Nova acreditação do Sabará Hospital Infantil pela Joint Commission International (JCI) mostra a importância da educação continuada multidisciplinar — e reforça o poder da sinergia entre o Instituto PENSI e o corpo clínico do hospital
“O fato de conseguir manter a acreditação significa que este hospital tem uma preocupação genuína em promover uma alta qualidade, um alto grau de atenção a requisitos de qualidade e principalmente de segurança”, explica o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira Júnior, gerente do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e de Qualidade Assistencial do Sabará Hospital Infantil, destacando que o PENSI participa durante todo o processo, desde o suporte no que diz respeito às questões éticas e legais relacionadas à pesquisa até a orientação e apoio para os treinamentos. “A educação continuada é uma ponte que aproxima o PENSI e o Sabará”, diz Heloísa Ionemoto, gerente médica da educação continuada do Instituto PENSI. Confira as entrevistas de Francisco e de Heloísa.
No cotidiano do Sabará Hospital Infantil, não são frequentes as situações em que uma criança sofre uma parada cardíaca e precisa de reanimação. No entanto, todos os funcionários do hospital — das enfermeiras e médicos às equipes multidisciplinares — estão preparados para fazer reanimação cardíaca em crianças, pois nunca se sabe quando e onde essa necessidade poderá surgir. E, se surgir, todos precisam estar preparados. Quanto menos frequentes os casos e a experiência real de lidar com essa situação, mais constantes precisam ser os cursos de preparação das equipes. Esse treinamento obrigatório em suporte básico e avançado de vida está entre os protocolos internacionais mais atualizados e as melhores práticas das unidades de saúde e também faz parte das centenas de exigências que o Sabará cumpre voluntariamente para ampliar a qualidade, a segurança e a eficiência dos serviços prestados aos pacientes.
O cuidado com cada uma dessas exigências está sendo reconhecido e certificado neste mês de agosto de 2022 pela Joint Commission International (JCI), principal acreditadora de serviços de saúde do mundo, que avalia a qualidade e a segurança do serviço por meio de um rigoroso processo que envolve mais de mil itens, incluindo atendimento, gestão, infraestrutura e qualificação profissional. Segundo hospital pediátrico brasileiro a ter essa certificação — e o primeiro em São Paulo —, o Sabará Hospital Infantil possui a acreditação pela JCI desde 2013 e, a cada três anos, passa por uma reavaliação para certificar a manutenção dos padrões de qualidade.
A JCI avalia mais de 1.300 itens para segurança do paciente, e com essas informações e a experiência obtidas na avaliação das organizações é utilizada uma metodologia para atualizar os princípios da acreditação periodicamente, o que garante seu alinhamento com as mais elevadas técnicas e procedimentos de itens como protocolos de tratamento e procedimentos, infraestrutura hospitalar, controle de infecções e manutenção de equipamentos. “Há alguns treinamentos que nós tornamos obrigatórios e que são justamente os que estão descritos no manual de acreditação da Joint Commission International”, explica Heloísa Ionemoto, gerente médica de educação continuada do Instituto PENSI. [Leia abaixo uma entrevista com Heloísa Ionemoto, que era diretora clínica do hospital na época do seu primeiro processo de acreditação, em 2013].
Para obter e manter a acreditação, o hospital precisa estar atento a uma série de exigências, ou elementos de mensuração, como explica o detalhado manual com os padrões da JCI. Um de seus 18 capítulos trata, por exemplo, da educação do paciente e de sua família. “Conseguir manter a acreditação significa que o hospital tem uma preocupação genuína e um alto grau de atenção a requisitos de qualidade e principalmente de segurança”, explica o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira Junior, gerente do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e de Qualidade Assistencial do Sabará Hospital Infantil.
Um dos capítulos mais importantes e exigentes do manual é o que trata da capacitação e educação dos profissionais. “É preciso garantir que o pessoal esteja atualizado. Um curso de reanimação, por exemplo, é uma área de conhecimento e de assistência que periodicamente sofre aperfeiçoamentos técnicos e alterações”, explica Francisco. Ele lembra que mesmo quem faz o Pediatric Advanced Life Support (PALS), que é o curso de cuidados no atendimento de urgência em pediatria mais conhecido do mundo, criado pela American Heart Association, precisa renová-lo a cada dois anos.
