As crianças têm maior chance de apresentarem problemas de alimentação quando são filhos de pais permissivos ou negligentes (ou também chamados de pais terceirizadores não envolvidos), devido a vários fatores. Embora a maioria das pesquisas relacionadas a problemas alimentares e parentalidade não abordem diretamente essa questão específica, é possível inferir informações com base em dados relacionados à nutrição infantil e à relação entre cuidadores e as crianças.
Os pais permissivos são aqueles que têm uma abordagem mais relaxada em relação a regras e limites, permitindo que seus filhos não tenham limites, horários, determinando que são as crianças que ‘mandam’ dentro da casa.
Os pais negligentes ou não envolvidos são aqueles que não dão a devida atenção às necessidades e aos cuidados de seus filhos. Este tipo de relação com as crianças determina uma maior chance de escolhas alimentares ruins e um maior risco de baixo peso ou excesso de peso.
Uma nutrição adequada na infância é fundamental para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. Entretanto, quando os pais são permissivos ou negligentes em relação à nutrição de seus filhos, podem surgir problemas como:
- Hábitos alimentares inadequados: pais permissivos ou negligentes podem permitir que as crianças façam escolhas alimentares pouco saudáveis, como consumir alimentos ricos em açúcar, gorduras saturadas e sal, em vez de uma dieta equilibrada e nutritiva. Esses hábitos podem persistir por toda a vida e contribuir para problemas de saúde, como obesidade, diabetes e doenças cardíacas.
- Falta de rotação de alimentos: pais permissivos ou negligentes podem não estabelecer um rodízio adequado de alimentos para as crianças, o que pode levar a irregularidades nas refeições e lanches, prejudicando a capacidade da criança de reconhecer sinais de fome e saciedade. Isso pode resultar em comportamentos alimentares desregulados, como comer demais ou recusar determinados alimentos.
- Falta de supervisão: pais negligentes podem não estar presentes ou não prestar atenção suficiente aos lanches das crianças, o que pode levar a comportamentos alimentares indesejados, como comer em excesso, comer alimentos não saudáveis ou deixar de lado lanches importantes.
- Falta de orientação adequada: pais permissivos ou negligentes podem não fornecer orientação suficiente sobre a importância da alimentação saudável, não ensinar habilidades básicas de alimentação e não promover um ambiente alimentar positivo.
Estudos de nosso grupo multidisciplinar, o CENDA – Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI, no Sabará Hospital Infantil, mostraram que o estilo de comportamento e reação às atitudes na alimentação das crianças têm relação com o tipo de diagnóstico da dificuldade alimentar, com maior prevalência de seletividade, pouco apetite e maior peso das crianças que foram avaliadas.
Um diálogo muito intenso com os pais pode ajudar no tipo de comportamento à refeição, e o modo de relacionamento com a criança, permitindo um maior conforto no dia a dia das famílias. De forma indireta, o comportamento dos pais influi de modo intenso no comportamento da criança. Precisamos ouvir mais os responsáveis para entender melhor e poder ajudar!