com a orientação. Ele também recomenda o encaminhamento a profissionais de saúde mental para crianças com manifestações emocionais ou comportamentais mais graves.
No Sabará Hospital Infantil, tivemos uma experiencia muito boa com os pacientes internados e o uso da telemedicina, tanto pelos profissionais child life como pelos psicólogos e acredito que o uso pela telesaúde seja uma boa opção nestes tempos de isolamento social.
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