“O PENSI participa durante todo o processo, o que inclui desde o suporte no que diz respeito às questões éticas e legais relacionadas à pesquisa até a orientação e apoio para os treinamentos realizados no hospital e, principalmente, a integração das equipes voltadas à assistência”, conta o infectologista. Ele destaca essa sinergia principalmente nos treinamentos relacionados a atendimento de urgência e emergência e atendimento de suporte básico de vida e cita a importância de usar a sala de simulação realística nos treinamentos com o instituto. “O PENSI está presente nos treinamentos feitos no hospital, conduzindo, coordenando e avaliando a sua realização — e também é responsável pela aprovação e validação de todos os outros cursos realizados no Sabará.” Francisco lembra que uma grande parte da integração voltada para o pessoal da assistência também tem conteúdo do PENSI e que todo o trabalho de treinamentos tende a tornar os processos mais seguros. “Qualidade e segurança não são sinônimos, mas a segurança é um dos pilares da qualidade. Não posso ter qualidade sem ter segurança”, observa o infectologista.
ENTREVISTA
Francisco Ivanildo Oliveira Junior
Gerente do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e de Qualidade Assistencial do Sabará Hospital Infantil
“Manter a acreditação significa que este hospital tem preocupação genuína em promover alta qualidade, um alto grau de atenção a requisitos de qualidade e principalmente de segurança.”
Notícias da Saúde Infantil — O que a quarta acreditação do Sabará Hospital Infantil representa para os pacientes e para os profissionais de saúde envolvidos?
Francisco Ivanildo Oliveira Junior — Do ponto de vista de simbologia, a acreditação pela Joint Commission International é considerada a mais respeitada no mundo, quando você olha o cenário internacional. Existem acreditações de outros países, inclusive presentes aqui no Brasil, mas a Joint Commission é a mais respeitada, a mais reconhecida. Também pela profundidade e amplitude de temas que ela cobre dentro do seu manual, em que praticamente todas as áreas da prestação da assistência são contempladas. O fato de conseguir manter a acreditação significa que este hospital tem preocupação genuína em promover alta qualidade, um alto grau de atenção a requisitos de qualidade e principalmente de segurança. Dentro do contexto da qualidade, do ponto de vista teórico, qualidade e segurança não são sinônimos, mas a segurança é um dos pilares da qualidade. Quer dizer, eu não posso ter qualidade sem ter segurança. Eu preciso garantir a segurança tanto do paciente quanto do colaborador, do cuidador que está aqui dentro do hospital quanto do visitante, do prestador de serviços.
Notícias da Saúde Infantil — O cuidado refere-se também aos colaboradores externos?
Francisco Ivanildo Oliveira Junior — A JCI nos estimula a manter esse nível bastante elevado e a não diferenciar, isso é uma coisa bastante interessante, quer dizer, a tratativa em relação ao tipo de vínculo empregatício ou ao tipo de relação que aquele prestador de serviço tem com o hospital. Então, independentemente de que eu seja um prestador de serviço com vínculo de contrato como pessoa jurídica ou um funcionário contratado no regime CLT, ou um funcionário contratado por uma empresa terceirizada, dependendo do nível que eu tenha, quer dizer, dentro daquele nível todo mundo tem que ter o mesmo padrão; os requisitos são iguais pra todo mundo. Então um médico, por exemplo, independentemente de esse médico ser um médico que vem aqui eventualmente para prestar um serviço, operar um paciente ou cuidar de um paciente aos seus cuidados, seja esse médico um frequentador ou um plantonista, eu tenho que oferecer e tenho que cobrar e avaliar o desempenho desse médico anualmente e demonstrar isso pra Joint Commission.
Notícias da Saúde Infantil — Os auditores da JCI fazem sua visita a cada três anos. Como eles garantem que esses padrões de qualidade foram mantidos nos anos anteriores?
