Convidado do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, onde apresentou resultados de estudos clínicos envolvendo medicações para tratamento da asma grave e explicou fatores que causam a bronquiolite, o dr. Leonard Bacharier é professor de pediatria, diretor do Centro de Pesquisa em Asma Pediátrica e diretor científico do Centro de Pesquisa Clínica e Translacional do Monroe Carell Jr. Children’s Hospital no Vanderbilt University Medical Center, em Nashville, Tennessee
Leonard Bacharier estuda novas estratégias de tratamento para crianças e adolescentes com asma grave e também investiga fatores para o desenvolvimento e enfrentamento da doença na primeira infância. Por isso tem uma visão geral da evolução dos sintomas e dos tratamentos nas duas fases, o que colabora para o melhor entendimento de fatores e impulsiona avanços. Conforme ele mesmo observa: “Para melhor tratar a asma, é essencial uma melhor compreensão sobre ‘de onde vem a asma’”. Pesquisas clínicas o levaram a concluir que a medicina de precisão e a intervenção precoce podem ajudar a restaurar a qualidade de vida a longo prazo, a função pulmonar e a reduzir a dependência excessiva de corticosteroides sistêmicos. Ele também costuma dizer que a asma pode ser um grande problema para as crianças, mas considera notável que, quando a doença é tratada adequadamente, não é mais problema!
Notícias da Saúde Infantil — Você veio participar de um congresso aqui no Brasil em 2012. O que reconhece como as maiores mudanças ou avanços no tratamento da asma infantil na última década?
Leonard Bacharier — Fiquei animado para participar e discutir questões relacionadas à saúde pulmonar em crianças neste congresso Sabará-PENSI. Nos últimos anos, a disponibilidade de produtos biológicos para crianças com asma grave mudou completamente a forma como tratamos estes pacientes desafiadores. A medicina de precisão nos ajuda a levar o agente certo ao paciente certo, no momento certo, e, com esses produtos biológicos avançados, estudamos o efeito do início precoce dessas terapias na progressão da doença, com potencial de remissão. Isso permite às crianças experimentar uma qualidade de vida muito melhor.
Notícias da Saúde Infantil — Uma de suas palestras no EMDVA foi sobre essa abordagem biológica, que tem como alvo o sistema imunológico para tratar a asma que não responde a outros tratamentos. O que destaca desse tema?
Leonard Bacharier — Esses tratamentos revolucionaram a forma como cuidamos de pacientes com asma grave. Discutimos os produtos biológicos disponíveis, quão bem eles funcionam e como escolher o melhor para um paciente. O assunto é importante para que o pediatra entenda os efeitos de mudança de vida dos produtos biológicos, com potencial para mudar sua prática médica. Os pediatras precisam conhecer esses agentes também para solicitar que seus pacientes sejam atendidos nessa subespecialidade.
Notícias da Saúde Infantil — Você tem participado ativamente em pesquisas clínicas/translacionais direcionadas à patogênese de alergias e asma no início da vida e abordagens para o manejo da asma na infância. Quais você diria que foram as melhores conduzidas por você (ou em colaboração) nos últimos anos?
Leonard Bacharier — Tive a sorte de estar envolvido em muitos ensaios que mudaram as abordagens ao tratamento da asma infantil. Estes incluem o papel dos corticosteroides inaláveis intermitentes na sibilância desencadeada por vírus em crianças pequenas, o papel da azitromicina precoce em crianças pequenas, o efeito de múltiplos medicamentos na asma infantil e o papel dos produtos biológicos na asma grave.
Notícias da Saúde Infantil — Sua outra conferência foi sobre bronquiolite e fatores relacionados ao desenvolvimento de asma na infância. Quais você diria que são os principais desafios dessa doença e as abordagens mais inovadoras para combatê-los?
Leonard Bacharier — O tratamento da bronquiolite não mudou muito ao longo dos anos, pois é principalmente de suporte. Espera-se que o recente desenvolvimento de anticorpos e vacinas que previnam a infecção grave por vírus sincicial respiratório (VSR) torne essa condição menos prevalente. Aprendemos que não desenvolver a infecção por VSR no início da vida reduz o risco de asma, por isso será interessante ver esses efeitos na vida real.
Notícias da Saúde Infantil — Fale sobre sua participação no comitê científico da Gina, a principal iniciativa de tratamento da asma no mundo, e sobre a importância da colaboração com múltiplos investigadores e grupos de pesquisa nos EUA, como a rede Precision Interventions for Severe and/or Exacerbation-Prone (PrecISE) Asthma.
Leonard Bacharier — A asma é uma doença complexa, com impacto mundial, que inclui muitas mortes evitáveis. A colaboração com cientistas e médicos de todo o mundo permite uma melhor compreensão dos desafios globais dessa condição. Para compreender melhor a doença e o tratamento são necessários grandes ensaios clínicos, e estes são mais bem conduzidos de forma colaborativa e multicêntrica. Os resultados dessas investigações podem ajudar a mitigar a asma em vários países, pois quanto mais compreendermos, quanto mais opções tivermos, mais aplicáveis e realistas serão essas conclusões em todo o mundo.
Notícias da Saúde Infantil — Nas últimas semanas, em setembro, muitas cidades no Brasil passaram por picos de poluição devido ao tempo seco e aos incêndios no país. Como vê esse desafio para o pediatra e qual sua opinião sobre o nosso futuro?
Leonard Bacharier — Sabemos que o ar e o ambiente têm um impacto substancial na asma. À medida que a atmosfera continuar a sofrer com alterações climáticas, isso certamente afetará negativamente os pacientes com todas as formas de doenças pulmonares. Precisamos trabalhar para minimizar os efeitos das alterações climáticas e estar cientes dos efeitos que os tratamentos da asma, a exemplo dos inaladores pressurizados de dose calibrada (pMDIs, comumente chamados de bombinhas), têm no meio ambiente.
Por Rede Galápagos
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