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“É preciso não ter medo de abraçar o novo”
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“É preciso não ter medo de abraçar o novo”

“É preciso não ter medo de abraçar o novo”

13/06/2022
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Pensando a saúde infantil com Thales Araújo de Oliveira: gerente do pronto-socorro do Sabará Hospital Infantil e autor de trabalho premiado no 3º Prêmio de Pesquisa em Saúde Infantil do Instituto PENSI. Médico pediatra fala sobre experiência bem-sucedida no uso de novas tecnologias em pronto-socorro infantil.

Desde o início da pandemia de covid-19, uma das prioridades no pronto-socorro do Sabará Hospital Infantil foi prestar o atendimento necessário procurando reduzir ainda mais o tempo médio de permanência (TMP) das famílias no ambiente hospitalar. O uso da telemedicina permitiu reduzir esse tempo médio em 72% nos casos de atendimento de crianças em bom estado geral, que necessitaram apenas de coleta de exame de urina após consulta médica no pronto-socorro. Um estudo que avaliou 282 atendimentos feitos entre julho e setembro de 2019 e no mesmo período em 2020 constatou a queda do TMP de 157 para 44 minutos. Esse foi um dos trabalhos contemplados no último Prêmio de Pesquisa em Saúde Infantil do Instituto PENSI, realizado em 2020.

O concurso, que tem o objetivo de disseminar conhecimento científico, está com inscrições abertas para sua quarta edição. As pesquisas premiadas serão conhecidas em outubro, durante a abertura do 6° Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil. Pesquisadores e pesquisadoras da área podem submeter os seus trabalhos até o dia 31 de julho. O edital e maiores informações sobre o prêmio estão disponíveis aqui.

A premiação recebe um maior número de inscrições a cada ano. Entre sua primeira edição, realizada em 2016, e a terceira, em 2020, o número de trabalhos inscritos cresceu de 31 para 63. As áreas de atuação cobertas por essas pesquisas saltaram de quatro para oito nesse período (veja quadro, abaixo). Na última edição, inscreveram-se pesquisadores e pesquisadoras de 17 cidades do Brasil e do mundo. As propostas podem ser uni ou multiprofissionais e multidisciplinares. Além disso, cada autor pode submeter apenas um trabalho e, pelo menos um dos autores deve estar inscrito no congresso.

Ao longo das três edições já realizadas, o prêmio publicou iniciativas de destaque, como o artigo citado no primeiro parágrafo deste texto: “Uso da telemedicina como instrumento de redução do tempo de permanência no pronto-socorro”, de Thales Araújo de Oliveira, que conquistou o segundo lugar em 2020. Thales é médico pediatra há dez anos. Desde 2017, trabalha no pronto-socorro do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo. “Entrei como plantonista, virei supervisor e atualmente sou gerente do pronto-socorro”, conta o pediatra e autor do trabalho premiado, produzido com orientação e apoio do Instituto Pensi. Pesquisador em gestão de saúde, ele foi um dos responsáveis pela implantação de consultas via telemedicina no hospital, iniciativa que teve resultados positivos durante a pandemia. Notícias da Saúde Infantil conversou com o médico sobre a experiência.

 

Notícias da Saúde Infantil — Por que você escolheu a pediatria?

Thales de Oliveira — A faculdade em que estudei era muito focada na pediatria. O meu primeiro estágio foi na área e acabei me familiarizando. Eu e os meus colegas brincávamos dizendo que ou se amava ou se odiava a pediatria. Fui mais pela linha de amar. Percebi que eu tinha uma excelente relação médico-paciente com as crianças e isso me atraiu. Quando falamos de criança, geralmente falamos de prevenção, e não necessariamente de doença. Sempre tive uma maior empatia em cuidar de crianças e de todo o contexto familiar. Na pediatria, não cuidamos apenas da criança, mas de toda a família. Desde o estágio, não larguei a pediatria e não consigo nem me enxergar fora dela.

 

Notícias da Saúde Infantil — Para você, qual a importância de iniciativas como o Prêmio de Pesquisa em Saúde Infantil do Instituto PENSI para o incentivo à pesquisa?

