Chantelle Bennett e Deborah Spencer, respectivamente terapeuta e manager do Child Life, falarão sobre o programa S.T.A.R. com o foco na neurodiversidade, no IV Simpósio Internacional do Child Life, dia 3 de outubro, dentro do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil. “Falo do fundo do meu coração: esse programa faz a diferença, muda a vida de muitos pacientes e famílias”, diz Chantelle
S.T.A.R. (Sensory, Tactile, Auditory Rockstar) é o nome do bem-sucedido programa do Advance Health Hospital da Flórida para atender os pacientes com questões sensoriais ou outras necessidades especiais que chegam quase sempre assustados, às vezes trazendo memórias de experiências complicadas em atendimentos, ou recusando qualquer aproximação. Com carinho, conforto e conversa, os profissionais de saúde avaliam o que cada um precisa, explicam os procedimentos, propõem alguma atividade e nesse roteiro de sensibilidade vão ganhando a confiança do paciente, que aqui é a estrela. Tudo é feito para ele se sentir mais à vontade e encarar com um pouco mais de leveza o peso de ficar um tempo no hospital.
O final da história costuma ser bem mais feliz: para a equipe de profissionais, que trabalha com maior tranquilidade e comemora a redução do uso de sedação em vários procedimentos; e, o mais importante, para as crianças, adolescentes, adultos e suas famílias, que vão para casa com uma experiência positiva. De início aplicado na pediatria, o S.T.A.R. fez tanto sucesso que se espalhou para pessoas de todas as idades que não conseguem dizer o que sentem ou saber o que está acontecendo.
É a mesma abordagem do programa Child Life, só que desenhada com especificidades para prevenir crises desses pacientes e amplificada para ser aplicada por toda a equipe do hospital, como explica Chantelle Bennett, que há 35 anos atua como terapeuta Child Life e está à frente da criação do S.T.A.R. : “É um treinamento com algumas ferramentas e estratégias que usamos no Child Life para médicos, enfermeiros, auxiliares, todas as pessoas que atendem os pacientes”. Chantelle e Deborah Spencer, também manager do Child Life, estão muito animadas para falar sobre o S.T.A.R. com o foco na neurodiversidade, no IV Simpósio Internacional do Child Life, dia 3 de outubro, dentro do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil. “Falo do fundo do meu coração: esse programa faz a diferença, muda a vida de muitos pacientes e famílias”, diz Chantelle.
Notícias da Saúde Infantil — O Child Life já trabalha com uma abordagem personalizada, que procura escutar e entender o que cada criança precisa, seja ela neurodivergente ou não. O que o S.T.A.R. traz de novo, de diferente, na abordagem?
Chantelle — Os terapeutas do Child Life, no seu dia a dia, avaliam as necessidades de cada criança e em que estágio do desenvolvimento ela está. No caso dos pacientes do S.T.A.R., eles geralmente têm algum atraso no desenvolvimento, e o profissional, quando vai atendê-lo, precisa entender as suas questões sensoriais, ou falar mais devagar, de forma mais concreta, para que o paciente compreenda o que está acontecendo, e assim é possível estabelecer relações de confiança. Esse é o papel do Child Life: a gente já faz isso, então o conceito do S.T.A.R. é treinar toda a equipe de cuidados, os médicos, enfermeiros, assistentes, todos no hospital que vão lidar com os pacientes que têm necessidades especiais. As equipes normalmente não têm tempo para aprender tudo isso, mas nós do Child Life sabemos como identificar o que esses pacientes precisam, em que ponto estão, e assim podemos ajudar os outros profissionais.
Notícias da Saúde Infantil — O S.T.A.R. é então um protocolo a ser aplicado em todo o hospital?
Chantelle — É um conjunto de estratégias e ferramentas para ajudar as equipes a lidar com esses pacientes com necessidades especiais. O intuito é que não é só o terapeuta Child Life que deve ter essas informações e ajudar a identificar o que o paciente precisa, mas qualquer profissional de saúde que vai entrar no quarto ou interagir com ele deve estar consciente de como fazer a abordagem. Tanto que uma das primeiras perguntas quando um paciente chega aqui ao hospital é: ele/a tem alguma questão sensorial ou de desenvolvimento? Assim podemos manejar as situações para ajudar a acalmá-lo ou prevenir crises. Vale lembrar que no hospital atendemos crianças, adolescentes e adultos, e o S.T.A.R. é aplicado em adultos com necessidades especiais também, de qualquer idade, seja com autismo, ou paralisia cerebral, ou nos casos de demência.