Francisco Ivanildo Oliveira Junior — Todo o processo de avaliação, de auditoria da Joint Commission é baseado num método chamado de rastreador, em que eles procuram seguir o cuidado que está sendo prestado a um paciente desde a sua entrada até o momento da alta; e ainda, se esse paciente foi transferido para outro lugar, como é que foi dada continuidade ao cuidado. Essa questão da garantia e da continuidade do cuidado é uma coisa muito importante para a JCI. Então, não é só o cuidado que eu presto aqui dentro do hospital, quer dizer, aquilo que eu faço pelo paciente aqui dentro é só uma parte; eu tenho que comprovar que utilizei de toda a minha capacidade, de todos os meus esforços para garantir que na hora em que esse paciente sai, ele vai dar continuidade ao cuidado. Principalmente numa situação como a que a gente vive hoje, em que aumentou muito o número de pacientes, inclusive crianças, com doenças crônicas, com condições complexas. E a própria complexidade do atendimento que é oferecido aqui no Sabará também se alterou nos últimos anos. O Sabará até pouco mais de cinco anos atrás era um grande pronto-socorro, onde na maioria das vezes as crianças eram trazidas com condições agudas, doenças respiratórias, infecção urinária, diarreias, enfim, condições agudas e normalmente autolimitadas ou que eram tratadas e curadas. E tinha uma porcentagem maior, sempre existiu, de crianças com condições crônicas, que tinham doenças como diabetes ou doenças neurológicas, doenças cardíacas e que precisavam de um acompanhamento mais prolongado. O Sabará não fazia esse tipo de acompanhamento porque a gente não tinha nenhum tipo de prestação de serviço pós-internação, ambulatorial, acompanhamento pós-alta. À medida que o hospital foi crescendo em complexidade, a questão da continuidade dos cuidados tornou-se cada vez mais importante. Então, esse é um dos pilares. E isso inclui a qualidade da informação que eu dou para esse paciente. Tanto a que ele leva para o médico que vai dar continuidade a esse cuidado, seja aqui na cidade de São Paulo ou fora, quanto a informação para a educação que eu dou para o próprio paciente, para seu autocuidado ou para sua família.
Notícias da Saúde Infantil — Tudo isso está previsto no manual da JCI?
Francisco Ivanildo Oliveira Junior — O manual está em sua sétima versão. Até a versão anterior havia um capítulo dedicado à educação do paciente e da sua família. Esse conteúdo foi incorporado a um outro capítulo mais amplo, chamado “Cuidado centrado no paciente”, em que um dos padrões observados é como o hospital educa os pacientes que estão sob os seus cuidados. Você precisa educar o paciente do ponto de vista de ele conhecer a sua doença, saber como é que ele pode dar continuidade ao cuidado, prevenir recorrência, evitar complicações. Então precisamos garantir que essa educação seja feita aqui dentro do hospital, para que o paciente, quando sair, possa dar continuidade ao seu cuidado, seja de forma independente ou em alguns casos com acompanhamento de uma equipe aqui dentro do hospital.
ENTREVISTA
Heloísa Ionemoto
Gerente médica da educação continuada do Instituto PENSI
“A educação continuada é uma ponte que aproxima o Instituto PENSI do corpo clínico do Sabará.”
Notícias da Saúde Infantil — Como foi a experiência de participar com a equipe já desde o primeiro processo de acreditação, em 2013, quando era diretora clínica do hospital?
Heloísa Ionemoto — Foi um desafio. Decidimos nos submeter a essa acreditação, atentos a todos os processos e sabendo como isso seria importante para desenvolver o conhecimento na instituição. Na época eu era a diretora clínica, a representante dos médicos do hospital, e nós trabalhamos muito, muito mesmo. Contamos com o apoio do corpo clínico e, juntos, escrevemos todos os processos, políticas e programas correntes na época. Compartilhamos esse conhecimento e prática com cada cuidador, ressaltando a cultura de segurança, qualidade e humanização do Sabará. Conscientizar os cuidadores do seu papel para segurança do paciente e atenção nos processos melhora muito o resultado do atendimento que o paciente recebe.
Notícias da Saúde Infantil — Várias dessas demandas do protocolo fazem parte do programa de formação continuada das equipes do hospital?
Heloísa Ionemoto — Sim. Na área de educação continuada do Instituto PENSI, somos responsáveis pela estruturação dos cursos e treinamentos das equipes assistenciais do Sabará, assim como pelos treinamentos obrigatórios, ou seja, aqueles que temos de cumprir de acordo com a legislação ou com os órgãos de acreditação, como a JCI e a ELSO (Extracorporeal Life Support Organization), por exemplo. Somos responsáveis pelos treinamentos e pela atualização do conhecimento do corpo clínico, do corpo de enfermagem, do corpo médico e da equipe multidisciplinar. Há alguns treinamentos que nós tornamos obrigatórios e que são justamente os que estão descritos no manual de acreditação da JCI. Um deles é um treinamento para reanimação cardíaca que começamos a fazer para a equipe multidisciplinar. Não é só para médico; é para médico, enfermeiro e fisioterapeuta. Esse treinamento é feito exatamente para termos essa convivência, essa troca de expertises entre profissionais. E para isso contamos com a participação dos multiplicadores do corpo clínico do Sabará que ministram as aulas.