Thales de Oliveira — É um reconhecimento de que estou no caminho certo e um indicativo para não ficar parado nem me contentar com o que já está funcionando. Sempre dá para melhorar. Na gestão do pronto-socorro, estamos constantemente procurando por novos fluxos. Não somos um hospital geral, em que a pediatria é um setor. Somos um hospital exclusivamente pediátrico, então estamos pensando em pediatria o tempo todo. O propósito da Fundação José Luiz Egydio Setúbal é uma infância mais saudável. Tenho isso dentro de mim. Foi muito gratificante ser reconhecido com um prêmio. Reconheço toda a autonomia que tenho no hospital, o que me permite ter ideias e aplicar essas inovações.

 

 “A tecnologia torna a área da saúde mais eficiente, prática e segura. A telemedicina é um bom exemplo que veio para somar. Temos a possibilidade de estabelecer contato com uma família de uma cidade onde não há pediatra. Isso é muito bonito.”


Notícias da Saúde Infantil —
Quais as suas fontes de pesquisa na busca por inovações?

Thales de Oliveira — Estamos sempre atentos a todos os tipos de inovações e melhorias. A internet permite que acompanhemos o que está acontecendo. Eu trabalho com um gerente de inovação que está sempre trazendo ideias, o que facilita bastante esse processo. O hospital preza por inovação, tecnologia e eficiência, e esses novos conceitos e práticas estão sempre chegando até nós. O LinkedIn é uma fonte de informação útil e fidedigna, por exemplo, em que fazemos benchmarking com outros hospitais e eventualmente adaptamos algumas realidades do adulto para a nossa. Em alguns casos, as empresas de tecnologia nos procuram e apresentam as novidades, como ocorreu recentemente com o receituário digital.

 

Notícias da Saúde Infantil — Na sua avaliação, quais foram as maiores contribuições do avanço tecnológico para a saúde nos últimos dez anos?

Thales de Oliveira — Segurança e eficiência. Sou formado há dez anos e aprendi a fazer o prontuário a mão. Hoje é tudo digital e eu até tenho alguma dificuldade em fazer uma receita a mão. No pronto-socorro, não há rasura porque não tem mais papel. Acho que a tecnologia torna a área da saúde mais eficiente, prática e segura. A telemedicina é um bom exemplo que veio para somar. Temos a possibilidade de estabelecer contato com uma família de uma cidade onde não há pediatra. Isso é muito bonito. Caminhamos agora para o receituário digital, que proporciona maior segurança ao evitar o erro em relação à medicação ou à sua posologia.

 

Notícias da Saúde Infantil — A desigualdade é um grande problema do Brasil. Tecnologia, segurança e eficiência chegam primeiro aos hospitais privados e por último às populações que dependem exclusivamente do sistema público de saúde. Como você enxerga essa discrepância?

Thales de Oliveira — Vivemos numa bolha. São Paulo e o Sudeste são uma bolha diante de toda a realidade do nosso país. Em geral, cidades do interior não têm acesso a um bom hospital pediátrico. Se o poder público entendesse quanto a telemedicina pode ser resolutiva para um atendimento pediátrico, por exemplo… Venho de uma cidade pobre e carente do interior de Minas Gerais. Lá, não tem pediatra todos os dias. Seria excelente se aquele posto de saúde tivesse uma ferramenta de interconsulta e incentivo da prefeitura para facilitar o acesso das famílias aos grandes centros de pediatria. Obviamente, requer investimento, mas considero a telemedicina uma tecnologia barata. Em vez de precisar levar um médico para uma cidade do interior, o profissional poderá prestar o atendimento de um grande centro, e não será preciso arcar com a sua moradia, por exemplo. Tenho receio de falar de política pública porque não é o que eu estudo e pratico, mas entendo que seria muito mais barato do que manter um profissional dedicado ali na cidade.

 

Notícias da Saúde Infantil — A ideia de consultas médicas à distância não é nova. Por que só agora a telemedicina está se popularizando?

