Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

“Milhares de crianças são salvas pela ECMO todos os anos”

Professora associada de anestesiologia e medicina intensiva na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e líder de equipes no Heart Center e na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Johns Hopkins Hospital, Jamie McElrath Schwartz trará sua experiência ao 7o Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil com participação no painel Programa Teórico-Prático: ECMO em Pediatria

Jamie McElrath Schwartz sempre soube qual seria seu caminho na medicina. Desde que iniciou a formação na Universidade Thomas Jefferson, na Filadélfia, ela queria trabalhar com crianças. Nunca se enxergou, porém, no papel da pediatra em consultas de rotina. A jovem estudante queria atacar de frente doenças que ameaçam a vida das crianças. “Quando estava em formação, eu pensava em fazer oncologia pediátrica, mas mudei de ideia quando descobri os cuidados intensivos”, lembra a médica. “Amo as famílias e a honra de cuidar de crianças tão doentes. Vê-las melhorar e viver a vida é a minha maior recompensa.”

Apaixonada pelo poder da educação e da pesquisa científica na busca por excelência em atendimento clínico, Jamie Schwartz trilhou um caminho que une os campos acadêmico e clínico. Após se formar na Escola de Medicina da Thomas Jefferson, em 1994, e completar a residência em pediatria geral no St. Christopher’s Hospital for Children, em 1998, ela se tornou residente-chefe do mesmo hospital, uma unidade de cuidados pediátricos intensivos na Filadélfia. Em 2001, recebeu uma Fellowship do St. Christopher’s em medicina intensiva pediátrica.

Após um breve período de atuação em consultório privado em Newark, Delaware, Jamie Schwartz voltou aos bancos escolares. Em 2004 ela concluiu a residência em anestesia pela Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, e no ano seguinte foi escolhida pela universidade para a Fellowship em anestesia pediátrica.

Atualmente, Jamie Schwartz é professora associada de anestesiologia e medicina intensiva na Johns Hopkins e lidera equipes no Heart Center e na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Johns Hopkins Hospital. Especializada no atendimento perioperatório de crianças com doenças cardíacas congênitas, ela oferece cuidados cardíacos pediátricos críticos e serviços de anestesiologia.

No próximo dia 3 de outubro, a médica norte-americana vai compartilhar seu conhecimento com colegas brasileiros no 7o Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, onde participará do painel Programa Teórico-Prático: ECMO em Pediatria, com a palestra “Indicação e contraindicação: ECMO alert”.

Na entrevista a seguir, ela fala sobre a importância da ECMO na recuperação de crianças, os cuidados necessários para o sucesso do tratamento e sobre a importância de atuar junto às famílias com suporte emocional.

Qual será a principal mensagem da sua palestra aos profissionais de saúde presentes no 7o Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil?

Espero colaborar, com a minha experiência, para a ampliação do aprendizado sobre a ECMO e o seu uso em pediatria. É importante que os profissionais médicos possam se familiarizar com essa terapia para ajudar seus pacientes e as famílias dos pacientes a entender o tratamento, caso ele seja necessário.

Qual a importância da ECMO atualmente na recuperação de crianças gravemente doentes?

A ECMO é uma tecnologia essencial para prestar cuidados que salvam a vida de crianças com insuficiência cardíaca ou respiratória.  Ao “substituir” a função do coração e dos pulmões, essa tecnologia permite que esses órgãos vitais descansem e se recuperem de lesões ou infecções. Milhares de crianças são salvas pela ECMO todos os anos, em todo o mundo.

Para quais casos de emergência pediátrica a ECMO é indicada?

A ECMO é indicada para bebês e crianças com insuficiência respiratória ou cardíaca reversível. É uma terapia arriscada que demanda a utilização de muitos recursos (pessoal e equipamentos caros). Por isso, ela só deve ser utilizada em situações em que existe a possibilidade de recuperação da lesão ou da infecção do coração e dos pulmões por meio de tratamento ao longo do tempo. A ECMO também pode ser usada em crianças que sofreram parada cardíaca quando o coração não pôde ser reiniciado pelo uso dos métodos habituais. Este, porém, é um critério incomum — as crianças devem ter tido uma parada cardíaca em um hospital com excelente equipamento de reanimação cardiopulmonar (RCP) e, normalmente, em uma unidade de tratamento intensivo (UTI).