Deborah — O paciente pode ser deficiente auditivo, ou visual, ou ter TDAH. Qualquer que seja a sua necessidade especial, ele está no programa S.T.A.R.
Notícias da Saúde Infantil — Vocês têm pesquisas com números que mensuram o que mudou desde que o S.T.A.R. foi implementado?
Chantelle — Nós fizemos pesquisas específicas com números no nosso projeto-piloto, há dez anos. Não temos dados tabulados depois disso, pois estamos começando, mas é possível ver que as mudanças são muito significativas. Vimos que diminuiu muito o uso de sedação nos pacientes. Por exemplo, já temos faz tempo um programa para as crianças que vão fazer ressonância magnética, em que elas aprendem como funciona o aparelho, como é o barulho, e elas colocam uma boneca no túnel do aparelho, vão se acalmando, entendendo tudo. Com isso reduzimos em 99% o uso da sedação na pediatria. E com o S.T.A.R. vimos a redução da sedação em vários procedimentos. Também foi muito reduzida a necessidade de medidas de segurança, como quando temos um paciente grande e forte. Antes ele precisava ser contido porque tinha reações violentas contra as pessoas da equipe ou contra si mesmo, se autoagredindo.
Deborah — Alguns pacientes adolescentes são enormes. Tem menino de 16 anos que mede 1,80 metro e pesa 120 quilos ou mais. Se ele se desregula, fica agressivo, é muito difícil contê-lo. E fica aquela cena terrível, o médico fala “segura ele”, o menino chuta, bate, aí a mãe agarra um braço, outra pessoa agarra outro, é horrível para o paciente, para a equipe, para a família. E as famílias passam por isso em casa também, onde sempre fizeram assim, e o paciente já está traumatizado. Quando aplicamos novas estratégias e acalmamos os pacientes, as famílias agradecem. Muitos pais nos contam que antes a pior parte era colocar os filhos no carro para trazer para o hospital. Algumas famílias ficavam anos sem levar os filhos, precisavam abandonar os cuidados porque ir ao hospital, fazer tudo, era muito difícil. Nosso papel é também ensinar a essas famílias alguns métodos para elas aplicarem não só na hora de vir para o hospital, mas durante toda a vida.
Notícias da Saúde Infantil — Além da Flórida, o S.T.A.R. existe em outros hospitais?
Chantelle — O Advance Health é uma empresa com 53 hospitais nos Estados Unidos. Estamos ainda nos primeiros passos do programa, documentando tudo, pois queremos levar isso adiante para todos os hospitais da rede para que eles possam ter essas informações e dar segurança para os pacientes com necessidades especiais. Toda a premissa do nosso programa foi desenvolvida porque o número de pacientes com necessidades especiais está aumentando, os diagnósticos crescendo. E queremos mostrar na nossa aula no simpósio o que identificamos como formas de ajudar esses pacientes a se acalmarem e a lidarem positivamente com as situações.
Notícias da Saúde Infantil — A ideia é implementar o S.T.A.R. no Sabará Hospital Infantil também?
Chantelle — Sim, nós temos uma parceria com o Sabará, ajudando a desenvolver o Child Life, colaborando no treinamento dos especialistas em Child Life e agora, nesse simpósio, nosso foco será em como incorporar práticas para atender a população neurodivergente, diminuir os estímulos e manter esses pacientes menos ansiosos e mais regulados. Vamos apresentar estratégias de como entreter os pacientes na sala de espera, levá-los a uma sala o mais rápido possível, ou entrar uma pessoa por vez na sala. Na verdade, é um processo de cinco passos fáceis de lembrar para manter as pessoas da equipe seguras e os pacientes acalmados, regulados. É um protocolo informal, e também cada caso exige uma estratégia. Se o paciente vai fazer só um procedimento, se é uma cirurgia, ou se ele vai toda semana ao hospital, cada situação é única. Mas gostaríamos de dizer que para nós é muito gratificante participar desses seminários, ouvir histórias e trocar conhecimento. É a minha quarta vez no Brasil.
Deborah — E a minha terceira. Estamos muito animadas com essa oportunidade, pois aprendemos muito com o público que vai nos assistir.
Conheça mais detalhes sobre esse e outros seminários do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil.
Por Rede Galápagos
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