Thales de Oliveira — A pandemia permitiu que o uso da telemedicina fosse legalizado. Aqui, desenvolvemos todo o projeto de forma muito rápida. Era o auge da pandemia e os pacientes que precisavam do hospital não apareciam. Ficamos preocupados e pensamos na telemedicina para que as famílias que estavam com medo de sair de casa tivessem acesso ao pediatra. Com a formalização do uso da telemedicina no país, houve um grande desenvolvimento da tecnologia de receituários digitais. Hoje, a maioria dos médicos sabe do que se trata e procura ter um certificado digital, e fazer um receituário digital faz parte da nossa realidade. As farmácias não aceitavam, mas agora aceitam. Tudo isso tornou a telemedicina mais eficiente. Antes, não adiantava realizar o atendimento ao paciente via telemedicina se a receita não funcionava.

A primeira página do site do Sabará Hospital Infantil destaca o agendamento de teleconsulta. Foto: Reprodução/site do hospital.

 

“As famílias começaram a perceber que ficariam menos tempo no pronto-socorro e concluiriam o atendimento em casa. Entenderam o propósito, assim como a sua segurança e utilidade.”

 

Notícias da Saúde Infantil — A telemedicina é o futuro da medicina?

Thales de Oliveira — Ela não é o futuro, mas vem para complementar o atendimento presencial. O nosso projeto é o exemplo perfeito de que a telemedicina está para somar, não para substituir. Incorporamos o recurso ao atendimento presencial. É muito útil e prático para alguns diagnósticos, não para todos. Mas torna o atendimento mais eficiente e interessante.

Notícias da Saúde Infantil — Na prática, como se deu o projeto que resultou na queda de 72% no tempo médio de permanência (TMP) após o uso do follow-up via telemedicina?

Thales de Oliveira — A primeira demanda foi a teleconsulta de urgência. Depois, passamos a monitorar os pacientes que saíram daqui com diagnóstico de Covid. Então, entendemos que dava para trazer o recurso para o pronto-socorro como um todo. Em média, um paciente que coletava exame de urina no hospital permanecia aqui por 157 minutos, o que é muito tempo dentro de um ambiente hospitalar. Entendemos que se o liberássemos, com a telemedicina agendada para informar o resultado do exame, reduziríamos o tempo que a família passava no hospital, melhorando a sua experiência e diminuindo a aglomeração no ambiente. Com a conclusão do atendimento via telemedicina, reduzimos o TMP para 44 minutos, desde a retirada da senha até a alta do paciente. Aquelas famílias que tinham receio de sair de casa para vir ao hospital acabaram perdendo o medo e vieram.

 

Notícias da Saúde Infantil — Qual foi a relação das famílias e dos pacientes com a novidade?

Thales de Oliveira — Havia um receio por parte das famílias. Era uma novidade para todo mundo e a própria equipe médica tinha dúvida de quão útil e fidedigno seria aquele atendimento. Com a experiência, todos entenderam que era resolutivo e que era possível concluir os atendimentos via telemedicina. As famílias começaram a perceber que ficariam menos tempo no pronto-socorro e concluiriam o atendimento em casa. Entenderam o propósito, assim como a sua segurança e utilidade. As crianças gostam da novidade, acham graça e querem dar oi para o médico ali do outro lado. Hoje, as famílias que passaram pela experiência já pedem para aguardar os resultados em casa e concluir o atendimento por meio da telemedicina.

 

Notícias da Saúde Infantil — Qual a grande lição trazida pelo uso da telemedicina durante o período da pandemia?

Thales de Oliveira — A de não ter medo do desconhecido. Tínhamos muito receio. Pensávamos: “a telemedicina já causa estranhamento no adulto, imagina na criança”. Precisamos da prática, do uso no dia a dia, para entender que o recurso consegue ser resolutivo em muitos quadros. É preciso testar, não ter medo da mudança e entrar de cabeça na nova tecnologia. O desenvolvimento da telemedicina foi muito rápido. Vamos ver como funciona, aonde queremos chegar e quão útil ela será. No início, monitoramos todos os atendimentos de perto, até entendermos que poderíamos caminhar por esse trajeto e ter sucesso. Então, acredito que não ter medo de abraçar o novo é a lição que adquiri nesse período.


Veja o pôster com os dados da pesquisa Uso da telemedicina como instrumento de redução do tempo de permanência no pronto-socorro”

Por Rede Galápagos


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