Entre os casos recomendados, há contraindicações?

Como eu mencionei anteriormente, o processo da doença deve ser reversível. Além disso, é necessária a existência de grandes vasos sanguíneos que possam ser usados ​​para a colocação das cânulas de ECMO. Se os vasos sanguíneos do pescoço ou da perna não estiverem disponíveis, ou se estiverem lesionados, a ECMO pode se tornar inviável. Além disso, o sangramento ativo é um problema, pois a ECMO requer anticoagulação. O sangramento na ECMO pode ser fatal.

Quais critérios preestabelecidos a equipe médica deve considerar antes de decidir pela aplicação da ECMO?

O tamanho da criança, o tipo de ECMO necessária (cardíaca, respiratória ou ambas), a reversibilidade da doença ou lesão, além de outras condições médicas da criança.

Como qualquer técnica invasiva, a ECMO pode representar riscos aos pacientes. Quais são os riscos mais comuns associados a ela?

Os riscos mais comuns são sangramento, com possibilidade de lesão neurológica. Um acidente vascular cerebral, ou sangramento no cérebro, pode ser devastador devido à anticoagulação.

Como as equipes médicas podem agir para evitar esses riscos?

É preciso manter um monitoramento cuidadoso da anticoagulação e dos fatores/capacidade de coagulação. O monitoramento neurológico em ECMO deve incluir a ultrassonografia cerebral (em bebês) e o eletroencefalograma (EEG) para monitorar convulsões, além da espectroscopia próxima ao infravermelho (NIRS).

Embora cada caso seja único, existe uma estimativa de tempo de duração da ECMO?

A ECMO pode durar de apenas alguns dias até semanas e meses. Em geral, a ECMO cardíaca tende a ser mais curta. Pode variar de apenas alguns dias a semanas, à medida que o coração melhora, ou o paciente passa para um suporte mecânico mais estável. A ECMO respiratória costuma ser mais longa -– se estendendo por semanas e até alguns meses. Isso acontece porque os pulmões precisam de mais tempo para se recuperar.

Quais são as taxas de sucesso de tratamentos com ECMO em crianças atualmente?

Aproximadamente metade das crianças com insuficiência cardíaca sobrevive à ECMO. Crianças com insuficiência respiratória apresentam melhor sobrevida, aproximadamente 60% a 70%. Quando a ECMO é usada com RCP (reanimação cardiopulmonar), porém, a taxa de sobrevida é um pouco menor. Varia entre 30% e 50%.

Um fator importante nas situações de ECMO pediátrica é o manejo emocional das famílias durante todo o processo. Esse é um papel da equipe médica?

A ECMO é extremamente difícil, do ponto de vista emocional, para famílias e pacientes. É um processo muito debilitante. A recuperação após a falência grave de órgãos e sistemas é muito longa. Ou seja, o tratamento em ECMO se estende por muito tempo. Mesmo depois que a ECMO em si é encerrada, é comum as crianças submetidas a ela precisarem de reabilitação, e às vezes passarem por novas internações. As famílias precisam receber apoio durante todo o processo. Alguns centros possuem clínicas de acompanhamento para atender as famílias e os pacientes após a alta, para apoiá-los nesse longo caminho de reabilitação. Os profissionais médicos têm papel fundamental nisso. Eu amo atuar com as famílias.

Por que você escolheu trabalhar com crianças tão gravemente enfermas?

Eu sempre soube que a pediatria seria o meu caminho. Quando estava na faculdade, eu pensava em fazer oncologia pediátrica. Mudei de ideia quando descobri os cuidados intensivos. Para mim, é uma honra cuidar de crianças tão doentes. E minha maior recompensa é vê-las melhorar e viver a vida.

Conheça mais detalhes sobre esse e outros seminários do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil.

Por Rede Galápagos

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