Notícias da Saúde Infantil — Como se dá na prática a sinergia entre o Instituto PENSI e o Sabará para promover a educação continuada?
Heloísa Ionemoto — A educação continuada é uma ponte que aproxima o Instituto PENSI do corpo clínico do Sabará. Convivemos muito com o corpo clínico interno e ouvimos as suas demandas, sobre a necessidade de melhorar este ou aquele aspecto do desempenho da equipe. Todo ano eu me sento com os gestores de todas as áreas e planejamos as estratégias de treinamento para cada setor. Cada vez mais temos criado trilhas de aprendizado específicas para determinadas áreas. Por exemplo, para o pronto-socorro tem um perfil de treinamento, a UTI requer outro perfil e a unidade de internação tem outras necessidades. Procuramos entender quais são os objetivos de aprendizado em cada área e a partir daí formulamos a metodologia e o cronograma.
Notícias da Saúde Infantil — Os treinamentos são permanentes?
Heloísa Ionemoto — Nossa área é demandada numa ordem inversamente proporcional à ocupação do hospital. Quando o hospital está muito cheio, não se consegue tirar as pessoas para treinar. Dependemos dessa disponibilidade do pessoal. Desde 2018 implantamos o modelo de aprendizagem 70/20/10 e acabamos treinando mais com multiplicadores. Esse é um tipo de treinamento em que 70% do treinamento é feito com os seus pares. Os multiplicadores vão treinar lá dentro do hospital. Outros 20% de treinamento são feitos com os tutores. Os demais 10% são de treinamento convencional. O PENSI gerencia os treinamentos, ajuda na metodologia e capacita multiplicadores, que são os médicos e enfermeiros que já são referência no hospital. O planejamento é feito junto com o próprio corpo clínico. O treinamento por pares permite que o aprendizado se dê na área de trabalho do próprio colaborador e estimula maior integração das equipes.
Notícias da Saúde Infantil — Quais têm sido os desafios e aprendizados na prática da educação continuada?
Heloísa Ionemoto — O tempo médio de treinamento por participante/ano foi de 2,1 horas em 2020 e 2,4 horas em 2021. Durante a pandemia, tivemos ainda um crescimento das participações em treinamentos, alguns deles mais enxutos, em relação ao tempo, já que muitos dos cuidadores estão no horário de trabalho e não conseguimos tirá-los por períodos mais longos. Isso se deve a vários fatores, entre eles a necessidade de os profissionais se manterem informados e atualizados em relação às normas e cuidados relativos à Covid-19. A educação continuada se aproximou mais das equipes assistenciais por meio da diversificação dos métodos, flexibilização dos horários e ferramentas de comunicação. Para a educação continuada — e creio que para o mundo todo — a pandemia tem sido também uma circunstância de aprendizado. Tivemos de nos adaptar em tudo. Antes da pandemia tínhamos muito treinamento presencial porque dependemos da habilidade para treinar; não adianta treinar uma enfermeira apenas com conteúdo on-line. Ela precisa estar lá atuando, o médico a mesma coisa. Fizemos treinamentos on-line, outros híbridos, em que se faz uma parte EAD e uma parte presencial. Neste momento em que estamos falando de educação continuada em geral e de JCI em particular, também é importante que se saiba que fazemos aqui um outro treinamento obrigatório e bastante específico nosso. É o de ECMO [sigla para extracorporeal membrane oxygenation, ou oxigenação por membrana extracorpórea], que é uma técnica de suporte de vida extracorporal em doentes com falência cardiovascular ou pulmonar. O serviço de ECMO do Sabará Hospital Infantil é certificado pela ELSO, que é uma organização internacional não governamental reconhecida que se dedica ao desenvolvimento dessa técnica inovadora. Duas vezes por ano, fazemos um treinamento obrigatório no centro de simulação, com os instrutores certificados pela ELSO para a equipe de ECMO do Sabará. É extremamente elaborado, e especializado. O treinamento é realizado pelo time da ECMO do Sabará e a educação continuada oferece suporte em relação ao método, aos equipamentos e ao treinamento em si.
Por Rede Galápagos
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