O vegetarianismo na infância e adolescência é um tópico que tem ganhado cada vez mais destaque nas escolhas alimentares familiares e inúmeros são os motivos que têm levado a isso, como preocupação com o meio ambiente, crenças religiosas, desejo de ter um estilo de vida mais saudável e tradições culturais.
Muitas dúvidas surgem ao optar por esse tipo de dieta: se o crescimento será adequado, se ele(a) receberá as vitaminas e minerais necessários, se o consumo de proteína estará correto, como adaptar-se a condições econômicas e ao custo da alimentação e como diversificar a dieta diante dessa restrição.
Entendendo as escolhas alimentares
Antes de conversarmos sobre os detalhes nutricionais, é importante compreender que existem diferentes classificações de acordo com o produto de origem animal que é restrito na dieta:
- Ovolactovegetariano: exclui carne, frango, peixes e frutos do mar e consome leite e derivados e ovos;
- Lactovegetariano: exclui ovos, carne, frango, peixes e frutos do mar e consome leite e derivados;
- Ovovegetariano: exclui leite e derivados, carne, frango, peixes e frutos do mar e consome ovos;
- Pesco-vegetariano: exclui carne e frango e consome peixes e frutos do mar, podendo consumir ou não leite e derivados e ovos;
- Flexitariano: consome, ocasionalmente e em pequenas porções, carnes, peixes e frutos do mar;
- Vegano: não utiliza qualquer alimento derivado de animais, nem produtos ou roupas, e exclui carne, frango, peixes e frutos do mar, ovos e leite e derivados.
Nutrientes essenciais
Crianças vegetarianas tendem a consumir mais frutas e vegetais, menos doces e salgadinhos nos lanches e menos gordura total e gordura saturada. No entanto, não consumir produtos de origem animal pode contribuir para uma menor ingestão de ferro, vitamina B12, cálcio, zinco e ômega 3. O risco de deficiências é maior quanto mais restrita a dieta, especialmente a dieta vegana. A suplementação de vitamina B12 é imprescindível para crianças vegetarianas e veganas de qualquer idade. Outro elemento de especial cuidado é o ferro, pela grande dificuldade de se conseguir quantidades suficientes de ferro em alimentos vegetais.
Crescimento e desenvolvimento
Uma dieta vegetariana equilibrada é capaz de promover o crescimento adequado nas crianças e adolescentes. Estudos já mostraram que eles têm um crescimento e desenvolvimento dentro da normalidade. Contudo, por serem mais vulneráveis a desenvolver deficiência de nutrientes, devem ser rigorosamente monitorados.
Orientações importantes para alimentação de famílias vegetarianas:
- Mães vegetarianas amamentando devem ter especial atenção ao consumo de fontes boas e adequadas de ferro, zinco, folato, ômega 3 e vitamina B12, por isso, é de extrema importância fazer seguimento nutricional nesta fase;
- Na impossibilidade do aleitamento materno, a opção são as fórmulas à base de proteína hidrolisada de arroz, ou, para maiores de 6 meses, proteína isolada de soja;
- Em relação à introdução alimentar, as orientações são as mesmas de bebês não vegetarianos;
- Devem incluir e variar o consumo de leguminosas como feijão, lentilha, grão de bico e ervilha, pois serão as principais fontes de proteína de origem vegetal;
- Oferecer sempre uma fruta após o almoço e o jantar, de preferência uma fruta cítrica, rica em vitamina C, para aumentar a absorção de ferro;
- Na adolescência, as necessidades de muitos nutrientes aumentam, especialmente de proteínas, ferro, zinco e cálcio; junto com isso, há um aumento na velocidade de crescimento. Dessa forma, é importante garantir que adolescentes vegetarianos e veganos tenham acompanhamento de um pediatra ou hebiatra e nutricionista infantil, para ser orientado(a) quanto a estratégias para aumentar a ingestão desses nutrientes.
A importância do acompanhamento profissional
Optar por uma dieta vegetariana ou vegana para sua família pode ser uma escolha saudável e ética. Com planejamento cuidadoso e o acompanhamento regular e adequado de um pediatra e nutricionista infantil, é possível fornecer todos os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento saudável de seus filhos, mas isso geralmente requer recursos socioeconômicos e operacionais.
Leia também:
- Criança pode ser vegetariana?
- Extrato vegetal é leite? Como deve ser consumido?
- Sucos e as recomendações das sociedades de pediatria
Fontes:
FEWTRELL, M. et al. Complementary feeding: A position paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) committee on nutrition. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, v. 64, n. 1, p. 119–132, 2017.
REDECILLAS-FERREIRO, S.; MORÁIS-LÓPEZ, A.; MORENO-VILLARES, M. Position paper on vegetarian diets in infants and children. Committee on Nutrition and Breastfeeding of the Spanish Paediatric AssociationAn Pediatr (Barc). [s.l: s.n.]. Disponível em: <www.analesdepediatria.org>.
KONSTANTYNER, T. et al. ARTIGO DE REVISÃO CONSENSO DO ILSI BRASIL SOBRE VEGETARIANISMO NOS PRIMEIROS CINCO ANOS DE VIDA: REPERCUSSÕES NA SAÚDE, MANEJO E RECOMENDAÇÕES. 05 CONFLITOS DE INTERESSE. [s.l: s.n.].
Artigo escrito por
Dra. Jéssica Jacinto Salviano Fernandes de Almeida
Médica Pediatra Residente de Nutrologia Pediátrica da UNIFESP/EPM
Estagiária do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI
Atualizado em 9 de maio de 2025