Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Uma sociedade saudável começa por uma infância saudável

Em conferência magna sobre filantropia, o dr. José Luiz Egydio Setúbal falou de um Brasil que pode dar certo em meio aos desafios que também são alvos prioritários da FJLES: a insegurança alimentar, a imunização e a saúde mental. 

“Fui pediatra e hoje me chamam de filantropo. É sempre um prazer falar de filantropia na saúde e na ciência voltada para crianças.” Assim o dr. José Luiz Egydio Setúbal abriu a conferência magna do terceiro dia (8/10) do 6º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil. Para falar de filantropia ninguém melhor do que o fundador da Fundação José Luiz Egydio Setúbal. O termo significa amor ao ser humano ou à humanidade, e uma das características pelas quais o médico e presidente da fundação é conhecido é a sua generosidade.

A filantropia é uma ação necessária para equilibrar a economia e reduzir desigualdades sociais. Não à toa, a apresentação de Setúbal alternava grandes desafios do nosso país com exemplos de onde o Brasil dá certo, sempre olhando para o futuro com esperança. “Segundo os dados do World Giving Index (WGI) de 2022, que é um indicador de bondade no mundo, o Brasil galgou muitas posições, subindo para 18º lugar; antes figurava na 54ª posição e vem crescendo pelo quarto ano consecutivo”, observou o filantropo. Pelas informações do GIFE, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, as doações empresariais só caíram de 2008 até o momento atual, pois o Brasil está estagnado economicamente.

Foi proposital o destaque para o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que fala que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Setúbal destaca que o Estado brasileiro ainda está muito longe de fazer tudo isso. Por esse motivo, a FJLES lidera o grupo de saúde da Agenda 227, um movimento iniciado há dois anos que reúne mais de 150 organizações, coalizões e movimentos sociais e se baseia no Estatuto da Criança e do Adolescente, no Marco Legal da Primeira Infância e nas metas previstas nos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Divididos em 22 grupos de trabalho, os participantes escreveram 137 propostas, identificando problemas e apontando soluções, para serem entregues aos presidenciáveis. “Nós, da FJLES, elaboramos dez propostas de saúde e seis de nutrição, todas muito factíveis, como o incentivo ao aleitamento materno e ao pré-natal, que são básicos e simples, mas não são feitos adequadamente.”

Setúbal explicou que desde 2018 a fundação trabalha no advocacy (defesa) de três temas prioritários: insegurança alimentar, imunização e saúde mental. A primeira questão só piorou, pois conforme o relatório II VIGISAN, de 2022, mais da metade dos domicílios (59%) brasileiros vivem com algum grau de insegurança alimentar. O percentual de residências com crianças abaixo de 10 anos com insegurança alimentar grave dobrou depois da pandemia, de 9,4% para 18%, e em lares com três ou mais pessoas com até 18 anos o número sobe para 26%.

“Segurança alimentar de crianças e adolescentes é um dos focos da fundação para esta década. Mas a fome em crianças é urgente. Líderes empresariais, políticos e a sociedade devem desempenhar um papel central para ajudar a fazer os investimentos e os esforços para erradicar a fome na infância”, ressalta o presidente da FJLES. As crianças que passam fome na primeira infância têm deficiências pelo resto da vida. “E como já temos cinco anos de fome e a expectativa é de outros cinco, vamos criar uma geração de cidadãos que passaram por privação alimentar e desnutrição, ou seja, já chegarão à idade adulta em desvantagem.”

Para compensar, o presidente da FJLES apresentou projetos que são a cara do Brasil que dá certo: os criados por Saulo Barreto, do Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (IPTI) (www.ipti.org.br), em Santa Luzia do Itanhy, no sul de Sergipe, que aliam reforço alimentar, saúde e educação; a parceria da fundação com o UNICEF, para a busca ativa vacinal na região amazônica e no semiárido, em que alguns municípios saíram de 20% para 90% de cobertura vacinal; e o apoio à Pastoral da Criança, que atua acompanhando 360 mil crianças e mais de 18 mil gestantes e suas famílias.

Por fim, Setúbal lembrou dos bilhões doados por milionários como Jack Ma, fundador do Ali Baba, e por Bill e Melinda Gates, da Fundação BMGF, em favor da ciência, em nível internacional. E mostrou que também existem exemplos de apoio à ciência no Brasil, como o Instituto Serrapilheira, o ID´Or e o próprio Instituto PENSI, que também fizeram doações durante a pandemia. A ideia do presidente da FJLES é procurar e encontrar o Brasil que dá certo, em que não seja mais preciso ver imagens como a de um menino procurando comida em um lixão.

Ele concluiu ressaltando que a filantropia é um dos valores da FJLES. “A filantropia e o terceiro setor não resolverão os problemas sociais ou da ciência no Brasil, mas, juntamente com uma sociedade civil forte, com uma estrutura institucional igualmente forte — e isso está em risco nas próximas eleições —, poderão ser parte da solução. Um país melhor inicia com uma sociedade saudável, e para isso acreditamos que devemos começar por uma infância saudável.”

Por Rede Galápagos

Foto: Agliberto Lima

 

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